As alternativas a António Costa são estas? Então a culpa é do socialismo.

Aplicada a machadada final no que restava da Geringonça, da qual o BE já havia debandado ao chumbar o Orçamento do Estado para 2021, os partidos à direita deram início às celebrações, que, de resto, já haviam começado com a vitória de Carlos Moedas em Lisboa, que muitos consideraram ser o ponto de viragem e o acontecimento que marcava o início do fim da hegemonia do PS. E talvez o seja, a ver vamos.

Contudo, que direita se propõe governar o país? Um PSD entregue a uma guerra interna, mal cheirou a poder, com Paulo Rangel a liderar a rebelião, o mesmo Paulo Rangel que, não há muito tempo, afirmava, convictamente, que Rui Rio seria o próximo primeiro-ministro de Portugal, e expressava todo o seu apoio ao ainda líder do PSD, para no final da passada semana protagonizar uma espectáculo de facas longas em Belém, com um Marcelo que, no processo orçamental, falhou em toda a linha? Um CDS que, perante a crise à esquerda, decidiu ter o seu momento “hold my beer” e entrou em processo de autodestruição, com uma debandada geral da inteligentsia portista? Um CH cada vez mais extremista, que, só nestes últimos dias, teve o seu dono a insurgiu-se contra a expressão “Fascismo Nunca Mais”, um vice-presidente a fazer um ataque misógino e ordinário a uma deputada e outro a atacar jornalistas, acusando-os de serem “o tumor maligno da democracia”? Uma IL irrelevante, que está para o PSD como o Bloco está para o PS? O que têm estes partidos, no presente momento, para oferecer? Pouco ou nada, parece-me.

Entretanto, no Largo do Rato, António Costa sorri e debate, internamente, dois cenários: ganhar com maioria absoluta ou ganhar sem maioria. Se o primeiro se verificar, algo que me parece pouco provável, pouco haverá a dizer. Caso ganhe sem maioria, importa saber o que restará das pontes que uniam o PS aos partidos de esquerda, e se ainda será possível reconstruí-las. Seja qual for o cenário, tudo indica que o poder continuará do lado esquerdo do espectro. A direita está demasiadamente ocupada consigo própria, e com quem decidirá a formação das listas de deputados para as próximas Legislativas, para discutir o país e apresentar uma alternativa credível. Mas o responsável pelo buraco em que se enfiou, seguramente, há-de ter sido o socialismo.

Comments

  1. Paulo Marques says:

    O exílio político para fora da zona de conforto não foi culpa do Cabrita? Checkmate, socialists!

  2. Luís Lavoura says:

    Uma IL irrelevante

    A ver vamos se é irrelevante ou não. Há projeções que na próxima Assembleia da República a IL poderá ter tantos deputados (cerca de 8) como a CDU ou como o BE. Não sei se terá ou não, mas acho que o João Mendes deveria aguardar antes de classificar a IL de irrelevante.

  3. Luís Lavoura says:

    importa saber o que restará das pontes que uniam o PS aos partidos de esquerda, e se ainda será possível reconstruí-las

    Não será possível, porque tanto o BE como o PCP já chegaram à firme conclusão que é impopular junto dos seus eleitorados coligarem-se com o PS. Nenhum desses partidos está interessado em voltar a coligar-se com o PS, a não ser em troca de um preço demasiadamente elevado. Foi isso o que se viu na negociação do orçamento de 2022.

  4. O João considera, à boa maneira salazarista (ai o comunismo!) que o socialismo (assim e em abstrato) é que tem a culpa da crise. Logo, depreende-se, embora não o afirme convictamente, que o Costinha seria um verdadeiro socialista e portanto, defensor da nacionalização da banca e das empresas estratégicas, saída da NATO, etc.
    Estes bitaites equivocados servem a quem???
    Outros culpam o PCP por exigir demasiado. SE o PCP é culpado e é, não é tanto por isso, mas sobretudo pq fiel à sua cassette, recusou sempre entendimentos seja com quem for, inclusive com o BE, mesmo nas mais idílicas circunstâncias de ambos apoiarem o mesmo governo. Como aceitar que BE e PCP apoiem um governo e sequer se sentem a uma mesa a discutir as modalidades desse apoio???
    Quando fiz essa pergunta a uma camarada deputada, ela respondeu simplesmente: não há reuniões entre os dois partidos pq não é preciso.
    E prontos! É uma artista tuga e usa o slogan: “cada um na sua bicicleta”.

