Eu sei que a grande maioria de nós pensa que os que apoiam ou são neutrais em relação a putin ou mesmo aqueles que esboçam a condenação da Rússia e depois não resistem em gritar “mas” são uns imbecis indesejáveis.
Mas não estamos correctos. Imbecis são, indubitavelmente. Aliás enormes imbecis cuja qualificação nasce das motivações que os animam: cobardias quase criminosas, ideologias sem sentido, interesses financeiros ou (a mais imbecil de todas) a histérica necessidade de se afirmarem mais inteligentes que os outros num processo que os aproxima muito mais da idiotice do que da genialidade que à força querem demonstrar.
Mas estamos errados quanto à circunstância de serem indesejáveis. Não são. Ainda bem que existem estes idiotas. Porque e apesar da debilidade da argumentação que apresentam, não deixam de provocar o que nos obriga a diária e sucessivamente termos de examinar e reexaminar o que nos leva a estar do lado certo. Sim porque esse exame recorrente que fazemos só nos ajuda a solidificar a certeza que estamos do lado certo.
Por isso, mas também só por isso, obrigado idiotas.
Só há um problema, examinar exige pensar e notar as contradições sem as deixar coalescer para o lado que dá mais jeito e menos trabalho. É que estas não desaparecem, e inevitavelmente trazem consequências. Domingo pode ser mais uma, e não é por falta de aviso.
Pois avancemos uma das cenas dos próximos capítulos:
Entra o escriba e dirige-se ao toucador:
“Espelho meu, espelho meu, quem é mais antiputin do que eu?”
“Senhor, sois vós mas…”
“Maaaaaaas????”
Sobre o escriba jacente no tapete persa cai o pano. E o piano.
Pois há notícias de última hora. E frescas!
Afinal o “post” mais não é que a pré-publicação da ansiosamente aguardada obra “Nem Mas, Nem Meio Mas – O Enterro Definitivo da Dissonância Cognitiva Pelos do Solidificado Lado Certo”.
Em breve nos escaparates e nos nossos melhores vendedores de castanhas, antes que esta guerra acabe e a malta do Lado Certo passe ser antioutracoisaqualquer.
Como se define o “lado certo”? E quem são os imbecis, desejáveis ou não?
Uma definição que tem sido adoptada é esta: imbecis são os que não pensam como nós. Os que duvidam … isso de dúvida metódica … foi tempo.
Exemplo. A questão do heliocentrismo e das ideias de Galileo. Quem eram os imbecis? Os do lado de Galileo parece que eram “imbecis desejáveis” porque, passados uns tempos, os heliocentristas é que passaram a “imbecis”. Desejáveis ou indesejáveis? Não sei. Os heliocentristas de hoje, bem como os terraplanistas, são desejáveis ou indesejáveis?
Na definição proposta pelo Senhor Osório parece-me que eu sou um imbecil. Mas se eu adoptar as ideias dele parece-me que quem é imbecil é o Senhor Osório.
Quem não for antiputinista irracional é imbecil? Mas na História já houve imbecis que passaram a grandes estadistas (porque venceram a luta em que se empenharam).
Ora muito bem!
O paleio do “post” lembra-me aquela célebre…
Adivinha: qual é a parte de trás de uma árvore?
Resposta: é o lado onde se mija.
Lá está: os do “Lado Certo” nunca mijam na parte da frente de uma árvore. Aí mictam os “imbecis”.
Pelas vibes, pá.
Alguem teve um mau dia
Extraordinário tiro no pé.
Fico apenas na dúvida se o autor se esforça por ser o imbecil idiota de que acusa os outros, ou se lhe sai naturalmente. Afinal, não é fácil atingir o grau de imbecilidade de acusar histericamente de imbecil histérico quem opta por uma posição neutral ou tenta compreender causas e contextos das ações.
Aparentemente dono duma verdade inabalável de que está do “lado certo”, o autor auxilia a que qualquer um que ainda pretenda utilizar as suas capacidades cognitivas evite juntar-se ao grupo de idiotas que não têm qualquer dúvida de que estão do “lado certo”.
Aliás, a História está carregada de períodos em que massas de idiotas se juntaram do “lado certo”, com os lindos resultados que se sabem.
Por isso e muito mais, obrigado idiota.