O Arquivo Mitrokhin: o PCP e a rede do KGB em Portugal

A invasão da Ucrânia pela Rússia veio demonstrar a muitos portugueses a verdadeira face do PCP. Os mais surpreendidos com todo o enredo do Partido Comunista Português ainda hoje se interrogam do porquê das posições pró Rússia do PCP. Contudo, em 2015, o jornal Expresso tinha divulgado os pormenores do chamado Arquivo Mitrokhin no tocante às ligações do PCP com o KGB e a Rússia desde os idos da URSS. A coisa passou um pouco despercebida da opinião pública uma vez que a chamada “opinião publicada” estava pouco interessada em levantar “grandes ondas” sobre o partido comunista ou não fosse ele o sustentáculo do governo socialista à época.

Os documentos do Arquivo Mitrokhin possuem inúmera documentação dedicada a Portugal, no período entre 1974 à 1982. Em 1980 o “chefe” do KGB em Portugal era liderada por Yuriy Semenychev, oficialmente o 1º secretário da embaixada. Era mais de uma dezena de operacionais que ocupavam diversos cargos na embaixada russa em Lisboa. O Arquivo cita, entre outros, Boris Kesarev, Viktor Nesterov ou Viktor Gundarev.

Durante décadas o PCP) negou sempre qualquer tipo de cooperação com os serviços secretos soviéticos. Contudo, o Arquivo Mitrokhin prova o contrário, como já todos desconfiavam. O PCP não só permitia, mas também estimulava e encorajava o recrutamento de membros e apoiantes do partido pelo KGB. Os documentos mostram que muitos dos agentes portugueses do KGB foram recrutados sob a direção ou recomendação do PCP. Como se pode ler nos referidos arquivos: “Em dezembro de 1974, o chefe do KGB em Lisboa (“Leonid”) reuniu-se com o líder do PCP, Álvaro Cunhal, num dos apartamentos secretos do partido. “Questões específicas foram discutidas. A conversa ocorreu não com palavras, mas com a ajuda de papel e lápis, por medo de escutas telefónicas”. De acordo com esse registo, Cunhal declarou a sua prontidão para “cooperar em qualquer assunto de interesse do KGB”. Foi decidido que a KGB treinaria dois membros do partido para detectar dispositivos de escutas (Cunhal prometeu selecionar “dois camaradas de confiança”). O líder português também anunciou que entregaria ao KGB “os materiais da PIDE e da NATO/OTAN à disposição do partido”.

“Patrick”, nome de código de Octávio Pato (ilustre militante do PCP que chegou a ser candidato a Presidente da República) entregou “informações militares secretas sobre os americanos, obtidas por meio de um agente do PCP”. Ao KGB também eram fornecidas as informações sobre o partido, sobre questões políticas nacionais e sobre a NATO/OTAN. Mitrokhin também informa que em 1980 a Primeira Direção do KGB em Moscovo discutiu a possibilidade de fornecer aos comunistas portugueses “meios técnicos especiais” com a finalidade de instalá-los em “objetos de interesse” em Portugal. Em julho de 1977, durante uma visita do Octávio Pato ao Moscovo, a direção do KGB pediu-lhe ajuda na seleção de candidatos portugueses que serão submetidos a treino específico para realizar as operações especiais contra a NATO. “Patrick”, disse que não tinha objeção para indicar os membros do partido para determinada missão secreta periódica “nos interesses da URSS”, mas expressou preocupação sobre a potencial perda de “bons comunistas confiáveis” para o trabalho de inteligência de longo prazo. Pato prometeu discutir essa questão com Cunhal.

Em 1991, após a apreensão de arquivos do PCUS pelo governo russo de Boris Yeltsin, foi publicada uma série de documentos para identificar os números exatos desembolsados pela URSS aos “partidos irmãos” no Ocidente. Considera-se que na década de 1980 PCUS distribuiu mais de 200 milhões de dólares entre os «partidos irmãos» fora do bloco soviético. No seu livro “Cunhal, Brezhnev e 25 de Abril” (2013), José Milhazes relata que naquele período PCP recebia entre 700.000 dólares (em 1981) até um milhão de dólares (em 1987-1989) em subsídios soviéticos…

Além do chamado Arquivo Mitrokhin existe um outro, o Arquivo Bukovsky. Tanto num como no outro existe vasto material sobre a colaboração do PCP com o KGB, incluíndo a cedência a estes de parte importante dos arquivos da PIDE sobre políticos e empresários portugueses.

