O ano é 1980.
Aníbal Cavaco Silva é o jovem Ministro das Finanças de Sá Carneiro.
Entre outras medidas, de um pacote destinado a combater a inflação, conta-se esta:
Fixação dos preços dos bens essenciais
O nosso Aníbal já era bolivariano ainda o Chávez era uma criança.
Já a direita chalupa está onde sempre esteve: a alucinar com comunismos que não existem. Fazia-lhes bem, ficar sem os meios de produção durante uma semana ou duas.
Isso era no tempo em que a carcaça e a gasolina tinham preços fixados por lei. Eram produtos únicos e regulamentados por lei (a carcaça tinha um peso fixado por lei, 50 gramas salvo erro), que todas as empresas tinham que produzir de forma idêntica. Atualmente, felizmente, há liberdade e concorrência, cada empresa vende o produto que quer ao preço que quer.
Estou mesmo a imaginar o Estado a fixar o peso, total e escorrido, que uma lata de feijão vermelho cozido deve ter… ou a fixar o preço de cada tipo de bacalhau, de cada proveniência…
Na realidade o paraíso dos Liberocas, que ao mesmo tempo que combatem o governo por deixar subir os preços, ficam todos satisfeitos pelos seus “amigos” das grandes superfícies poderem aumentar os preços sem qualquer controle
E roubar galinhas e vende-las ao dono
os seus “amigos” das grandes superfícies poderem aumentar os preços
Se “tuga” acha que as grandes superfícies estão a aumentar os preços em demasia, passe a comprar em pequenas superfícies. Felizmente em Portugal há liberdade de cada um comprar onde quiser. Compre, por exemplo, nas lojas dos nepaleses ou dos chineses. Encontrará lá excelentes produtos. Eventualmente, a preços mais reduzidos que nas grandes superfícies.
Só compra nas grandes superfícies quem quer. Se “tuga” não quer, não compre. Mas deixe os outros, os que querem, comprar.
“Felizmente em Portugal há liberdade de cada um comprar onde quiser”
Onde ? Ele há cada totó
“Felizmente em Portugal há liberdade de cada um comprar onde quiser. Compre, por exemplo, nas lojas dos nepaleses ou dos chineses.”
Refinadissimo e alternadissimo liberoca
Nós os amigos dos Holandeses do Pingo Doce somos assim.
Estou muito feliz por pagar o dobro do que pagava à um ano, por practicamente razão nenhuma, só porque podem.
Não raclhem, ninguém tem raczão.
Isto só mostra o quanto o “centro de massa” da política em Portugal se moveu para a direita desde então.
Não foi só o centro de massa da política que se moveu. Foi o próprio país que se moveu.
É possível tabelar os preços de “bens essenciais” quando esses bens estão bem definidos e delimitados: um punhado de produtos com caraterísticas bem definidas e vendidos em quantidades tabeladas por lei. Não é possível tabelar preços quando os chamados “bem essenciais” incluem, por exemplo, umas dúzias de variedades diferentes de cereais de pequeno-almoço, outras dúzias de produtos diferentes para barrar o pão, etc etc etc.
Isso não são productos essenciais, nem sequer insubstituíveis.
Já o pão é o pão, desde os jacobinos que se percebe a diferença; é preciso tirar a madame do armazém.
Também o pão tem dúzias de variedades. Vende-se em dúzias de formatos, com dúzias de farinhas diferentes, com ou sem sementes adicionadas, com ou sem produtos como alfarroba, beterraba, curcuma, etc adicionados.
Antes de tabelar o preço do pão seria necessário definir muito bem a composição e o peso dos pães, e obrigar (isso mesmo!) todas as lojas a vender esse pão específico.
Coisa que não cabe na cabeça de ninguém, atualmente.
Pois não. Nem cabe na cabeça o direito ao pão, saúde, trabalho, educação, até à greve que chateie.
Eu repito: para garantir o “direito ao pão” (o qual julgo que não exista, mas admitamos que sim) desta forma seria preciso obrigar todos os estabelecimentos que atualmente vendem pão a venderem algum tipo de pão normalizado, o qual teria um preço fixado por lei. A maioria desses estabelecimentos seria obrigada a passar a confecionar e comercializar um pão “standard” que atualmente não produzem nem comercializam.
Não sei se se apercebem da quantidade de perturbação que isso introduziria nas cadeias de produção e abastecimento. Naturalmente, montes de comércios que atualmente vendem pão prefeririam deixar de vendê-lo a terem que se abastecerem com um pão estandardizado.
Não conseguem arranjar uma solução mais moderna, menos tipo anos 80, de garantir o tal “direito ao pão”?
O pão é uma simplificação que por qualquer motivo insondável um país como a França continua a manter; mas não, se ser moderno é nem haver trabalho por automação que nem corta os custos, nem o básico ser produzido por não dar lucro suficiente, prefiro que se atirem sapatos às máquinas.
Fixar os preços dos bens essenciais é uma medida que tento beneficia os ricos como os pobres.
Na prática, o Estado estaria a subsidiar os bens essenciais que os ricos consomem.
Como muitos bens essenciais tendem a ser mais consumidos por ricos do que por pobres, essa medida poderia acabar por ser mais favorável aos ricos do que aos pobres.
Era o que acontecia dantes, quando o Estado fixava o preço do gasóleo. Na prática, o Estado acabava por vezes (nem sempre) por subsidiar o gasóleo. Como os ricos consomem mais gasóleo do que os pobres, o Estado subsidiava os ricos.
Não sei o que o leva a crer que deixou de o fazer, as estradas e as guerras não se fazem sozinhas, nem a poluição resultante é posta na conta. Mas a energia é um caso à parte, enquanto só há tanto pão que podem comer, mas mesmo assim é um valor irrisório nas suas despesas.
Abranger os ricos com as esmolas não é o problema, continuariam a distribuir mais do que agora.
Para acaso é uma conta fácil de fazer.
O aumento de 95 € no cabaz faz tanta diferença a alguém que ganhe o ordenado mínimo como a quem ganhe 3500 €
Haja decoro