Os talibans de Varsóvia e o futuro da democracia

O governo polaco quer impor penas de prisão até dois anos para quem for apanhado a blasfemar. Isso mesmo: quem fizer piadas sobre a Igreja Católica vai dentro. Aquela vibe sharia. E a União Europeia, que se apresenta hoje como o último reduto de liberdade e democracia, continua a revelar uma tolerância preocupante com estas manifestações de despotismo e fundamentalismo religioso, sem impor qualquer tipo de consequência à deriva autoritária que é contrária aos seus princípios fundadores. Tal como acontece com Orbán, que há dias fez um discurso tão racista, tão xenófobo que uma colaboradora de longa data se demitiu e acusou o PM húngaro de usar um discurso que não se distingue do nazi.

É mais um teste de resistência às democracias liberais, num momento de profunda fragilidade, de guerra e de provável mudança radical no status quo internacional. Os estragos que o nacionalismo protofascista causou nos últimos anos, e em particular nos últimos meses, da tentativa de golpe de Estado nos EUA à invasão da Ucrânia, poderão facilmente atirar-nos para uma distopia orwelliana, que de resto já se começa a desenhar do outro lado do Atlântico, onde uma guerra cultural e ideológica ameaça o equilíbrio de forças do concerto das nações.

Eu sei que isto soa a profecia da desgraça, mas aposto que não seriam poucos, aqueles que há não muito tempo achariam um absurdo, que um troglodita como Donald Trump pudesse ocupar o trono da superpotência e submetê-la a quatro anos de humilhação internacional sem precedentes, perfeitos para que Putin preparasse, calmamente, a ofensiva militar contra a Ucrânia e defesa económica contra as sanções da “comunidade internacional”, a.k.a. parte da Europa, EUA, Canadá e mais meia-dúzia.

Importa recordar que a vassalagem da extrema-direita americana a Putin não se resume a Donald Trump, o Bobo da corte da conferência de Helsínquia. As acções do Kremlin colhem amplo apoio entre os mais altos oficias do Trumpismo, de Michael Flynn a Steve Bannon, passando pelas novas estrelas da companhia, Marjorie Taylor Greene e Matt Gaetz, ou pelos pontas de lança na Fox, Laura Ingraham e Tucker Carlson. O Partido Republicano é hoje um reduto de Vladimir Putin, onde já nem se tenta disfarçar.

Há quem defenda que a nossa democracia, a dos tais que fazem parte da “comunidade internacional”, é uma encenação. E em certa medida é. Mas era importante que essas pessoas parassem para pensar no tanto, mas tanto que ainda há para perder. Nos direitos e liberdades que parecem garantidas, às quais só damos valor quando já não as temos. Direitos e liberdades que são fáceis de perder, mas incrivelmente difíceis de recuperar. Faz falta reflectir sobre isto, porque o tempo corre contra a democracia.

Comments

  1. JgMenos says:

    Tais sinais sempre se adivinha quererem realizar-se através de poderes do Estado.
    Importa pouco se o sistema político que confere tais poderes é mais ou menos democrático, se a ideologia que constrói os poderes do Estado é de direita ou de esquerda.
    Sempre que ao poder do Estado não são colocados limites se abre caminho ao autoritarismo.

    E a esquerdalhada sempre propõe que ao Estado se deem poderes de impor as suas crenças, e arma-se em vitimada se esse poder excessivo lhas contraria, quando mais que cúmplice é autora de tudo cometer ao Estado!

    • Paulo Marques says:

      Poder é poder, quando era (ou é) delegado a um rei, uma oligarquia, um comité, um directório, uma empresa, ou a um iluminado, a única diferença é se os podem mandar embora facilmente ou não. E alguém fica com ele, a concorrência não é um estado natural.

  2. Menos, o encefalopático says:

    Vê lá se aprendes a escrever português, Menos.
    Estás muito desastrado. Vá-se lá perceber o que VExª pretende esclarecer-nos.

  3. Amora de Bruegas says:

    Faz sentido!
    Se se fazem piadas sobre bárbaros invasores muçulmanos, é crime; se for sobre o islamismo ou o judaismo é crime; se for sobre comportamentos imorais, destruidores do Ser Humano e contra natura, é crime; se for sobre doente sexuais e pedófilos é crime;…entáo porque não há-se ser crime quando se trata do Cristianismo e com base falsa e carregada de ódio?