 

 

Comments

  1. Paulo Marques says:

    Quem não, na altura? Um tal de Carlucci, da organização que andava nos Gláudios pela Europa fora, também passava por aí a distribuir conselhos e benesses. Ganhou o Espírito Santo e amigos, para bem de todos nós.

  2. POIS! says:

    Passou realmente um pouco despercebido. A malta estava à espera da lista dos jornalistas avençados do GES e distraiu-se.

    Há muito para descobrir. Deste, e do outro lado.

    O Paulo marques já deu o “lamiré”. Não vou repetir mas…

    …os “Gládios” foram a prova provada de que a NATO e companhia servem para muita coisa. Duvido, com toda a certeza, é que seja para “nos defender”.

    Qualquer dia conto aqui o meu “encontro imediato” com a NATO numa sala de aulas do Convento de Mafra, nos anos 80. Quando tiver disponibilidade tentarei fazer um resumo.

    Vou aqui lembrar outro caso que terá passado despercebido.

    Há uns largos anos, por alturas da primeira Guerra do Golfo, uma organização que existia na altura denominada FER, liderada pelo Gil Garcia, agora do MAS, organizou uma manifestação em Lisboa contra a guerra onde aparecia um burro com uma cartola do “Tio Sam” na cabeça.

    A ladear o burro estava o Gil Garcia com um megafone e um outro indivíduo que, salvo erro, ia com a trela.

    Algum tempo depois, o “Público” publicava a foto porque se descobriu que o condutor do burro era…agente do SIS!

    Já não me lembro como é que isso tinha sido descoberto mas, pelo meio havia umas declarações do Gil Garcia a dizer que tinham estranhado a súbita “fome de militância” do tal indivíduo. Estava sempre a aparecer, fosse para colagens, pintura de faixas, manifs. Ao contrário, ao que aprece, da restante malta, que gostava mais de “discutir teoria”.

    Ridículo? Claro!

    Agora eu pergunto: qual o interesse do Estado Português na vigilância de uma minúscula organização, mas que era um partido político legalizado e sem qualquer estrutura clandestina? Não seria mais interesse “de outros”?

    E acham que as informações recolhidas ficaram cá ou foram parar a “lugares mais altos”?

    • Paulo Marques says:

      Mas era outra altura, antes da UE cumprir o desígnio de Washington (há por cá um ex-ministro que muito se orgulha da Comissão Trilateral como exemplo da sua seriedade), em que o tal de KGB existia (o FSB não é a mesma coisa), as Lajes eram mais relevantes, a Mossad e a MSS não andavam por aí a juntar-se na luta pela pós-verdade, e, acima de tudo, não havia hegemonia da TINA e a certeza que empobrecer era para o nosso bem por culpa de uns Outros de conveniência.
      E, portanto, não estava tudo escancarado digitalmente, seja a bem das poupanças para as contas certas, seja pela plena confiança nos criadores de emprego, seja pelas portas traseiras que se vão criando com a certeza que os maus(tm) são burros demais para descobrir. Já não há espiões ideológicos como antigamente.

      • Paulo Marques says:


        Para isso era preciso que alguém ainda acreditasse num mundo melhor invés do seu interesse pessoal e das suas quezílias pessoais.

  3. JgMenos says:

    Agentes soviéticos é o que sempre foram.
    E é ver como aparecem as bandeiras da foice e do martelo nos carros de combate russos!
    A comunada cá do sítio fica pouco menos que extasiada e já se imagina a dirigir a democracia avançada…

    • Paulo Marques says:

      Já nem sovietes há, quem acredita em amanhãs que cantam é quem achou que a TINA no fim da história em reformas a fazer à 10 anos atrás. Como é que isso vai?

    • POIS! says:

      Pois, a propósito…

      Já apareceu, finalmente, a caminha de rede que Vosselência deixou lá nas áfricas atada aos coqueiros?

      Aquela onde se dedicava à contemplação de nativas viçosas?

      O melhor é perguntar aos americanos. Eram muito nossos amigos, apreciavam muito o nosso multirracial-pluricontinentalismo. E sabiam onde estava tudo!

