A paz dos mais fracos

Conta-se que durante a transmissão televisiva de uma final de um torneio de ténis  (Borg/McEnroe), Álvaro Cunhal, que se encontrava na sede do PCP, quando perguntou qual era o mais fraco, responderam “John McEnroe“, e começou a torcer por ele. Tendo sido confrontado com o comentário de que se tratava de um norte-americano, o então Secretário-Geral do PCP terá respondido qualquer coisa como “É o mais fraco, e os comunistas estão sempre do lado dos mais fracos“.

Dito isto:

A substituição de Jerónimo de Sousa à frente do PCP pelo actual Secretário-Geral Paulo Raimundo soou, de início, a uma tentativa de  interpretar o que correra mal nas últimas eleições legislativas, abrindo um eventual novo ciclo.

Todavia, percebe-se que, afinal de contas, e por mais paradoxal que pareça, o PCP insiste e persiste na estratégia que Nixon usou na gestão das fitas de gravação no “Caso Watergate”: se um erro não resolve, tentemos outro.

Primeiro, foi a narrativa de que a invasão da Ucrânia pela Rússia foi por culpa da Ucrânia. Isto, depois da versão de que Rússia se preparava para invadir a Ucrânia, era uma fantasia criada pelos EUA.

Agora, perante o forte apoio militar do Ocidente com vista a equilibrar os pratos da balança no combate, a lógica é de que tal apoio apenas serve para alimentar a escalada do conflito. E que aquilo que se devia promover era a negociação da paz e não a alimentação da guerra.

Ora, o que fez o PCP quando invadiram as suas sedes no PREC?

Convidou os invasores para se sentarem e negociar um qualquer entendimento?

Não: defendeu, e bem, as suas sedes com tudo que podia arranjar, desde armas de fogo até fueiros, braços e punhos, e peitos dispostos a enfrentar balas, para garantir a integridade perante os invasores e incendiários. E toda a ajuda era bem-vinda.

Ora, se um país é invadido por outro, tanto mais uma super-potência, vai fazer o quê? Um convite para um chá? Ou luta pela sua integridade territorial e pela sua existência?

Ou será que a máxima “Patria o muerte” só vale para Cuba e que esta, sim, poderia receber ajuda externa para sua luta, ao ponto de fazer soar o alarme da terceira guerra mundial?

É pena que o PCP não aproveite antes o ensejo para lembrar outros “mais fracos” que estão sob pata invasora, como é o caso dos Palestinianos, reivindicando a mesma postura firme contra Israel como contra a Rússia.

Mas, infelizmente o PCP continua a olhar para a Rússia, como se esta fosse a terra prometida.

É óbvio que não se vislumbra que a solução da guerra que decorre em território ucraniano, passe pela via militar. Sendo essencial aumentar e estender as sanções aos interesses económicos e financeiros russos, para que os que sustentam a autocracia russa liderada por Putin, sintam a sério onde lhes dói mais. O mesmo se dizendo dos seus aliados à medida que os seus interesses económicos começam a fazer pensar a lealdade.

Mas, não haja ilusões que sem um mínimo de equilíbrio no palco de guerra, não haverá sequer possibilidade de negociar o que quer que seja. Não se criará caminho para a solução política.

A ajuda militar do Ocidente – por muito negócio que envolva, pois que envolve sempre e não é de agora -, é a única possibilidade que a Ucrânia tem para fazer equilibrar os pratos da balança face ao poderio militar da Rússia.

A Ucrânia frente a uma potência militar como a Rússia que é gerida de forma autocrática, e em que o peso da opinião pública junto do poder político não é comparável ao peso da opinião pública de qualquer país ocidental, que hipóteses tem de negociar a paz, se não conseguir sequer fazer frente militar?

Os que se preocupam com o preço da guerra, deveriam preocupar-se com o preço da paz. Mas da paz verdadeira, real. E numa invasão, a paz só se alcança, só se conquista, quando o povo se liberta do invasor. E nenhum povo consegue libertar-se, se não tiver sequer como fazer frente ao opressor. Doutra forma, está-se a confundir paz com submissão, à boa moda romana.

Independentemente de interesses económicos e de lucros, que sempre há em qualquer conflito armado e só sendo muito ingénuo é que se pensa que há “almoços grátis”, cumpre estar ao lado dos mais fracos. Tanto mais quando invadidos e em sério risco de extinção como povos soberanos.

E se um comunista não percebe isto, não é comunista. Porque é dever de um comunista estar do lado dos mais fracos, como terá dito Álvaro Cunhal.

Comments

  1. JgMenos says:

    Nada de espantar.
    Adoptar uma doutrina que é indiferente a toda a evidência, qualifica para ver paz na derrota desde que tal mantenha a Rússia como tendo o destino histórico de regressar ao totalitarismo, agora fortalecido pela benção da religião.

    • Paulo Marques says:

      Pois, pá, devíamos ainda estar em Angola a lutar pela paz; havia muita gente que concordava com isso hoje em dia.

