Era uma vez uma senhora que geria uma propriedade agrícola. Certo dia, um dos dois cavadores morreu e, para poupar dinheiro, a senhora decidiu que era melhor não contratar mais ninguém. O outro cavador ainda se queixou, mas lá foi fazendo o trabalho dele e o do falecido.
A senhora, um dia, sempre preocupada em poupar dinheiro, resolveu que a enxada do cavador era muito cara e substituiu-a por um modelo mais em conta. O cavador ainda disse que isto assim ia ser difícil, menina, se ao menos arranjasse mais um cavador, qualquer dia a terra não ia render.
A senhora, também do seu nariz, não quis saber, que a poupança era muita e o serviço ia aparecendo feito, um bocadinho menos bem feito, mas feito.
Certo dia, a enxada partiu-se e teve de ir para arranjar. O cavador recebeu instruções para ir cavando com o cabo, enquanto a enxada vai e vem, não folga o pau, disse a senhora, quase risonha. O cavador não se riu, mas lá foi cavando. A enxada nunca mais voltou. A qualidade do serviço decaiu um bocadinho, mas nunca pior, o óptimo é inimigo do suficiente.
Passado algum tempo, a senhora veio dizer que o cabo era preciso para outra coisa e entregou uma colher ao cavador. Quando este protestou, a senhora disse-lhe que ele até tinha muita sorte em não ser uma colher de café. O cavador deixou escapar algumas palavras que o decoro impede de transcrever e acrescentou que se ia embora e a senhora que cavasse ou o órgão sexual que a fecundasse, porque o cavador era calmo, mas uma pessoa não é como as enxadas, especialmente as de ferro.
A senhora mostrou-se ou ficou incomodada com a situação e disse a quem a quis ouvir, porque há pessoas sempre prontas a ouvir, que, da próxima, talvez fosse melhor escolher um cavador mais resiliente.
Genial.
Muito bom, Nabais.
Infelizmente, no actual caminho o 2º cavador não se vai embora: é a senhora a despedi-lo, pois passa a usar o UberDigs – uma app gratuita com milhares de cavadores que trazem a sua própria enxada, sem contrato e sem chatices.
Isto enquanto houver cavadores; o sonho da senhora é só ter máquinas e não pagar a ninguém. As máquinas não se queixam, não adoecem, não engravidam… o futuro é feliz.
Há senhoras assim…
Há sempre alguém que escreve aquilo que eu gosto…
Para os netos do Hitler, esse é o futuro ambicionado.
Malditos boches
Acredite que um verdadeiro britânico — e tenho muitos amigos britânicos — nunca diriam „malditos boches“ porque sabem que o Hitler era austríaco.
O exército não era britânico, presumo
https://www.alamy.com/winston-churchill-inspecting-a-heavy-artillery-weapon-known-as-the-boche-buster-june-1941-image267079475.html
Mas o cavador era um privilegiado preguiçoso a levar 4000€ por mês, ADSE, com horário de 35 horas e contracto sem termo que devia ter honra no seu trabalho.
Segundo consta para quem nunca o viu, claro.
Sim, o que mais há é cavadores a ganhar 4000€. É tal e qual como os médicos; tem tudo a ver.
V. anda muito sagaz e acertado, têm-lhe dito? Pergunte à sua esposa, ela confirma de certeza.
Se há alguém que diga que há cavadores a ganhar 5000 euros é porque é verdade.
Com ADSE e tudo, uns mamões.
Só não é verdade porque não veio no The Guardian ou no JMT. Lá chegarão à verdade.
E o cavador ainda tem sorte de a senhora não ser o Jeff Bezos para lhe dizer que, para as pessoas certas, trabalhar é super divertido.
Quem encomenda na Amazon já sabe com o que está a colaborar. https://twitter.com/i/status/1464172218146082838
Fazia bem a autora citar essa história verídica passada nos vários gulags soviéticos.
Ou o neoliberalismo a explorar tudo até o planeta dizer que não, ou os gulags; nada mais é possível.
Bem , Paulo, não seja injusto.
O barreiro tem autoridade na matéria. Sentiu na pele o que era um gulag!
Esteve lá? Não mas, quando era pequenino, a mãezinha mostrou-lhe o que era: fechou-o na casa de banho e apagou-lhe a luz.
Sim, porque a mãezinha do barreiro, além de consultora em matéria de ordem pública e bons costumes também é uma destacada pedagoga.
O autor deste post estará a sugerir que algum órgão sexual deveria fecundar alguma ministra?
What ?
Creio que foi Milton Friedman quem uma vez sugeriu aos chineses que pusessem os camponeses a cavar a terra usando colheres…
Coitado do fazedor de enxadas, colheres e demais instrumentos…
Será que a senhora era a avó beirã do Passos Coelho, beirões são conhecidos por serem austeros, mãos de vaca, e tão marrões que o óbvio é difícil….