Liberdade para matar crianças

Esta era a Makeena.

A Makeena tinha 10 anos, andava na quarta classe e foi uma das 19 crianças assassinadas pelo terrorista americano de 18 anos, que há duas semanas fuzilou 21 pessoas na Robb Elementary School, no Texas.

O massacre de Uvalde foi o 30 tiroteio ocorrido em solo americano, ao longo de 2022. Só em escolas do ensino básico e secundário. Se incluirmos universidades, o número sobe para 39 casos. 39 tiroteios em instituições de ensino, em menos de cinco meses. E o massacre de 24 de Maio foi o mais violento e mortal dos últimos 10 anos. Teríamos que regressar a Sandy Hook, 2012, para encontrar um número de vítimas mortais mais elevado.

A Makeena e as restantes 18 crianças fuziladas em Uvalde, são vítimas do terrorista e de um sistema que permite que qualquer desequilibrado compre armas de guerra a partir dos 18. Um sistema ao serviço do lobby das armas e dos fundamentalistas do faroeste, para quem a morte destas crianças é apenas um pequeno contratempo, um mal menor quando comparado com a possibilidade de serem impostas limitações à aquisição, porte e uso de armas de calibre de guerra, porque é de armamento de guerra que estamos a falar.

As várias direitas americanas, da mais liberal à supremacista e neo-nazi, entendem que nada deve mudar. Se há quem protagonize episódios sangrentos e hediondos como este, a culpa não é das armas, da facilidade com que podem ser adquiridas ou da inexistência, na larga maioria dos casos, de procedimentos de background check. A culpa é dos jogos de computador, do excesso de portas nas suas escolas e dos direitos das mulheres. Sim, dos direitos das mulheres. Billy Long, um dos muitos acéfalos trumpistas que Partido Republicano tem na Câmara dos Representantes, defende que o direito ao aborto é uma das causas do aumento dos tiroteios no país. É neste patamar que está a land of the free.

Se a justificação vos parece parva, ou alucinada, ou até do campo da demência, sentem-se bem, e permitam-me que enumere mais algumas loucuras usadas pelos Republicanos como justificação para a pandemia de tiroteios que assola os EUA há décadas:

  • As escolas têm portas a mais;
  • Mães solteiras;

  • Consumo de drogas;

  • Professores desarmados;

  • Escola sem armadilhas para serial killers;

  • “Not enough God”

Engraçado que temos cá tudo isto na Europa, onde o aborto é legal na esmagadora maioria dos Estados, as escolas têm várias portas, existem inúmeras mães solteiras, a droga é abundante, os professores leccionam desarmados, as escolas não têm armadilhas e a religião já viveu tempos mais auspiciosos. Tudo menos os tiroteios, ou, se os temos, são tão raros como os eclipses totais do sol.

Qual é a diferença, então, que nos separa da barbárie americana? Simples: temos legislação de controle de armas, regulamos devidamente que as pode ou não ter e, seguramente, não as vendemos em supermercados para qualquer lunático comprar. É essa a única variável que muda. Também cá temos malucos, temos psicopatas e terroristas, e mais uns quantos doidos capazes de pegar em armas para cilindrar os seus semelhantes. A diferença é que nenhum deles terá, como nos EUA, acesso facilitado a armas de guerra.

Problema resolvido.

Nos EUA, a ideologia da violência, promovida e escudada num bando de privilegiados da direita radical e da extrema-direita, continua a sobrepor-se à segurança e ao bem-estar das comunidades. E assim será, enquanto o poderoso lobby das armas, que obtém lucros fabulosos desta cultura de violência, continuar a financiar governantes Republicanos (e alguns Democratas também). Não é à toa que existem, nos EUA, mais armas na posse de americanos de que… americanos. E demasiadas Makeenas a ser fuziladas na escola.

Comments

  1. esteves ayres says:

    Pelos visto não preciso de dizer mais nada sobre o Biden presidente dos «é-u-á», um dos principais responsáveis políticos. Nada faz para acabar com tudo isto!!!
    E todos nós sabemos porquê?!

