Longa vida ao SNS!

Em Fevereiro, na unidade de Alfena do Grupo Trofa Saúde, uma mulher caiu nas escadas rolantes do hospital, que lhe exigiu 600 euros para suturas e exames de RX e TAC. A mulher, que não podia pagar os avultados valores cobrados pelo hospital, teve que chamar uma ambulância e fazer os 11KM que separam a unidade privada do Hospital de São João.

Em Janeiro, descobrimos ontem, um homem deu entrada no Hospital Lusíadas de Lisboa, em situação crítica. Estava a ter um AVC. Perante a urgência do caso, que dispensa explicações adicionais, o hospital alegou estar cheio e recusou-se a tratar o homem, que teve que ir de táxi, enquanto estava o AVC acontecia, para o hospital de Santa Maria.

Não tenho, com estes dois exemplos, intenção de demonizar os hospitais privados. Apenas constatar o óbvio: que a saúde privada, neste e em qualquer outro país, é um negócio, que tem como finalidade prioritária o lucro e não o bem-estar do paciente. Trata-se, tão somente, de um segmento de negócio, que não tem sentimentos ou preocupações sociais para lá das estratégias de marketing. Não é bom nem é mau. É o que é: um negócio.

O Serviço Nacional de Saúde, com as suas falhas e erros a que não está imune, não joga na mesma liga que o sector privado. O seu propósito não é o lucro mas sim o bem-estar do paciente. Existe para prestar um serviço à população. A todos, em qualquer momento, perante qualquer problema, sem olhar às suas carteiras ou condição social. Atende o pobre, o rico, o novo, o velho, o constipado e o canceroso. Dentro das suas possibilidades e das condições que os governantes em funções lhes conferem.

O SNS é uma das grandes conquistas da democracia. Mas existe quem queira acabar com ele, como é o caso do Chega, que defendeu isso mesmo no programa eleitoral que apresentou às eleições de 2015, e que resultou na eleição de André Ventura. Outros partidos, como o IL, tem posições ambíguas, apesar de não exigirem, como a extrema-direita, a sua extinção. Da mesma forma, o sector mais liberal do PSD tem uma visão para o SNS que reduz a sua abrangência em detrimento do privado. Privado esse que tem alguns lobbistas sentados entre os 230 no hemiciclo. Mas a defesa do SNS não pode ser de esquerda ou de direita. Deve ser de todos os que defendem uma democracia mais próspera, ao serviço da população. Na Noruega, o sector público de saúde é tão eficiente que o privado é praticamente inexistente. O mesmo se passa na Suécia, Finlândia, Islândia e Dinamarca, onde o sector privado oscila entre o pequeno e o minúsculo. Talvez porque todos estes países, do alto da sua estupidez e atraso estrutural, já tenham percebido que é mais eficiente investir num serviço público e universal do que, como acontece por cá, continuar a subsidiar os barões do privado. Que comem tudo e não deixam nada.

Comments

  1. Filipe Bastos says:

    Para mim, os médicos e os responsáveis do hospital da Trofa e dos Lusíadas eram banidos da profissão. E já vão tarde.

    A saúde não é um negócio. Uma sociedade que a trata como tal é doente, obscena. A diferença entre receber ou não tratamento, entre sofrimento e qualidade de vida, entre a vida e a morte, não pode ser o lucro, a ‘eficiência’ ou a mama dos accionistas.

    Há tanta coisa que pode ser privada: tirar pêlos, pôr cabelos, limar unhas, aparar bigodes, tudo que seja estética e beleza. Não a saúde. A saúde privada é intolerável numa sociedade civilizada.

    E no entanto, a discussão – a Overton window de que se queixam os direitalhas – está tão encostada à direita que já nem se discute a existência da saúde privada. E assim se aceita o inaceitável.

    Depois falam de dinheiro. Se não há dinheiro inventa-se dinheiro. É o que fazem a Banca e os ‘mercados’ todos os dias.

    • Paulo Marques says:

      Só banidos? Era fuzilá-los logo por associação, bem como os clientes. Poupava-me a carteira, pelo menos.

  2. Xtremis says:

    Ah claro. O SNS sempre a pensar no bem estar do doente. Por isso é que tem aquelas salas confortáveis para as urgências (e onde se passa tão pouco tempo), ou por isso espera por vários doentes com a mesma necessidade, antes de abrir um pacote de material médico.