    • António Fernando Nabais says:

      O menos é contra o totalitarismo abrilesco e a favor da democracia Salazarista.

      • JgMenos says:

        O totalitarismo distingue-se do autoritarismo por, para além de condicionar a acção, impôr o pensamento único.
        E sim, o totalitarismo abrilesco não compara com o autoritarismo Salazarista.

        • POIS! says:

          Pois é verdade! Posso testemunhá-lo!

          Aquela malta que, em 1945, na sequência da formação do MUD, que queria agir na estrita legalidade, foi presa ou, no mínimo, demitida da função pública, ficou muito aliviada quando lhe disseram que aquilo não era totalitarismo.

          Era um simples arroto autoritário do Oliveira da Cerejeira, motivado por excesso de acidez do tinto de Santa Comba.

        • Carlos Almeida says:

          Carissimo JcMenos

          “O totalitarismo distingue-se do autoritarismo por, para além de condicionar a acção, impôr o pensamento único.”
          .
          Anos 50

          O pensamento único do salazarismo era tal que até os miúdos da Mocidade Portuguesa, orgão do Estado Novo para doutrinação das crianças dos 10 ao 15 anos no ensino secundário, tinham no cinto a letra S

          A lavagem ao cérebro começava muito cedo.
          Com 16 anos os jovens deixavam a Mocidade Portuguesa e entravam na Milícia, para continuação da doutrinação

          • JgMenos says:

            Ignorante como sempre:
            O ‘S’ era como sacrifício, serviço e não salazar como se dizia a propósito.
            Foi fundada em 1936.

            Entre 1936 e 1945, tivemos guerra em Espanha e na Europa.
            Preparara para a guerra não se faz com as patacoadas que entretêm a esquerdalhada.
            Quem tem dúvidas que visite a Ucrânia.

            Do pós-guerra, com a onda soviética, as armas haveriam de ser necessárias para manter o Império.
            Quem tiver dúvidas que pergunte ao Putin,

          • POIS! says:

            pois não diga, ó Menos!

            O S era, afinal, “sacrifício”? A mim, disseram-me que era SACOR, mas nunca acreditei!

            Pode ser. Porque aturar um Oliveira da Cerejeira, na realidade, era um tremendo sacrifício.

            Confere!

        • Paulo Marques says:

          O botas era muito liberal, tinham era que ir pensar para o Tarrafal.

      • POIS! says:

        Salazaresca. O termo certo é esse.

        Quando se enfrenta um vulto da envergadura de um JgMenos há que ser rigoroso.

        • luis barreiro says:

          A poia sempre a defender pedófilos como o porco pedófilo alvaro cunhal que com quase 50 anos engravida uma criança, que gerou a sua filha

          • POIS! says:

            Pois é, ó burreiro!

            A “poia”? Desculpe, mas não sou nada à família de Vosselência. Deve ser engano.

            E como é que Vosselência descobriu tamanho escândalo? Por experiência própria? Não me diga que a criança era a sua mãezinha…

          • Paulo Marques says:

            Gosto muito das lições de liberdade dos senhores de os outros são todos culpados até prova em contrário e de pedofilia pelos senhores da “idade de consentimento devia ser liberalizada”.

  2. Paulo Marques says:

    Não lhe faltaram oportunidades desde 2014, até em Março o nosso grande aliado humanitário Israel nos conta que preferiram escolher ser independentes obedecendo ao presumível grande estadista britânico a prazo.
    Certo é que ainda ninguém explicou o que é “fazer frente militar”, excepto utilizar até ao último ucraniano para obter qualquer progresso que permita fazer subir as sondagens de quem realmente é um jogador.
    E esse não é o pequenino, é o maior de todos e de todos os tempos, que nada tem a ver com isto, excepto começar logo pelos 5 mil milhões para influenciar as eleições – não foi interferência, percebem, foi educação e ajuda! Tal como armar, financiar, e treinar um exército para ignorar tratados e pacificar o país começando logo pela casa dos sindicatos também não é interferir nem quebrar a neutralidade. Como é que um comunista se pode chatear com tal coisa?
    Ignoremos, então, o custo da guerra, que pagarão através do FMI, da posse pelas Blackrock e Goldman, e pela nova infusão de trabalhadores baratos que nos vão ajudar a disciplinar. O que importa um país arrasado, sem direitos laborais, sem liberdade de expressão, com bandeiristas alegremente no poder, se se pode tornar bom aluno? Afinal, ao contrário do medo do poder dos traidores à ordem natural das coisas, se até a Alemanha aceita a bondade da NED que sejam espiados, lhes ditem quem pode ser refugiado, lhes rebentem com a infraestrutura, lhes roubem as empresas que não forem à falência, abandonar a transição energética e ceder armas na escalada até às bombas nucleares, o chamado “fuck the eu” da pacifista Nuland, é porque no interesse da soberania europeia ficar completamente dependente de quem só faz intervenções do bem por tão baixo preço. Aliás, chegado aqui, é só mais um passo continuar por aí fora até à maior fábrica de balões, esse horrível flagelo, do mundo. Há-de haver uns curdos ou arménios que se possa deitar fora para esse objectivo também, outro custo ignorável.
    Não se percebe como é que um comunista pode ser contra tanta liberdade a flutuar por todos os poros, a seguir ainda vão ser contra a censura e manipulação dos média e redes sociais, queres ver?

