Temos os Ricardos Salgados que merecemos

Ricardo Salgado é a ilustração perfeita da casta de parasitas que o sistema capitalista criou em Portugal. Uma casta que abusa tanto quanto lhe permite a regulação, fraca ou inexistente, combinada com uma classe política tendencialmente servil e corrupta, como aquela que PS e PSD nos vêm oferecendo há 40 e pico anos, juntamente com uma justiça ineficiente, não por falta de competência dos seus operacionais, mas por manifesta falta de recursos para bater de frente contra o milhões que os Salgados nos sacam para pagar os melhores advogados, dos melhores escritórios, quase sempre em Lisboa, inevitavelmente ligados a PSD e PS, todos juntos a rodar na porta giratória. Bancos, escritórios de advogados, uma série de empresas e empresários que empreendem através da aquisição de deputados e autarcas, e um bloco central de moços de recados que ninguém escrutina nem quer escrutinar. Porque não têm como, porque não têm tempo, porque não têm recursos, porque têm medo, porque foram comprados, porque são idiotas úteis. Não há volta a dar: ou percebemos, de uma vez por todas, que isto só lá vai com uma sociedade civil educada, informada, mobilizada e organizada para combater este lamaçal, capaz de regular devidamente o sistema, ou ver Salgado na Sardenha de férias, depois de há duas ou três semanas não ter comparecido no tribunal devido à sua saúde debilitada, será o menor dos insultos a que seremos sujeitos. Pior: será um insulto merecido. Uma sociedade que se permite ser roubada e enganada de forma tão descarada, está mesmo a pedi-las.

Comments

  1. estevesayres says:

    Nem mais…

  2. Filipe Bastos says:

    Muito bem. Mas se ter uma “sociedade civil educada, informada, mobilizada e organizada” é já de si uma quimera, que poderá tal sociedade fazer nesta partidocracia?

    Todas as leis e todas as decisões continuarão a cargo da “classe política tendencialmente servil e corrupta”. Qual a diferença?

    Não estou a tirar razão ao João Mendes; o caminho é informar e mobilizar. Só que: 1) isso leva décadas; 2) há poderosa propaganda em sentido contrário; 3) há carneirismo e apatia; 4) quaisquer avanços podem ser bloqueados pela classe política.

    Sem acções mais imediatas e… robustas, qualquer mudança será longínqua e duvidosa, para não dizer improvável. E sem forçar uma democracia menos controlada pelos políticos, forçosamente mais directa, será mais que improvável – será impossível.

  3. Filipe Bastos says:

    Nada a ver: bom artigo do Hoffbauer no Observador. O miúdo tem jeito, é pena não escrever mais no Aventar.

    https://observador.pt/opiniao/o-testemunho-de-um-ex-negacionista/

    Claro que os histéricos covideiros não vão gostar tanto… o Paulo Marques logo explicará como o covid é pior que a peste negra.

    • POIS! says:

      Pois mas…

      Está publicado num jornal sustentado por mamões e dirigido por um chuleco.

      E não sabemos quais as propinas pagas áquela fauna de comentadeiros conserveiros.

      Se a isto juntarmos algum apartamento em nome do autor, está tudo lixado!

      PS (é mesmo post scriptum, como diziam os vizigodos. nada de confusões!):

      Não em que clube joga o COVIDE, mas treinadores de bancada não lhe faltam! É uma farturinha desgraçada!

      • POIS! says:

        O início do último parágrafo é: “não sei em que clube (…)”

  4. JgMenos says:

    Enquanto que para ter um sistema político corrupto basta espalhar a crença de que todos os políticos são corruptos, para um sistema empresarial corrupto é preciso ter políticos corruptos com suas leis corrompidas.

    Subjaz a esta asserção o princípio de que se a ética só requer a mobilização dos espíritos a economia faz-se com leis e regulamentos que respeitem os processos pelos quais a economia funciona.

    Quando a esquerdalhada que, para além de dívida sobre o futuro, só se alimenta da economia privada, logo desrespeita com suas invectivas e leis idiotas, acaba gerando a sua corrupção.
    Um exemplo?
    Desde que vá pagando salários toda a empresa descapitalizada pode empestar o mercado de dívidas.
    Se todo o gestor tivesse pena de prisão, caso não denunciasse em tempo, ter perdido ou estar em risco de perder o capital sob sua administração, não haveria surpresas.
    Mas logo a cambada se lembra dos despedimentos, e deixa alastrar o cancro…

    A propósito: a TAP vai custar mais que o BES!

    • Paulo Marques says:

      Ou que não haja regulação ou fiscalização, dado o “peso do estado”, e o capital faça o que lhe apetece. Afinal, sobre CUMEX, Greesnil, Softbank, Deutsche Bank e quejandos nunca tem nada a dizer, porque “só em Portugal” dá um jeitaço para não perder ordenado.