    Também deve ser a pensar no bem estar do doente que se põem os pacientes em macas no corredor, ou porque motivo nunca houve uma campanha de sensibilização à séria a informar as pessoas de que as urgências dos hospitais são para coisas sérias, não são para ir ver daquele resfriado. Basta ver os números de admissões nas urgências em vésperas de feriado, durante os fins de semana, ou nas segundas feiras para perceber que muitas deslocações não são urgentes.

    Naturalmente que o SNS tem os seus pontos positivos, mas colocar o SNS vs privados puramente no plano “lucro / não-lucro” é enganador. O que o SNS precisa é de gestão a sério, com pessoas que perceberam de gestão.

    • Rui Naldinho says:

      Mais um troll com um perfil falso, estilo JgMenos.
      Conversa da treta de quem não percebe a ponta dum corno daquilo que escreve.
      É claro que as urgências dos hospitais estão cheias. E estão cheias porque os Centros de Saúde não funcionam. Ou funcionam mal. Mas deviam funcionar bem. De forma exemplar, pois é aí que se faz a triagem entre o que é urgente e não urgente. Entre o que é de facto grave ou apenas uma indisposição. Não funcionam porque têm horários de encerramento às 20 horas, a maioria, isto à semana, que ao fim de semana fecham às 19horas. Mas isso ainda é o menos, apesar de já ser pouco funcional. Pior mesmo é a falta de pessoal, desde auxiliares a médicos de família. Ou falta de especialistas nalguns hospitais distritais, como anestesistas, por exemplo.
      Admitindo que um qualquer desgraçado tem uma diarreia monumental ao fim de semana, depois do jantar, só lhe resta ir a uma urgência hospitalar.
      Alguém vai para uma urgência hospitalar esperar 4 ou 5 horas, se pode ser atendido num Centro de Saúde ao fim de 30 minutos? Claro que não vai. Mas para isso tem de ter um médico.
      Ficou claro para todos nesta pandemia que o SNS está fraco e, não fosse o esforço generoso e abnegado dos seus profissionais, mais do que aquela treta propagandeada pelo governo da resiliência do sistema público de saúde, esta merda tinha sido um descalabro.
      Infelizmente somos governados por gente de pouca qualidade. Os actuais e os anteriores aos actuais. Os anteriores queriam e querem tudo privado como se a saúde fosse um negócio. E já agora, transformarem o SNS numa espécie de asilo para pobres. Já estes querem galinha gorda por pouco dinheiro, e pensam que os médicos se sujeitam a qualquer ordenado.
      Ambos, num permanente passa culpas, vão-se acusando de deixarem morrer o SNS, mas na hora da verdade são igualzinhos um ao outro.
      Ambos preferem aumentar ordenados a juizes ou a eles próprios, fabricar negócios ruinosos para o erário público, como aquelas rendas que andamos todos a pagar, ou dar borlas fiscais à EDP,… “tás a ver pá, assim merdas no género”, pois são esses que os ajudam a escapar da prisão, como aconteceu com o Rendeiro, ou no mínimo dão emprego aos filhos e enteados com9 aconteceu com a EDP e PT.
      O sector privado tem todo o direito a ganhar dinheiro, mas não com o dinheiro dos contribuintes.

    • Filipe Bastos says:

      …e pensam que os médicos se sujeitam a qualquer ordenado.

      Falou bem, Naldinho, mas convém não esquecer que nem todos os médicos são heróis ou mártires.

      Há também uma máfia médica que há décadas espreme o país em proveito próprio. A classe está cheia de mercenários. Em 2019 havia em Portugal 45.000 médicos; no SNS estavam menos de 29.000. O resto? A mamar à grande no privado.

      E muitos do SNS também lá mamam. Dão-se ao luxo de dizer que o governo ‘tem de motivá-los a ficar no SNS’. A lata desta cambada. Como se ser médico fosse uma profissão qualquer; como se fosse sequer aceitável haver alternativa ao SNS.

      Um médico deve ser bem pago – mediante o salário médio do país. E se a UE fosse um sítio decente, que não é, não permitia que se formassem cá para depois ir mamar noutros lados.