    • JgMenos says:

      Pois claro!
      A luta da Rússia pela libertação dos ucranianos das garras dos tiranos ocidentais é a nova cruzada dos comunas cá do burgo, democratas do mais puro extracto totalitário, serviçais indefectíveis da mãezinha Rússia e do paizinho Putin.

      • Paulo Marques says:

        Parabéns, conseguiu argumentar contra o que ninguém disse e ganhar. Parabéns.

      • Paulo Marques says:

        Mas, quanto à libertação, os não-pró-ocidente devem ter voz, ou são todos subhumanos traidores?

  3. francis says:

    será que o PCP ainda vai ter alguns votos nas proximas eleições ou vai fazer companhia ao CDS ?

  4. Fernando José Taborda Barreto says:

    O mais espantoso em tudo isto, são aqueles que acreditam Rússia ou China são comunistas! Estive lá caramba… Politicamente, aquilo é mais Salazarismo anos 50…tanto que os comunistas poderiam fazer em Portugal, pelos trabalhadores, pelos pobres, reformados, Saúde, habitação, ambiente, agricultura…

    • luis barreiro says:

      mata-te ó inocente criança

      • POIS! says:

        Pois tá bem!

        E nas horas livres do matadouro, parece que o burreiro montou uma agência funerária. Para se entreter.

    • Paulo Marques says:

      Daí a importância de haver uma falsa dicotomia de paraíso e selva, tudo o que é fora da luta pelo que existe é o mesmo.

  5. JgMenos says:

    Para os idiotas que possam ter dúvidas:
    Salazar e o seu regime eram anti-comunistas, tinham o comunismo soviético como escarro maior na política mundial e aos comunistas portugueses como seus serventuários.

    • POIS! says:

      Ora pois, cá está! Até que enfim!

      JgMenos em pleno, a confrontar, arrojadamente, JgMenos!

      Para que todos tenham perfeita consciência de que JgMenos não mais irá aturar as dúvidas de um idiota de alto coturno que dá pelo nome de JgMenos!

    • João L Maio says:

      Eram nazis. Como tu.

      • JgMenos says:

        O burro!
        Nazi deriva de nacional-socialismo, e o 13ºmês que mamas todos os anos foram eles que o inventaram.
        Tal como os comunas, fizeram uma ditadura de classe – ralé arvorada a dona e senhora – e fartaram-se de gamar os vizinhos para cumprir o seu destino nacionalista – tal como os soviéticos o fizeram em benefício da mãezinha Rússia.

        Antes me quero com o Salazar mil vezes, do que com qualquer desses filhos da puta, que até fizeram a aliança de divisão da Europa que conduziu à 2º GG.

        • Tuga says:

          “Antes me quero com o Salazar mil vezes”

          Claro, caríssimo legionário Salazarento

          Ou foste PIDE ?

        • Paulo Marques says:

          Ufa, ainda bem que o botas nunca fez uma ditadura de classe matando o movimento laboral com um sindicato do estado em nome dos bons costumes e do capital, ainda seria a mesma coisa.

          • JgMenos says:

            E aqueles marinheiros que iam num dos barcos da Armada para ajudar os comunas em Espanha e acabaram no Tarrafal?
            Esqueces-te desses heróis?

          • Tuga says:

            “E aqueles marinheiros que iam num dos barcos da Armada para ajudar os comunas em Espanha e acabaram no Tarrafal?
            Esqueces-te desses heróis?”

            JgMenos

            Eu bem digo que foste PIDE.

          • Paulo Marques says:

            Nunca li, como nunca li sobre os heróis que foram combater ao lado dos alemães na mesma guerra. Uma falha entre muitas.

    • Carlos Almeida says:

      Carissimo JgMenos

      Deve ser complicado viver ainda no seculo XII.
      Mas tem boa companhia,ideologica como a Senhora Sopa de Balduegas que de vez em quando vem aqui vomitar

  6. balio says:

    O Mário Teixeira ignora a pré-história da invasão.
    Em 2014 a Ucrânia perdeu uma pequena parte do seu território. Poderia ter calado, como fizeram a Geórgia e a Moldávia. Em vez disso, optou pela via da guerra. Passou oito anos a rearmar-se e a bombardear as repúblicas separatistas do Donbass.
    Se há guerra, isso é em boa parte porque o ressurgente nacionalismo ucraniano optou, desde 2014, por essa via.

    • Paulo Marques says:

      Dito assim, também concordava com o Teixeira. Aliás, boa parte concorda porque não passa daí.

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