  5. Paulo Marques says:

    Já basta a OMS, o CDC, a DGS e o governo a fazerem confusões, não, não gosto de betinhos a dizerem que é preciso é deixar o capital trabalhar para continuar a produzir bananas, perdão, pastéis de nata e cerveja barata. Mas, claro, é preciso que nunca o diga em voz alta, para não dar o jogo.
    Tal como o Filipe, que fala tanto de peritos com que a população concorde, mas quando tem ampla concordância com estes durante a pandemia, já faz de conta que não é nada com ele. Coincide com o esquerdista que nunca é a favor de nenhum trabalhador.

  6. Paulo Marques says:

    Estou-me um pouco a borrifar para Salgado, já lá não está. O que me interessa é como é que se impede que se repitam as aldrabices, com mais ou menos semelhanças. E isso ou nada se altera, ou, pior, cada vez menos temos poder para o fazer.
    Ou adaptando um diálogo falso que anda sempre por aí, não me interessa acabar com os ricos, interessa-me o que podem fazer com o capital e o poder que têm.

    • Filipe Bastos says:

      Melhor ou pior, concordando ou não, creio que todos já sabem mais ou menos o que quero:
      — uma democracia mais directa;
      — tirar poder e impunidade à canalha pulhítica;
      — maior controlo sobre pulhíticos e mamões;
      — impor limites ao lucro e à riqueza;
      — etc. e tal.

      V. pode, por obséquio, resumir o que quer? Em português claro e escorreito, sem referências oblíquas a temas que apenas são familiares a si, sem arrazoados e diatribes esfíngicas que requerem dotes de telepata ou adivinho?

      • Paulo Marques says:

        A questão é só que isso nem aparece do nada, nem por si resolve nada sem mudar a mentalidade de que quando os outros ganham, eu perco, que de tão entranhado poucos se apercebem da essência do sistema politico-económico.
        O que quero é que se governe para quem trabalha e crie riqueza, seguindo o princípio de cada um pelo que pode dar, a cada um o que precisa; o que daí advém é deixar de acreditar em propriedades do mercado baseado em indicadores que nada de útil medem, acreditando que mudarão para outro valor que 1) não conseguem prever com exactidão nenhuma, porque não há actores racionais plenamente informados, ou com poder idêntico; 2) não têm o impacto previsto na vida das pessoas. E sem os eleitores perceberem isto, que só pode surgir de movimentos de base, ficam sempre agarrados a proteger o que é seu em momentos de crise que o capitalismo nos fornece agora a cada 10 anos.
        O que o Filipe lista é necessário, mas não suficiente, porque vai sendo experimentado aqui e ali sem grandes resultados, é tudo contornado como se fossem regulações financeiras. E, num país com o nível de soberania decrescente, vai-se sempre tentar importar as soluções externas, sem perceber que as elites estrangeiras que as vendem são as que ficam com os quinhões, quanto muito porquê, e voltamos a discutir porque é que uns têm mais e não porque é que todos não temos suficiente. O que vale é que não tenho competências de expressão, senão seria um xuleco a não fazer nada tentando convencer a populaça que não adianta mudar só o papel de parede se o povo não quer saber um do outro, até porque raros são os que têm escolha no seu lugar na hierarquia económica. Trabalho é trabalho, não é culpa de quem trabalha de uns serem sobrevalorizados e outros subvalorizados, quando somos impregnados desde criança com medo de que tudo desapareça por culpa própria.

      • Filipe Bastos says:

        O que quero é que se governe para quem trabalha e crie riqueza, seguindo o princípio de cada um pelo que pode dar, a cada um o que precisa

        Soa bem, mas é discutível o que significa, no sistema actual, ‘criar riqueza’. E as suas soluções parecem meros remendos keynesianos, que não mudam o Estado e quem nele manda.

        É por isso que consegue, sem se rir e sem vomitar, defender pulhas como o 44: fica tão embevecido com o ‘investimento público’, leia-se, estouranço criminoso para encher pulhíticos e mamões, que louva qualquer mafioso que o faça.

        Concordamos sobre os absurdos do sistema monetário e do ‘mercado’, mas não sobre o resto; nem sobre a wokice que parece obcecá-lo. É também absurda – e contraproducente.

        A questão nº 1, a base de tudo é a igualdade. Ou melhor, a falta dela. Enquanto a exploração e a desigualdade extrema forem permitidas, nada de essencial pode mudar.

        Sim, é um jogo de soma zero. Não, ninguém pode ter tanto mais que os outros. Como diz a giraça Mortágua, é preciso ir buscar o dinheiro onde ele está. Onde havia de ser?