  5. Victor Nogueira says:

    A mim o que me parece é que, embora possam ser ambíguos, o título e a conclusão são irónicos e não para serem tomados á letra.

  6. Escatota Biribó says:

    E os mercados?

    • Paulo Marques says:

      São para a Lagarde controlar, se continuar para aí virada.

  7. Tuga says:

    Vi esta noticia na RTP. mas não tenho a certeza se li bem.

    https://www.rtp.pt/noticias/politica/psd-rangel-acusa-rui-rio-de-tentar-condicionar-presidente-da-republica_v1360648

    Há lata para tudo

  8. JgMenos says:

    Direita/ esquerda já está muito confuso.
    Anti-socialismo por um lado, e tudo o mais, desde o sim ao nim, por outro, é o que faz sentido.

    Estou farto do primado da mama!

    • Filipe Bastos says:

      Estou farto do primado da mama!

      Apoiado: é mais que tempo de acabar com a mama da Banca, dos ‘mercados’, dos bilionários e offshores. Bem visto, Jg.

    • POIS! says:

      Pois a culpa será de V. Exa.

      Os excessos de consumo desenfreado dão sempre em fartura!

    • JgMenos says:

      O primado da mama define-se pelo enfoque no que obter sem cuidar do que fazer que crie o valor correspondente.

      Os que o adoptam, sabem bem o que significa, mas sempre espumam de raiva perante os que criam o valor que mamam; e não raro se dizem injustiçados, os manhosos.

      • POIS! says:

        Pois claro!

        V. Exa. revela-se uma verdadeira autoridade no assunto. Ou não fosse o notável autor da seminal obra “Teoria Geral da Mama – Uma Introdução”, seguida do não menos importante “Teoria Geral da Mama – Volume 2” a que se seguirá a já anunciada “A Mama Através dos Tempos – Uma Abordagem Salazaresca”..

        E ficamos então inteirados que que V. Exa., afinal, só consome para, pelo Menos, causar inveja. Mas já aprendeu a triste lição: a fartura causa sempre uma sensação de empanturramento que é, pelo Menos, difícil de tratar.

        E nem 10 “Alka Seltzers”, por vezes, resolvem o assunto.

      • Paulo Marques says:

        O valor que criam no Panamá, por muito que pague a comida ao Cruz, é nos indiferente, sim.

    • Filipe Bastos says:

      O primado da mama define-se pelo enfoque no que obter sem cuidar do que fazer que crie o valor correspondente.

      Outra vez carregado de razão, Jg.

      É ver as ‘engenharias financeiras’ da Banca, a especulação do casino financeiro, o rentismo do imobiliário, todos os biliões criados do ar por este sistema obsceno e insustentável.

      Num mundo onde (só) se enriquece a herdar, a especular, a chular ou a explorar outrém, onde se ganha mil vezes mais a ‘investir’ que a produzir, o conceito de ‘criar valor’ é absurdo.

      A sua conclusão, embora posta noutras palavras, é também acertada: por trás de uma grande fortuna há não só um crime, como um sistema iníquo que permite e fomenta tal crime.

      • JgMenos says:

        Se o ´criar valor’ é absurdo, tudo o mais que refuta passa a fazer sentido.
        Para tudo ficar ainda mais no lixo só faltaria enunciar aquele estúpido lema da igualdade.

        E jvai daí, com as heranças, a família que seja extinta e tudo venha da proveta anónima, numa lotaria de alfas, betas e gamas, as classes por planeamento central (sempre é preciso alguém para limpar as fossas…).

        • POIS! says:

          Pois é! Ele há cada um!

          Não havendo heranças, porque razão havia de existir família? Não é aquele comovente momento das partilhas que dá sentido à existência humana?

          Só há uma saída! Temos que continuar a manter a herança a funcionar, custe o que custar! Nem que seja necessário pôr as próprias heranças a fazer testamento a favor umas das outras!