    • Paulo Marques says:

      Se calhar não devíamos ser um dos países com menor investimento público, especialmente durante a pandemia, e um dos países com menor número de funcionários públicos.
      Ou isso não era boa gestão?

  3. JgMenos says:

    «suturas e exames de RX e TAC»
    Standard SNS para tombos?

    Houve um tempo, no tempo do fascismo, em que se ia à farmácia pôr tintura e penso; mas fez-se o 25 de Abril e agora não só é de borla, como é exame completo!

    • POIS! says:

      Huumm..

      Pois…

      “Fascismo”? “25 de Abril”? Huuuumm…

      Nem “mama”, nem “treteiros”, nem “esquerdalhices”, nem exaltações colonial-salazarescas…

      Aqui há volfrâmio! Pelo Menos, não estou convencido…

    • Paulo Marques says:

      Em alguém que bate com a cabeça? Epá, é desta que começo a esmurrar nazis, é só levar o iodo e tá tudo ok.

  4. Luís Lavoura says:

    Parece-me claro que uma pessoa tanto pode ter uma queda num hospital como na rua ou noutro sítio qualquer. E como consequência da queda tanto pode ficar com uma ligeira escoriação como partir a anca. Nestas condições, parece-me claro que, lá por a pessoa dar a queda dentro de um hospital e lá por até nem ter sofrido muito com a queda, o hospital nada mais tem que fazer a não ser prestar-lhe o pronto-socorro, o qual é, de qualquer forma, uma obrigação de todo e qualquer cidadão.
    O hospital não pode ser responsabilizado por todo e qualquer acidente que aconteça nas suas instalações ou, já agora, na vizinhança delas.
    (O caso do Hospital Lusíadas é muito diferente.)

  5. JgMenos says:

    A cambada de mamões, treteiros repletos de esquerdalhices nos cornos, têm por principal objectivo inviabilizar o sector privado da saúde.
    A partir daí, tudo fazem para bloquear acordos e ‘contas certas’ com esse sector, começando por nunca dizerem quanto lhes custam os actos médicos no SNS.

    A partir daí, os coirões, esperam que quem apareça no privado seja tratado de borla?

    • POIS! says:

      Pois cá está! Vivaaaaa!

      Malta, é mesmo o Menos! Aqui não há volfrâmio!

      É pura salazarrasquice!

    • Paulo Marques says:

      Um terço dos gastos já são com privados. Não lhe chega?

  6. francis says:

    Como os privados são tão bons a gerir e a executar cuidados de saude, eu nunca percebi porque não abrem um Centro de Saude em cada freguesia, para assim prestarem boa assistência á população e tambem aumentarem a facturação e lucros. Como não o fazem, deduzo que seja uma area de negocio que não lhes interessa.

    • JgMenos says:

      Deduziste?
      Estou impressionado!

      Concluir que não é negócio concorrer com serviços à borla, não é para qualquer um.

      • POIS! says:

        Pois, pelo Menos, fiquei sem palavras!

        Que impressão impressionante!

        Que espanto espantoso!

        Que argúcia argumentativa! Que argumentação arguta! Que perspicácia perspicaz! Que sagaz sagacidade! Que clarividência clarividente! Que lúcida lucidez! Que visionária visão!

        Que concludente conclusão!

  7. Júlio Rolo Santos says:

    Sim, o que falta no SNS é liderança que saiba fazer uma boa distribuição dos recursos humanos, porque os há em qualidade e quantidade suficientes para darem vazão aos doentes que recorrem às urgências, verdadeiramente necessitados de assistência e, poderem correr com os que vão para ali fazerem sala e atrapalhar o serviço de assistência. É inadmissível o que se está a passar com os chefes de serviço a pedirem a demissão porque, dizem “não aguentarem a pressão”, será? Ou será que chegou a hora de admitirem a sua incompetência? Vão para o privado para verem o que é trabalhar, sim porque no público, o trabalho não os mata.

    • Paulo Marques says:

      Diz a experiência do Júlio em preencher tanta papelada a justificar custos invés de se poder dedicar ao trabalho, num sector com um número muito inferior à média. São preguiçosos, porque sim.

  8. Júlio Rolo Santos says:

    E no privado também não teem que preencher papelada? E veja se eles se queixam?

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