  4. luis barreiro says:

    Já antes do 25 de Abril o PZP passava informações ao kgb sobre as tropas dos portugueses no ultramar, que causavam mais mortes a Portugueses.

    • Paulo Marques says:

      Sabe-se bem o quanto lhes chateia que o colonialismo lhes tenha acabado com o regime. É a vida.

    • POIS! says:

      Pois não me diga!

      Lá na guerra morreram portugueses?

      Estou estupefato com tal fato!

      Sempre me disseram que não havia guerra nenhuma e que as mortes era mais por acidentes.

      Na altura as estradas eram muito más.

      • JgMenos says:

        Vigarista, sempre armado em parvo.

        • POIS! says:

          Pois a minha resposta é:

          Vigarista, sempre armado em parvo.

          Aquela guerra tinha dias.

          Ás segundas, quartas e sextas estávamos a ganhar. Ás terças, quintas e sábados, a tendência era para o empate.

          Aos domingos era Dia do Senhor.

          No final, os “inimigos” forçaram o prolongamento e perdemos nos “penalties”.

    • JgMenos says:

      Já o colonialismo do Império Russo nunca incomodou os farsantes esquerdalhos!!!

      • POIS! says:

        Ora pois!

        Com a expansão do Império Americano a malta foi-se habituando e amoleceu um bocado.

        Era mais Império, menos Império.

        • POIS! says:

          Há uma correção a fazer: a frase correta é…

          “Era mais Império, Menos Império”

          Assim é que está certo!

      • Paulo Marques says:

        [citation needed]

  5. Joana Quelhas says:

    Isto é delicioso de observar. Bate sempre certo.
    O comunismo é sustentado não pelos altos dirigentes, mas pelo militante de base burro e crente.
    O dirigente é uma aristocracia que há muito deixou de acreditar na “luta de classes” e na teoria do “valor-trabalho”, mas sabe que a mensagem do pobrezinho vende bem .
    Enquanto o idiota do militante de base continua a pensar que está a lutar por um tal amanha que canta.
    Aqui nestes comentários vemos dois idiotas que mesmo agora que o dinheiro russo acabou (já nada escorre daqueles lados) continua obstinadamente a “lutar” pelo “ideal” que as elites comunas lhes inculcaram na cabecinha oca.
    Continuarão incansáveis sob o olhar atento do dirigente que ri e fuma o seu charuto (para não dizer o resto) e pensa : que nunca nos falte o MILITANTE …

    Joana Quelhas

    • POIS! says:

      Pois é!

      A malta deixou de receber o rublo carcanhol por causa das sanções e está aqui só a aguentar a coisa a ver quem dá mais.

      Quanto é que estão a pagar lá do lado de Vosselência? Se a coisa compensar, a malta até que muda.

      Se bem que Vosselência até aqui jurou a pés juntos que a guerra estava ganha, que aquilo é um exército de maltrapilhos montados em carroças com armas de carregar pela boca e, não sei como, a coisa não está a correr assim tão bem.

      Talvez quando começarem os balázios nucleares a coisa aqueça. Está tudo muito morto. Muito mesmo!

      PS. Não tivesse Vosselência um cérebro do tamanho de um pintainho onde dois neurónios lutam arduamente pela sobrevivência e talvez compreendesse que está redondamente enganada em relação à larga maioria dos que aqui comentam.

      Vá lá terminar a sua dose de alfarroba e depois a malta conversa.

    • Paulo Marques says:

      Bate sempre certo, desde que seja na sua cabeça. Nem os comunistas apoiam quem criticam desde quando todos lhes queriam o dinheirinho, nem o dinheiro russo acabou, apesar das promessas do empobrecimento do bem, nem sou militante de coisa nenhuma, nem sequer ainda votei no partido. Só não gosto de disparates.
      Como diriam as gentes iluminadas da sua agremiação, pior que uma mulher a dizer coisas só se estivesse a conduzir.

  6. estevesayres says:

    A CIA continua em Portugal com o total apoio do poder politico PS,PSD, CDS, IL, Chega, PAN, o BE ainda não tomou posição, e a KGB no P”C”P
    Nem imperialismo nem social imperialismo!
    Nem fascismo Nem social-fascismo!

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