    • Júlio Santos says:

      Está enganado Biden é Presidente de um país que tem instituições que ditam as leis e o Presidente também tem de as cumprir. Já o mesmo não se passa na Rússia, China e outros onde é o Presidente que põe e dispõe a seu belo prazer. Em Portugal, apesar de ter leis restritivas sobre o uso de armas elas proliferam nas mãos dos criminosos. Felizmente que cá ainda não houve um maluco que as tenham utilizado contra crianças.

      • Joana Quehas says:

        Isso não entra no bestunto dum comuna. Um comuna acha que o Governo dita as leis e o zé povinho acata. Nunca compreenderão o que significa a “Terra dos Livres”.

        • Paulo Marques says:

          Deixa-me adivinhar, a terra dos livres é a terra onde um partido é livre de tentar fazer um golpe de estado sem consequências?
          Um golpe interno, entenda-se; externo é o pão nosso.

      • Paulo Marques says:

        Em que é que “nada faz” é o mesmo que ditar? É mesmo nada fazer, nem um discursozinho com força.

  2. JgMenos says:

    E é a direita quem não condena quem mata as Makeenas ucranianas, às dúzias por semana?

    • Paulo Marques says:

      Quem, filho? Sei lá, já viste a Fox News alguma vez? Ou os novos iluminados como a MTG?
      Mas, é pá, pronto, bora queixar de algumas que morrem e inventar mais algumas se ajuda a agenda.

  3. Ainda bem que foi um insuspeito cidadão de esquerda que, para ilustrar este post, escolheu a fotografia da única das 21 vítimas do assassino que não é hispânica. Fosse um gajo de direita a ter este azar e o que seria! PS: quanto à substância, o essencial é óbvio e indiscutível – se não tivessem a acesso a armas automáticas, os lunáticos homicidas matavam menos gente. Na mesma linha CMTV, fico a aguardar um post com o nome da criança que morreu nas Caldas por falta de obstetra (o politruk local já disse que “não há causalidade” – fosse no tempo do Passos e já se falava em homicídio) e o comentário incisivo acerca deste SNS que foi “salvo” pela geringonça.

    • POIS! says:

      Pois este brilhante comentário é o que se designa por…

      uma tanatolice!

    • Joana Quelhas says:

      Aqui o mais importante para um comuna é o controlo das pessoas. Já viu alguns destes comunas que por aqui se passeiam a lamentar os 50000 homicídios no Brasil , onde é proibido o porte de arma ? Ou Venezuela etc…

      Estes anormais não sabem é quantos homicídios são evitados todos os anos nos EUA pelo facto do livre porte de arma.

      Joana Quelhas

      • João Mendes says:

        Já nem os gatos te ligam, travesti digital?

        • Joana Quelhas says:

          Excepto os comuna ganza.

          Joana Quelhas

          • POIS! says:

            Pois, como o prova aquele grande sucesso da cantora Quelhas por terras de Espanha, onde é conhecida como Juana Cllejuela:

            “Me hablaste suavemente,
            Comuna ganza…
            Palavras muy dulces
            Comuna ganza…
            Tocaste mis pechos
            Comuna ganza…
            Me quedé aturdida
            Comuna ganza…”

            Que bonito, dios mio!

      • POIS! says:

        Ora pois!

        E quantos são esses “homicídios evitados”? Vosselência deve saber, porque sabe tudo, até dissonâncias cognitivas e tudo!

        Vá lá! Diga quantos, não faça caixinha!

        Os mortos efetivos, a malta vai contando! os mortos evitados é mais difícil. Só Vosselência nos pode iluminar! (*)

        PS. Mas depois, por favor, não nos mande a conta da luz! Uma já basta!

      • Paulo Marques says:

        Deve ser da liberdade que 6.2 fatalidades por 100.000 habitantes é considerado uma baixa taxa de mortes por envenenamento por chumbo.
        E é melhor nem se perguntar quem é que é assassinado no Brasil e o que é que o crime legalizado tem a ver com isso.

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