Portugal não é a Hungria

Sinto a minha inteligência insultada, verdadeiramente insultada, sempre que me tentam vender a narrativa da imprensa nacional no bolso de Costa, ou dependente das suas ordens, ou condicionada na sua actividade pelos humores do Partido Socialista. Bem sei que o poder, aqui como em qualquer lado, tem algum ascendente sobre algumas redacções, e Portugal não é excepção, mas basta olhar para quem manda nos jornais, rádios e televisões, analisar para que lado do espectro pende a maioria dos cronistas, perceber o fosso que existe, nas TVs, entre a quantidade de comentadores afectos aos partidos de esquerda e aos partidos de direita (com os casos gritantes de CDS e PCP, o primeiro por ter uma presença largamente superior à sua representatividade, o segundo por praticamente não existir, apesar de ser a quarta força no Parlamento e a terceira ao nível autárquico), entre outros aspectos – cuja enumeração exaustiva não pretendo fazer, por não ser disso que se trata esta pequena posta – para perceber o que realmente se passa neste país.

Na Hungria, casa de um regime de extrema-direita, carinhosa e eufemisticamente apelidado de “iliberal”, a imprensa que se mete com Orbán leva. Mas leva mesmo, não é como aqui. Até porque se Portugal fosse igual à Hungria, jornais como o Observador, o Nascer do Sol, o I, o Correio da Manhã, o ECO, O Novo, a Sábado, a TVI e a CMTV já teriam sido suspensos, alvos de uma aquisição hostil e visto o seu trabalho condicionado a ponto de se tornar insustentável e impraticável. E o José Rodrigues dos Santos já não apresentava telejornais na RTP. Porque é exactamente isto que acontece aos OCS e jornalistas que ousam afrontar Viktor Orbán e o seu regime. E o caso do Magyar Hang (semanário húngaro que resulta da coragem dos saneados do histórico Magyar Nemzet), cercado, ameaçado e permanentemente atacado, nas habituais circunstâncias que caracterizam a Hungria neofascista, motivo pelo qual tem que ser impresso na Eslováquia, porque nenhuma gráfica arrisca uma guerra com Orbán por imprimir um jornal que não ajoelha perante o regime, é o exemplo perfeito do que lá se passa.

Orbán, recorde-se, é um dos grandes faróis do Chega de André Ventura. Tem laços estreitos com o Kremlin, promove actualmente uma perseguição legal e cultural contra a comunidade LGBT, proibindo conteúdos e cancelando séries e filmes que, defende o regime, fazem a apologia da homossexualidade, persegue e hostiliza a imprensa não-alinhada e tem dados passos de gigante no sentido de obliterar a separação de poderes, como sucessivas tentativas de capturar o poder judicial. Situação não muito diferente daquela que existe actualmente na Polónia. E a União Europeia pouco ou nada tem feito para conter Orbán, que, até há pouco tempo, fazia parte do PPE. Honra seja feita a Mark Rutte, PM holandês, que defendeu, abertamente, que o acesso a fundos europeus deve estar vinculado ao respeito pelos direitos humanos e pelo Estado de Direito. E o caminho, a meu ver, deve ser este. Se continuamos a tolerar esta gente, qualquer dia acordamos com um boy de Putin na Comissão Europeia.

Comments

  1. Alexandre Barreira says:

    ……..a sorte é que…a “boyada” europeia….já não é…o que era…..!!!

  2. Ah…e os boys-submarinos americasnos infiltrados na UE? Com esses tá tudo na maior, né?????

  3. Paulo Marques says:

    Eu não sinto a inteligência insultada, sinto que, com tão descarada e orgulhosa falta de uso do cérebro, o que as pessoas gostam é de soluções fáceis de vingança que nem chegam ao nível de erradas, tal o falhanço no alvo.

  4. Filipe Bastos says:

    Inteligência insultada, diz o Mendes. ‘Soluções fáceis de vingança’, diz o Marques no paulo-marquês habitual.

    E no entanto, só um xuxa pode negar que o Costa sempre teve ‘boa imprensa’; ou que hoje a tem quase toda no bolso. O pulha sempre passou entre os pingos da chuva: nas escutas da Casa Pia, na máfia do 44, nos contentores, em Tancos, em Pedrógão, em tudo.

    Sim, a larga maioria dos comentadeiros é de direita. Curiosamente, não é só por imposição dos mamões que mandam nos media: a carneirada até gosta do Prof. Martelo, do anão Mendes, do chulão Júdice, da D. Portas… ou então aprendeu a gostar.