          Quanto à reprodução humana, o projeto JgMenos faz sentido e é exequível. Proponho até que fique a cargo da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, que tem vasta experiência de sorteios.

          Com um bocado de sorte, ao Menos, talvez ainda calhe um menino.

        • Paulo Marques says:

          O menos prefere as classes por eugenia, a gente sabe.

      • Filipe Bastos says:

        Para tudo ficar ainda mais no lixo só faltaria enunciar aquele estúpido lema da igualdade.

        Sem dúvida, Jg: é mesmo estúpido o pobre que julga ser igual ao rico. Basta ver o que acontece a qualquer pilha-galinhas e o que acontece ao Oliveira e Costa, ao Salgado ou ao Rendeiro. Ou o acesso de mamões e privilegiados à melhor educação, saúde, tudo.

        Ainda mais estúpido é o carneiro, geralmente de direita, que julga que trabalhando muito será rico; ou que os ricos trabalharam muito para o ser.

        Como o Jg bem sugere no seu estilo sarcástico e low-key, a maior hipocrisia da direita é falar em trabalho e mérito quando defende heranças e mama em roda livre. Jamais alguém honesto enriqueceu a trabalhar.

        • JgMenos says:

          É por essa crença que tanta gente derrete dinheiro no totoqualquer-coisa, lotarias e naquelas rifas que há por todo o lado.
          Todos a pensar que justo mesmo é que fosse o Estado a herdar.

          Mas o corretês esuqerdalho só lhe falta a ditadura que o imponha.

          • Paulo Marques says:

            Pois é, deviam derreter em cripto, NFTs e tulipas, a bem da economia.

  9. estevesayres says:

    Costa e os ingénuos

    O orçamento do Estado burguês está chumbado. Tudo indica que terão lugar eleições legislativas no início de 2022, convocadas após a anunciada dissolução da assembleia da república.

    B”E” e P”C”P apontaram em uníssono a intransigência de Costa no decorrer das negociações com vista ao estabelecimento de um acordo entre os três partidos, para aprovação do OE.

    Analisando as propostas elencadas pelas, até agora, convictas muletas do PS, como contrapartidas para a aprovação do OE, nomeadamente as que dizem respeito às pensões de reforma e à reposição do quadro legal laboral pré-tróica, constata-se que, caso implementadas, iriam trazer algum magro alívio aos trabalhadores. O seu impacto orçamental seria, ainda assim, relativamente baixo ou mesmo nulo.

    Estas medidas não são novas. Fazem parte de um conjunto de exigências avançadas pelos reformistas parlamentares desde 2015, das quais o PS fez tábula rasa, sem que isso tenha, no entanto, impedido esses partidos de aprovarem, um após outro, seis orçamentos liberais do governo. Como já aqui tivemos oportunidade de referir, com ou sem estas “correcções”, o orçamento não iria dar resposta aos problemas mais urgentes e graves que afligem e afectam a classe operária e o proletariado que trabalha em Portugal.

    Temos, de todo o modo, que perguntar porque é que um PS ansioso pela aprovação do documento orçamental não transigiu, pelo menos parcialmente, em alguns dos pontos de negociação avançados pelos sociais-democratas e revisionistas. A resposta mais óbvia poderá ser a correcta. Costa congeminou maquiavelicamente este chumbo. O ambicioso social-liberal ao serviço da burguesia preparou com ardil a armadilha em que esta “esquerda” pequeno-burguesa caiu ingenuamente. O primeiro-ministro nada tem a perder. Fará uma campanha eleitoral em torno da vitimização e da suposta necessidade de assegurar uma maioria forte contra a “irresponsabilidade” de uma “esquerda inconsequente”, que põe em risco a execução orçamental e com ela a sagrada “recuperação económica” (dos lucros da burguesia). Se tal resultar e o PS alcançar uma maioria absoluta ou uma solução de acordo com o partido urbano pequeno-burguês PAN, munido da bazuca europeia, estará com a faca e o queijo na mão, podendo distribuir os seus milhares de milhões de euros por empresários, IPSSs, associações, fundações e quejanda clientela do seu partido, sem inconvenientes parlamentares e institucionais. Poderá ainda agitar o fantasma da direita – atemorizando sobretudo pensionistas e funcionários do Estado burguês – que só muito improvavelmente irá granjear uma maioria parlamentar, sendo muito mais crível que se dedique à autofagia, transferindo votos internamente, do PSD e CDS para a IL e o liberal-fascista Chega.