    • POIS! says:

      Ora pois!

      E para quem aqui reproduz “bocas” que vê na net em sites mais que duvidosos, sem apresentar qualquer prova, não vai nada, nada nada?

      Tudooo! Tudooo! Hip, Hip, Amoraaaaaa!

      PS. “Doentes sexuais”? Pedófilos. V. Exa. refere-se áquela máfia mais ou menos batinada de santolas que já vai em mais de 300 casos com vítimas?

      Sim, sobre isso não deviam ser permitidas piadas. As notícias já são suficientes para um gajo partir o coco à gargalhada! Piadas em cima ca coisa poderiam até provocar mortes!

    • João Mendes says:

      Tens que meter mais tabaco na seringa, filhote. Estás a abusar na heroína.

  4. Fernando Manuel Rodrigues says:

    Vejamos:

    Quando é para apoiar a guerra na Ucrânia, os polacos são uns heróis, e um dos “baluartes da democracia”. Quando aprovam leis INTERNAS (logo, que só dizem respeito a eles) já temos “manifestações de despotismo e fundamentalismo religioso” e “deriva autoritária”.

    Parece que isto de democracia só vale para “os nossos”, mesmo quando lá chegam por golpe, como o Zelensky. Quando são “os outros”, são sempre anti-democráticos, mesmo quando foram eleitos e se limitam a exercer o mandato que lhes foi conferido. Passam num estalar de dedos de heróis a vilões.

    Decide-te, oh Mendes. Queres agradecer-lhes ou queres puni-los? É que se os punires, estás fod… o teu querido herói da democracia Zelensky vai pelo cano (pessoalmente, estou convencido que ele vai pelo cano, seja como for).

    Quanto ao Trumpismo, espera mais uns anitos. A coisa está bem encaminhada para termos não um mas vários, aqui no “último reduto de liberdade e democracia”.

    Mas se “isto” que agora temos é “o último reduto de liberdade e democracia”, a mim tanto se me dá. Talvez até seja bom, para recentrarmos o debate nas questões essenciais e que verdadeiramente interessam, em vez de andarmos a discutir “retretes para trans” (é uma metáfora, caso não tenhas percebido).

  5. Anonimo says:

    Concordo
    Não se fazem piadas sobre a Nossa Senhora, o Pinto da Costa, gordas, gays e transgeneros.
    No tempo do Herman é que havia respeito pelos direitos humanos.

  6. José Ferreira says:

    Por cá mantem-se a promiscuidade entre Estado e a Igreja, a concordata esconde muita coisa…

  7. Joana Quelhas says:

    Na Polónia vai ser proibido o piropo à Igreja Católica.

    Joana Quelhas

    • POIS! says:

      Já acabou, ó Quwelllhass? Já acabou? Já podemos?

      Ah! Ah! Ah! Ahhhhh! Ah! Ah! Ah! Ahhhhh!Ai que nem posso! Ai que a Quelhas é tão cómica! Ai que não consigo parar de rir com as piadas da Quelhas! Ah! Ahhhh! Ai que já arranjei uma hérnia de tanto apertar o diafragma! ai que já meti uma costela adentro!

      Ahhhh! A Quelhas é bué da cómica! Não posso mais! Ahhhh!

      Ah! Ah! Ahhh! Já não me ria assim desde que o outro caiu da cadeira!

      • JgMenos says:

        Mesmo sem te rires tanto já és ridículo, não te é requerido o esforço.

        • POIS! says:

          Ora cá está, pois!

          Mais uma douta sentença de Sua Esselência Merditíssima JgMenos!

          Vale o mesmo que uma bosta de burro largada no asfalto. Ou ainda Menos!

  8. Arlindo da Costa says:

    Linda e formosa Europa que estamos a criar!
    Só falta a Ucrânia para isto ser um bordel de políticos mafiosos e que vão rebentar com a UE.
    O que é que Sr. António Costa, «europeísta» para mamar euros, diz sobre o chavascal que bateu à porta da Europa Ocidental, dominada por racistas e fascistas/comunistas do Leste?

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