Alguém ajude a Raquel Varela

Confesso que não tenho por hábito ver o programa da RTP chamado “O último apaga a luz” onde participa, entre outros, Raquel Varela. Porém, hoje, perante o ruído sobre a intervenção de Raquel Varela no dito, fui espreitar.

Sinceramente, ainda estou de boca aberta. Logo no arranque a douta comentadora saliva raiva contra Zelensky zurrando sobre o facto de “um ex comediante que se tornou presidente”. Bem, esta parte pode não parecer mas é importante. Para a douta senhora, de cima da sua suposta superioridade académica, o facto de o presidente eleito da Ucrânia ter sido humorista é uma questão que o menoriza. Sim, não vamos esconder as coisas como elas são. Raquel Varela em nada se distingue daqueles professores doutores com todas as letras que todos nós tivemos um dia de aturar nas universidades portuguesas que frequentamos, cujo facto de terem obtido um grau académico os faz considerarem-se superiores a todos os restantes humanos. Não sei o que pensará Raquel Varela do facto do Secretário Geral do PCP ser afinador de máquinas e ter apenas o 3º ciclo. Aliás, imagino o pior. A sua postura petulante, notória até no tom de voz, faz dela uma afilhada predilecta das tias de Cascais ou da Foz. Estas e ela não diriam coisa diferente sobre as habilitações académicas de Jerónimo de Sousa ou sobre o facto de Zelensky ter sido humorista. A casta.

Nem vou perder tempo a analisar as incongruências de quem, mesmo considerando que a Ucrânia tem direito à sua autodeterminação e à sua liberdade, ao mesmo tempo considera que não pode pedir para aderir à NATO porque isso incomoda o seu vizinho e incomodando o seu vizinho vamos todos levar com uma terceira guerra mundial. É que este tipo de discurso é contraditório com o pensamento ideológico que a senhora diz (ou pensa) defender. Mais, a senhora diz que estas sanções são inadmissíveis porque fazem sofrer as classes médias e pobres da Rússia e da Europa e as classes trabalhadoras. Só não explica como compatibilizar a invasão + a não pertença à NATO + a liberdade dos ucranianos + não sancionar de nenhuma forma o invasor. Todos queremos sol na eira e chuva no nabal, o problema é a realidade não nos permitir. O que me deixa sem palavras, mesmo, é a forma como entende que o caminho é a capitulação, é aceitar as imposições da Rússia porque, citando “de outra forma era uma guerra mundial” e que a Ucrânia resistir é suicida. Sem perceber, Raquel Varela consegue ter um discurso idêntico ao do capitalismo selvagem que ela tanto crítica. Sem se aperceber (julgo eu que não se apercebe) está com o mesmo discurso dos fascistas. Este egoísmo que exige aos ucranianos que se rendam, que se deixem ocupar, que abdiquem da sua liberdade em nome da salvação da Raquel Varela e das varelas que por aí andam é inenarrável. Medo de uma terceira guerra mundial temos todos. Todos. Liberdade exigimos todos. Viver escravo do medo, desculpem mas eu passo. Viver escravo de um Putin por ter medo de morrer, passo.

Noutra altura e noutros tempos o que mais me irritaria no discurso da senhora é a ideia de superioridade moral, de que só o seu pensamento é o correcto, de que o mundo se divide nos que pensam como Raquel (branco) e os impuros, os que não pensam como Raquel (preto). Isso era noutro tempo que acabou ali para os lados de 24 de fevereiro. Hoje não me irrita. Hoje tenho profunda pena. Hoje sei que estamos perante uma pessoa que se sente desamparada, diminuída. Está tomada pelo medo. Profunda pena, é o que sinto. Alguém que lhe deite uma mão.

Comments

  1. JgMenos says:

    O progressismo esquerdalho vai fazendo seu caminho de tudo reduzir aos interesses e valores da ralé.

    E por ralé não identifico povo ou nação, mas o que a orgem da palavra induz: seres que têm por foco central não serem presa de rapina que lhes tire a vida.
    Sendo a guerra ameaça maior, a tudo devem ceder para a evitar.

    • Força, Menos! says:

      Que audaz e corajoso, este Rambo.
      Estás a escrever da Ucrânia, Menos?
      Dentro dum Bunker?
      És um herói da “carvalho”!!
      Força rapaz!
      Se um russo te apontar uma arma, atira-te a ele.

      • POIS! says:

        Então não atira? Atira pois!

        O Menos não é esquisito. Então se o russo for do corpo de fuzileiros e estiver fardado…

  2. Paulo Marques says:

    A única coisa a dizer é que era bom que muita gente comprasse um espelho, antes de piorar a inevitabilidade. Mas se ainda andam ocupados a re-escrever as duas guerras mundiais, ou o estado novo, não há tempo para reflexões.

  3. Teresa Palmira Hoffbauer says:

    Respeito a sua coragem, Fernando Moreira de Sá.
    O senhor não quer ser escravo de um Putin por ter medo de morrer, e passa. Será que os seus descendentes são da mesma opinião?!
    No excelente filme “Belfast”, que o senhor também viu, o pai foge com a família para Reading para escapar ao conflito entre católicos e protestantes.