    Se a golpada falhar, Costa ficará na mesma posição em que anteriormente se encontrava – sujeito a negociar com B”E” e P”C”P, desta vez ainda mais fragilizados, porque punidos eleitoralmente pela sua incoerência.

    Há importantes lições a retirar do percurso que estes dois partidos vêm fazendo nas últimas duas décadas, que ditou a sua inevitável chegada a este ponto de desorientação táctica.

    Estes pequenos partidos com um projecto social-democrata, seja ele liberal-identitário ou de “democracia avançada”, não tendo ambições revolucionárias, em função do seu carácter de classe, só podem optar por ser forças políticas de protesto, criticando sob uma perspectiva reformista a gestão mais ou menos antipopular dos grandes partidos burgueses, votados ao nicho eleitoral da pequena burguesia radicalizada e de assalariados objectiva e subjectivamente iludidos com a conciliação de classes, ou, pelo contrário, pela assunção de um papel activo na gestão do capitalismo nacional, enquanto parceiros das grandes agremiações políticas burguesas.

    O Bloco de “Esquerda” é uma organização de base militante urbana, sem relevância no interior do país, sem implantação autárquica, desprovida de influência sindical e associativa, e de um projecto de apoio social consequente. A sua capacidade de mobilizar sectores operários e proletários sempre foi tremendamente limitada, embora tenha feito um esforço para cavalgar os protestos contra a tróica nos inícios da década passada.

    Já os “democratas avançados” do P”C”P têm sofrido uma inexorável erosão em todos estes referidos planos de enraizamento popular, estando hoje em dia praticamente limitados ao funcionalismo e sector empresarial do Estado no que ao sindicalismo concerne.

    Se até meados da década passada mantiveram uma toada de protesto, ainda que sempre partindo de uma abordagem democratista, oportunista e reformista, crescendo eleitoralmente à boleia da contestação popular ao “neoliberalismo” passista e à austeridade socrática, em 2015 integram a geringonça e, ao abrigo do acordo com o PS, desmobilizam qualquer iniciativa de luta concertada e assumem-se enquanto responsáveis gestores do Estado patronal e neutros árbitros dos conflitos entre as classes, no campo laboral, no caso da CGTP, como – sejamos justos – foi sempre, em regra, seu apanágio.

    Neste percurso B”E” e P”C”P foram perdendo militantes e eleitores que, não confiando nas instituições burguesas e vislumbrando, mais ou menos nitidamente, o carácter de classe do regime, apostavam, ao sabor de claudicações próprias das classes intermédias, nestas organizações para a construção de uma alternativa democrático-popular, na ausência de um poder proletário consolidado devida a uma incipiente organização da classe revolucionária e do seu Partido.

    Assim, chegamos a fins de 2021 com o reformismo institucional incapacitado em termos de actuação extraparlamentar e com a sua base social reduzida a sectores coincidentes com aqueles em que o P”S” tem maior tracção. Sectores sociais esses cujas expectativas políticas recaem na priorização da estabilidade governativa, na observância dos ditames da UE, na recuperação económica capitalista, na “paz social” e na conciliação das classes.

    A resposta a este quadro político-partidário de conluio imperialista, capitalista, burguês e pequeno-burguês, só pode ser uma – a organização e luta operária e proletária em torno dos seus interesses de classe, em todas as frentes e com todas as armas, pela construção de uma verdadeira alternativa comunista, capaz de acabar com as desigualdades, a exploração, a especulação e garantir a vida digna, a habitação, a saúde, a educação, o ócio, a prosperidade e o bem-estar colectivos, para todos.

    JC (Retirado do Jornal online Luta Popular) Ver menos

    • Paulo Marques says:

      Ufa, é melhor porem-se a pau se quiserem atingir a popularidade e poder do MRPP, que tanto conseguiu para os trabalhadores!

    • POIS! says:

      Pois acho…

      Que a parte mais interessante está no fim. Concretamente nas últimas duas palavras. São sublimes!

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