Medições penianas ou a zona confortável do pensamento

créditos: o genial Susano Correia

O que mais me incomoda nas discussões que vejo, ouço, ou tenho, é a concepção de medição peniana que elas acabam por ganhar, a certa altura. Parece algo tão certo como a morte ou os impostos.

Digo medição peniana porque, como este acto, tem origem na fragilidade. Se os homens que são obcecados pelo seu tamanho revelam, quanto a mim, uma fragilidade na sua masculinidade, as pessoas que adoptam a mesma postura, a mesma estrutura de pensamento, noutro tipo de discussões, têm a mesma fragilidade nas suas convicções.
É comum vermos este tipo de acontecimento na discussão política. O meu partido é melhor do que o teu. Fala-se até da futebolização da política, porque sentimos que as discussões vêm de uma fragilidade emocional, própria da vivência futebolística da perspectiva do adepto. Quando puxamos da cartada “A é melhor que B”, sem qualquer tipo de justificação, só mesmo pela pura existência, então estamos perante uma convicção tão frágil quanto possivel.

Tudo isto me incomoda porque gostaria de viver num mundo em que, quando discutimos, nos despimos de convicções. Olhamos aquilo em que acreditamos, não do ponto de vista do crente, mas do ponto de vista do observador exterior. Afinal, haverá melhor forma de fortalecer uma convicção do que dissecá-la e perceber os seus pontos fracos, que poderão mesmo valorizar as suas forças?

Se cada um de nós saísse da sua forma de pensamento, na qual foi colocado ou se foi colocando, de cada vez que tivesse uma discussão, e conseguisse debater as ideias no plano conceptual, então nunca mais caberia na forma de onde saiu.

E o objectivo deveria ser sempre esse: a procura por um crescimento intelectual através do debate, do estímulo, do confronto de ideais.

Mas o que vemos é o completo oposto disto. Vemos a existência da zona confortável do pensamento. Arranjamos uma convicção que nos sirva, que nos acalme a inquietude do espírito (em vez de a tentarmos domar), e vamos com ela até ao fim do mundo, se for preciso. Analisamos o mundo com esse filtro de convicção; subjugamos as nossas opiniões e acções a esse filtro; e, no final de contas, não nos conseguimos distinguir, em larga escala, dos robots imaginados em mil e um filmes de ficção científica. Afinal, se parecemos reagir com apenas um comando, parecemos aqueles bonequinhos que andam em frente, contra uma parede, e batem incessantemente, sem conseguirem parar.

Mais importante do que discutir quanto medem as nossas convicções, deveríamos trabalhar, sozinhos e uns com os outros, para um mundo mais preparado a debater e a debater-se. Deveríamos colocar em check qualquer convicção que nos pareça, a certa altura, demasiado certa. Porque, a partir daí, ou reafirmamos essa certeza, ou crescemos enquanto indivíduos pensantes.

E aí perceberemos que não importa quanto medem as nossas convicções, desde que as saibamos usar de forma a explorar todas as suas capacidades.

Comments

  1. Filipe Bastos says:

    De acordo, César, mas a divisão mais comum – a divisão entre esquerda e direita – chega invariavelmente, após muito debate, a questões que são tão básicas quanto difíceis de transpor.

    Essas questões, a que podemos chamar convicções, princípios, a ética ou maneira de ver o mundo, são difíceis ou até impossíveis de confrontar quando se tornam parte da nossa identidade: se A afinal não é melhor que B, então que sou eu?

    Por exemplo, será o egoísmo algo mau? Ayn Rand dizia que não; muitos concordam. Será a igualdade boa? Há quem discorde.

    Os fracos e os incapazes terão direito à vida? Numa perspectiva puramente ‘eficiente’ ou nietzschiana, não. Até a justiça pode ser questionada: porque é o justo melhor que o injusto?

    Quando não há uma base comum, justiça > injustiça, altruísmo > egoísmo, etc., o debate chega a um beco sem saída. Não há como explicar, a quem o não quer entender, porque é que ser decente é intrinsecamente melhor do que ser indecente.

    • POIS! says:

      Bem vá lá!

      Não se meteu nisso de “medições penianas”.

      Ou arriscaríamos mais um nivelamento por baixo.

      Não seria nenhuma tragédia? Depende! Se o nível se fixasse aí pelos três centímetros…

      • Abstencionista says:

        Querido Xô Pois,

        Concordo contigo que com a medida de 3 cm é muito difícil explorar seja o que foi.

        Militarmente falando, uma piroc@, (trato assim carinhosamente a minha), deve ter pelo menos o tamanho de metade da coxa do proprietário em posição de “ombro arma”.
        Na posição de “firme” deve ter 47,59% a mais do que na posição “ombro arma”.
        Em “sentido”, posição em que se apagam as luzes vermelhas para o carro avançãr, nunca medi porque estou sempre ocupado, mas nunca tive avaliações de desempenho negativas apesar do meu utensilio ser ligeiramente superior à média citada.

        Mas isto não te deve interessar porque, a avaliar pelos teus comentários, és daqueles que não phodes nem sais de cima.

        Bjs

        • POIS! says:

          Abstencioneiro! Ei Abstencioneiro lindo! Eh, lá!

          Outra vez a marrar???

          Bem, o que lhe posso afiançar é que o peso que sente nas costas não é da minha responsabilidade.

          Experimente pedir-lhe o cartão de cidadão, se ele o tiver, ou então tente rastejar para junto de algum espelho. pelo menos para saber quem é.

          • POIS! says:

            Mas registo duas coisas:

            Primeira: V. Exa. mostra um inusitado interesse por pénis e seu tamanho, que desenvolveu abundantemente lá na vida de caserna. Confere!

            Segundo: vejo que, desta vez, não me acusou de usar os “perfis falsos” que Vosselência mesmo arranjou para provocar, nem aqueles com que, canhestramente se disfarçou e me acusou a mim de ter inventado, tipo Xantipa e Eleutério (este ultimo, nem nunca o vi. Talvez Vosselência se ande a confundir com os utilizados em blogues que não frequento).

  2. Ana Moreno says:

    Viva César, permite-me não concordar com o teu pladoyer, porque há muitos temas que a meu ver não se discutem por discutir, com o desapego de quem anda a sobrevoar este mundo, mas sim com a convicção que de que há que o tornar melhor; mas não é isso que aqui queria deixar, mas apenas subscrever o pedaço “Se os homens que são obcecados pelo seu tamanho revelam, quanto a mim, uma fragilidade na sua masculinidade,(…)”. Efectivamente. É sempre bom dizê-lo: essa parvoíce do tamanho é/foi inventada pelos próprios homens e vá-se lá saber porque carga de água.

    • César Alves says:

      Viva Ana!

      Na verdade, não penso que discordemos assim tanto. Eu considero que há temas que devem ser defendidos com unhas e dentes. Mas sempre com a abertura para ser colocados em causa, de uma forma que lhes permita, por serem tão certos, fortalecerem-se nessa troca de argumentos.
      Quanto ao resto, perfeitamente de acordo!

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