        • Paulo Marques says:

          Tem razão, não é criar riqueza, é produzir bens e serviços, que não é a mesma coisa, nem implica a mesma coisa; pode ser dar assistência ao vizinho. Não muda, mas diz como “se paga”, para não se dizer coisas como “é um jogo de soma zero”, quando esta é amplamente variável, e nem sequer pode ter fórmula para medir.
          Porque depois vai procurar igualdade quando não passa um segundo em pensar no que tem como garantido e outros não, como se a vida fosse medida numa escala de dimensão única do 0 ao valor do PIB e mais nada conte.
          E mesmo o dinheiro… o que é o dinheiro, exactamente? Só o BCE tem 3 medidas do mesmo que dizem coisas diferentes, e continua-se sem perceber a relação com os recursos. Está preocupado com a pontuação do jogo ou com a vida das pessoas? Se acha que a diferença é um remendo, parabéns, és neoliberal e não consegues abstrair-te.

        • Filipe Bastos says:

          … o que é o dinheiro, exactamente?

          Um meio de troca. E é tudo que deve ser.

          Não o preocupa ‘a pontuação do jogo’? Neste mundo é o que importa. Só um inconsciente ou um esquerdista caviar, passe a redundância, pode não dar por isso.

          Um índio na Amazónia ou um eremita na Sibéria poderá dizer que o dinheiro lhe é indiferente. Para o resto, o dinheiro que tem ou não impacta toda a sua vida.

          A sua infância e adolescência, a casa e o bairro onde vive, os amigos que tem, o que come e o que veste, o acesso a saúde e a educação, o acesso a cultura e viagens.

          Depois, o que fará todos os dias até à reforma. Depois, o que fará todos os dias após a reforma. Até o seu funeral, até o que deixa aos descendentes, se os tiver.

          O dinheiro é a vida das pessoas, homem. Sempre o foi. E é esse um dos nossos problemas. Acorde.

          • Paulo Marques says:

            É um meio de troca, mas é também uma contagem de direito a coisas reais, em cima do qual se podem pôr regras, atrasos, e limites que reduzam as possibilidades de conversão para que o que enumera seja distribuído e não politizado. É nesse sentido que a pontuação em si não é relevante, tal como a dívida, o défice, o PIB e por aí fora; são tudo indicadores cuja ligação a coisas reais é mais distante do que é vendido, e a dissociação já era quase um facto antes de o ser (fim do padrão ouro, seguido de vários acordos internacionais para manter a artificialidade que levam a “desvalorizações internas”, ou seja, desemprego para baixar salários).
            E o problema da esquerda é andar a discutir o que é mais eficiente aceitando uma equivalência entre dinheiro, riqueza, e recursos, como se haja mais riqueza em ter iPhones do que emprego, casa e saúde. Por outro lado, também há verdade na teoria do emburguesamento da classe média em querer competir com o vizinho em tralha, borrifando-se para trabalho com menos prestígio, pelo que volta sempre tudo ao mesmo. Pelo menos sem músculo, o que também não é ideal, e se calhar nunca vamos sair disto.

  7. POIS! says:

    Pois, e como poderia não ser de outro modo, se até a própria família Salgado acabou por ter “o Salgado que merece”?

    O falecido PQP chegou a dizer em tribunal que o Ricardo Salgado nem as irmãs protegia.

    E que, coitadas, passavam a noite a fazer bolos para vender nos hotéis.

    Ficámos então a conhecer mais uma ironia da vida: afinal as manas Salgado tinham de ganhar a vida a vender…doces!

  8. A teoria de que somos todos culpados é óptima para desresponsabilizar os verdadeiros fautores dos saques e a respectiva casta de anexos e serventuários.
    Alguns dizem que o povo não quer saber. Eu acho que o povo sabe muitíssimo bem não estar na sua mão alterar seja o que for em seu benefício porque tem consciência de que as saídas estão quase todas armadilhadas e os grupos dominantes bem entrincheirados no ataque ao pote.
    Eu não sei muitas coisas, é verdade, mas sei algumas: se dividirmos os 200.000 M que os tugas já despejaram no poço sem fundo a que eufemisticamente chamam banca privada, pelos 10M de habitantes do rectângulo e apenas distribuíssemos 10% disso, cada tuga ainda ficava com 2M.
    Acabava a fome, as carências, a economia ficava dinamizada de um dia para o outro, etc.
    Atão para que servem os bancos? Para “ajudar” a economia, dirão os alinhados com o sistema. Mas sabem que percentagem do dinheiro movimentado pela banca entra na economia real?
    Hehehe! Eu queria acreditar….

    • Paulo Marques says:

      Os bancos no sistema económico servem para guardar poupanças e emprestar a investidores. Como isto não rende muito, e os torna menos dinâmicos, e, claro, podem movimentar muito capital, acha-se bem que joguem no casino com a mesma conta, o que eventualmente corre mal. Mas não há problema com a primeira parte, e não precisam de estar ligadas; aliás, não deviam, e assim também podiam falir porque sabia-se exactamente o que era preciso repor nas poupanças sem adivinhar o impacto em várias camadas de derivados.

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