Viktor Orbán, o ponta-de-lança de Putin para destruir o projecto europeu

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Vyacheslav Volodin, presidente da Duma, fez eco do velho coro fascista do colapso iminente da UE, objectivo que o regime do qual é vassalo tem financiado ao longo dos últimos 20 anos, e encorajou os estados-membros a abandonarem o projecto europeu.

Chamem-me putinista, mas há uma certa sensatez nestas palavras. De facto, países como a Hungria enquadram-se mais numa lógica de República Popular autoproclamada à sombra do Kremlin. Não partilha dos valores fundamentais da União, não-respeita a separação de poderes e não é um regime democrático. Mas não é o único. A Polónia pode ir pelo mesmo caminho.

O piscar de olho de Volodin, parece-me óbvio, vai na direcção de Budapeste. E surge no dia a seguir à acusação das autoridades ucranianas de que Orbán estava previamente informado da invasão russa da Ucrânia. E no mesmo dia em que o mesmo Orbán fez saber que precisa de pelo menos cinco anos para descontinuar o petróleo russo, rejeitando o regime de excepção proposto por Bruxelas, que apontava para meados de 2024, e ameaçando vetar o embargo europeu ao petróleo russo até ver as suas exigências satisfeitas.

Nunca é demais recordar que, até Março de 2021, a agremiação neofascista de Viktor Orbán estava no Partido Popular Europeu, do qual faz parte o grosso dos partidos conservadores do centro-direita europeu, como o PSD e o CDS-PP. E que foi normalizado até à exaustão, mesmo quando já perseguia opositores políticos, imprensa não-alinhada e a comunidade LGBT. Mas o objectivo primordial era o de alargar as fronteiras da União até à fronteira russa, ignorando os valores fundadores e as profundas diferenças que nos separam, a vários níveis, dos antigos satélites do Pacto de Varsóvia. O resultado está à vista e ajuda a explicar porque é que a vitória de Putin parece inevitável. Mais do que a enorme superioridade militar, Putin tem cães a ladrar nos centros de decisão da NATO e da UE, prontos a minar qualquer esforço de combater a violenta invasão de Moscovo.

Nótula: André Ventura foi convidado por Orbán, uma das grandes referências do CH, para se deslocar a Budapeste em Junho para discutir o futuro da direita na Europa. É frequente ouvirmos Ventura a elogiar o neofascista húngaro, que recentemente saudou, por mais uma vitória eleitoral, “apesar de todos os esforços de boicote das forças burocráticas e globalistas de Bruxelas”. O alvo de Ventura é evidente e somos nós, as democracias liberais. Mas cada um é livre de se deixar enganar pelo pin da Ucrânia na lapela dos neofascistas que agora se sentam na Assembleia da República.

Comments

  1. Paulo Marques says:

    Mas, não partilha mesmo os valores da União? Não é a favor do empobrecimento permanente para pagar rendas ao capital, nem que estes oligarcas do bem possam controlar as empresas estratégicas e lavar o dinheiro livre de obrigações para outras paragens? Não é a favor dos muros que pagamos pela Europa fora e da criminalização de quem não deixa pessoas afogar-se no mediterrâneo? Não gosta de censura como a senhora Loyen?
    Ou é só contra os valores europeus por não alinhar com o disparate de que milhares de produtos, de fertilizantes a medicamentos, podem desaparecer sem problema de um momento para o outro?
    Não, pá, no projecto europeu estes oligarcas entendem-se todos bem. Só não se percebe é como é que os povos os levam a sério, mas os novos Outros dão um jeitaço, que os “terroristas” já estava gasto.

  2. Luís Lavoura says:

    Orbán esclareceu claramente a sua posição. Há um gasoduto que abastece a Hungria e que vem da Rússia. A Rússia está numa ponta, a Hungria na outra. Se a Hungria não receber petróleo por esse gasoduto, como o recebe? De uma forma muito mais cara, inevitavelmente, uma vez que não tem portos de mar.

    Orbán defende, como é sua obrigação, os interesses do povo húngaro.

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