    Mas os comentadeiros não são toda a imprensa; e grande parte desta é pelo menos simpática à esquerda, sobretudo ao BE, e profundamente favorável ao Partido Sucateiro.

    E isto nada tem a ver com Órbans, Putins ou Trampas. Os media limitam-se a servir o dono do país. O PS é o dono do país. Abaixo dos mamões, claro, mas ainda assim com a mão no pote.

    • Paulo Marques says:

      Em tudo e mais alguma coisa, fogueira com ele. Continua a ser um carneiro a falhar o alvo, se não estivesse ele estaria lá outro a ser elogiado pela imprensa quando satisfaz os donos da coisa e protege os privilégios dos tudólogos a vender a sua consultadoria e acesso ao poder. Mesmo que conseguisse provar alguma coisa.

    • Filipe Bastos says:

      se não estivesse ele estaria lá outro…

      A sua cantilena habitual sobre a classe política, sobretudo a do PS, é que são uns heróis que se “chegam à frente”, gente altruísta sem a qual nada funcionava. Que sorte a nossa sacrificarem-se a andar de Mercedes com motorista e a mamar belos tachos.

      Hoje, porém, o Costa é um mero fantoche. Certo.

      Só que Passos era também um fantoche; um lacaio de mamões; e não andava nas palminhas da imprensa. Pelo contrário, todos os dias esta nos pintava o fim do mundo, pessoas a partir, falências, lágrimas e ranger de dentes. Tudo estava mal.

      Foi preciso vir Costa para, na imprensa, tudo estar bem: acabou logo o choradinho. Mesmo tendo a mesmíssima ‘austeridade’ redentora, salvo umas benesses à FP, o Costa e sua Gerimbosta nunca receberam o (justo) opróbrio da PAF.

      Curioso, né, Marques? Porque será?

      • Paulo Marques says:

        Epá, já sabíamos que o sans-culotte não lê, agora ficamos a saber que nem jornais e que a memória é de peixinho.
        Mas quanto a “pessoas a partir, falências, lágrimas e ranger de dentes”, que raio achas que acontece quando o estado deixa de financiar a economia? Minha nossa. Compra uma calculadora, ao menos.

  5. JgMenos says:

    Sempre desconfio que num país em que toda a merda é tolerada, tudo o que seja definição de limites aparece como ofensa maior,

    • POIS! says:

      Pois, pelo Menos, o próprio reconhece…

      Que vive num país que o tem tolerado.

      Nisso, pelo Menos, não parece mal agradecido.

      • JgMenos says:

        Pelo menos não é ridículo o que dizes, o que é honrosa excepção.

      • Tuga says:

        O Menos é bem tratado pelo “inimigo”, mas é cão que morde em quem o trata bem.

        • Maria Alzira says:

          Se não morde, ladra muito. E cão que ladra não morde.
          E um pobre diabo inofensivo.
          Cuidado é com os liberocas

          • JgMenos says:

            Alzira, há que tempo não ladravas!
            O teu béu-béu sempre me encanta.

          • Maria Alzira says:

            Contabilista minorca

            Ficaste ofendido por eu dizer que és um pobre diabo inofensivo ?
            E que de facto ladras muito.

          • Paulo Marques says:

            Está a ser injusta, os mais de 10 anos de propaganda do Cruz na blogosfera fizeram muito mais dano do que qualquer liberal, que nem eles se lembram do que disseram no dia anterior.

  6. Mikas Mitolas says:

    Esta comparação, incorrecta, só o é na medida em que o poder judicial já foi também captado pelo Governo, senão na sua totalidade, pelo menos no que diz respeito ao Ministério público… Quanto ao mais, é incomparável, porque em Portugal existe um Pacto de Regime, e os partidos de “direita” são na verdade de esquerda… a facilidade com que alinham em tudo o que seja Covid Fraudemics, ideologias de genéro e tudo quanto a esquerda mande é disso prova. As televisões não precisam andar às ordens do Governo quando obedecem directamente a Bilderberg e à Companhia, o governo, de direita ou esquerda, neste país nunca se levanta contra nada que venha lá de cima… E na Hungria tb não, apenas o deixam recusar a loucura de genéro porque, para já, ainda há essa margem de manobra meramente “estilistica”… qualquer dia, também a Hungria vai ter de se “adaptar”, quando isso acontecer lembre-se deste aviso!

    • Paulo Marques says:

      A incompetência do ministério público dedicado à escrita de livros é um plano secreto, pá. Já avisamos os serviços secretos para te suicidarem; tens preferências?
      É uma loucura que se borrifem para a vida dos outros, quando nem da própria saúde são capazes de tratar – física e mental.

    • British says:

      Heil Hitler madame

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