    Eu, uma das varelas que andam por aqui, quero sobreviver 🕊

    • Fernando Moreira de Sá says:

      Boa noite Teresa, eu não sou corajoso nem deixo de ser, nada de enganos. O que eu não aceito é que pessoas como a Raquel Varela queiram impor aos ucranianos o seu pensamento. Ou seja, quem decide se se deve render ou se deve resistir é o povo ucraniano e não quem está sentado no seu sofá a milhares de quilómetros de distância. O que me mete impressão é que hoje são os ucranianos mas amanhã, se formos nós, também vão pensar assim? Também vão querer a rendição à resistência? Não, eu não quero ser escravo de um qualquer putin, seja ele russo ou de outra qualquer nação. Eu não condeno, bem pelo contrário o pai de Reading, cada um faz o que entende ser o melhor para os seus. Mas não aceito que a decisão desse pai seja exigida a todos os outros nem a que de todos os outros seja exigida àquele pai. Eu não posso, pelo facto de estar a ser prejudicado por esta guerra (e por acaso estou a ser valentemente, por sinal) exigir que os ucranianos se rendam ao tirano porque isso facilita a minha vida. Esse é um egoísmo inaceitável, na minha opinião e na minha filosofia de vida.
      Eu também quero viver – o que é diferente de querer sobreviver. Viver.

      • Paulo Marques says:

        Na descrição não se vê imposição nenhuma; e a imposição que conheço é a do combate obrigatório não se sabe a que objectivos ficando à espera do que não vai acontecer.
        Resistência é outra coisa, e até pode ser a motivação de quem fica, aí sim digna da romantização que se queira, mas não é algo que possa ser imposto. E mentir sobres os custos e objectivos, lá como “cá”, não só nunca corre bem, como já vai notoriamente torto.

  4. Lourdes Ribeiro says:

    Cheguei a admirar Raquel Varela…outros tempos. A pouco e pouco começou a revelar-se uma pessoa arrogante, cheia de certezas e subestimando todos os que têm diferentes perspectivas, conhecimentos vários e menores habilitações académicas. Há que recordar que Ronald Reagan foi um óptimo presidente dos EUA…no entanto tinha sido actor, anteriormente.

  5. JgMenos says:

    A ralezada toda se arrepia!
    Comer todos os dias e dormir em sossego já cumpre a vida.

    E quem pense o contrário ou é louco ou arma-se em herói.
    Ah… esqueci-me dos heróis anti-fascistas…mas isso já lá vai… provavelmente tinham fome; tratemos do preço da gasolina.

    • Paulo Marques says:

      Os teus queridos líderes com tão boas opções para acalmar as hostes e não levarem com a ditadura Costista, já viste?

  6. Joana Quelhas says:

    O problema da Varela á o problema dos Marxistas.
    Se fosse para “combater ” o “Capitalismo ou seja Liberdade de Escolha” já se justificavam as mortes e os herois e a carne p’ra canhão.
    É a mesma otica que considera Ronald Reagan como mau presidente, por ter posto fim a cerca de 70 anos de cruel comunismo que se impunha sobre milhões de pessoas …

    Joana Quelhas

    • Fernando Manuel Rodrigues says:

      O Reagan pôs fim ao comunismo? E eu a pensar que tinha sido o Gorbatchev.

      O que o Reagan fez foi ajudar a colocar no poder o um bêbado corrupto chamado Yeltsin, que criou as oligarquias russas e toda a corrupção que as rodeia, e que levou ao aparecimento de Putin. O que hoje estamos a viver, se virmos bem, é uma consequência dessas opções.

      Se tivessem apoiado o Gorbatchev, em vez do Yeltsin, talvez tivéssemos hoje uma Rússia mais moderna e democrática, e não estivéssemos a enfrentar estes problemas.

      Mas também teríamos, provavelmente, uma Rússia mais forte – e isso é que os EUA não queriam. Por isso preferiram o bêbado corrupto. E por isso a NATO não parou de se expandir, apesar do que tinham prometido a Gorbatchev. E por isso estamos agora a enfrentar esta crise e esta guerra.

      Por mais que o FMS bata às cegas no ceguinho, aqui anda dedinho do Tio Sam.

    • Paulo Marques says:

      Não pode ter acabado com algo que nunca existiu. Mas acabou com o poder dos sindicatos, e consequentemente a partilha da recompensa de quem trabalha e produz riqueza, conseguiu cruelmente deixar andar uma epidemia de sida e financiar os “bravos guerreiros mujahadeen”, entre outros grupos terroristas, e iniciar o caminho da financeirização da economia e consequente fragilidade que ainda hoje continua a aumentar.
      É um legado, sem dúvida.

  7. Joana Quelhas says:

    Reagan evidentemente que não conseguiu a proeza sozinho. Teve a preciosa ajuda de Margareth Tatcher do próprio João Paulo II.
    O problema actual deve-se a que os sucessores de Reagan não conseguiram chegar aos seus calcanhares .
    Em 2024 caso as eleições americanas não sejam de novo “controladas” Trump poderá ter a possibilidade de continuar o trabalho de Reagan e assim o mundo evoluirá para nova etapa de paz e progresso humano.

    Joana Quelhas

  8. Abel Barreto says:

    Ai Quelhas…
    Salvaste-me o dia ao me fazeres rir!
    Já pensaste numa carreira como comediante? Não será difícil, bastará seres como és.

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