Cecília Meireles: meltdown em directo na SIC

Cecília Meireles, como qualquer político profissional com uma longa carreira parlamentar, terá as suas clientelas. A grande distribuição, ao que tudo indica, será uma delas. Não vejo outra explicação para o meltdown a que se assistiu na SIC Notícias, em debate com Mariana Mortágua sobre a inflação artificial que alguns hipermercados estão a impor aos seus clientes.

No início desta montagem, temos uma Cecília Meireles cheia de certezas. E grita, como nunca a tinha visto, em defesa dos lucros da grande distribuição. Chega a ser comovente, tanta convicção, e uma pessoa até fica com a sensação de haver no horizonte um qualquer lugar num conselho de administração.

Mais tarde, desarmada pelos números, passa a achar coisas. E continua muito exaltada. Segundo a antiga deputada do saudoso CDS, a decisão do governo espanhol em baixar o IVA dos bens essenciais é uma boa ferramenta para combater a inflação. Porém, como Mariana Mortágua lhe tentou explicar, a realidade é ligeiramente diferente: as grandes empresas absorveram o valor do IVA, mantiveram os preços iguais e a inflação voltou a disparar. Durou 15 dias.

Deixo-vos com a segunda parte deste momento lúdico-pedagógico, para perceberem o quão impreparada Cecília Meireles ali apareceu. Não sei quanto a vós, mas eu senti vergonha alheia. A parte da Mariana Mortágua a passar por cima dela com um rolo compressor (metafórico) é só um extra para dar mais cor à coisa.

Comments

  1. Luís Lavoura says:

    Não vi meltdown nenhum

    a inflação artificial que alguns hipermercados estão a impor

    O João Mendes consegue dizer que hipermercados é que estão a impor, e quais não estão?

    E como consegue o João Mendes provar que essa inflação “artificial” somente ocorre nesses hipermercados malévolos, e não alhures?

    Na loja em que o João Mendes se abastece, algures na Trofa e que não é um hipermercado, não há inflação? Ou somente há inflação natural?

    • Paulo Marques says:

      É pá, sei lá, talvez olhando para a margem de lucro a disparar, ao contrário do resto da cadeia, e pedindo esclarecimentos; sei lá, cumprir o objectivo dos reguladores desde que existem, loucura!

      • Luís Lavoura says:

        olhando para a margem de lucro a disparar

        A Mercadona diz que em Portugal tem prejuízo.

        A Jerónimo Martins diz que a imensa maior parte do seu lucro provém da operação na Polónia; em Portugal praticamente não dá lucro.

        A Sonae apresentou ontem as suas contas. O lucro duplicou, o que não pode propriamente ser considerado um aumento extravagante.

        Isto são as grandes distribuidoras. Quanto às pequenas, você não faz ideia de se o seu lucro é grande ou pequeno, uma vez que a sua contabilidade não é pública.

        • Paulo Marques says:

          Se dizem, é porque é verdade, apesar da única que apresentou contas depois da engenharia financeira apresentar o contrário.
          Pá, é assim tão estranho querer que as autoridades façam o seu trabalho de ver os números?

  2. Luís Lavoura says:

    Em vez de acusar os hipermercados de serem os culpados pela inflação, o João Mendes faria bem em castigar os Governos e o Banco Central Europeu por ela.
    (1) Porque impediram as pessoas de trabalhar durante a pandemia, ao mesmo tempo que lhes pagavam. Como é evidente, menor produção com o mesmo dinheiro somente poderia conduzir a inflação.
    (2) Porque depois da pandemia criaram uma “bazuca” que promove trabalhos numa economia que já está saturada e com falta de trabalhadores, dessa forma contribuindo para o aumento dos preços.
    (3) Porque declararam guerra económica à Rússia, dificultando todas as transações económicas com ela e dessa forma promovendo a escassez ou o encarecimento dos produtos que a Rússia produz.
    Tudo políticas estúpidas que o João Mendes deveria acusar, em vez de dizer inanidades sobre supostos hipermercados diabólicos.

    • Paulo Marques says:

      (1) Estamos em 2023, os confinamentos onde já vão. E esses foram os primeiros a serem atirados à praga, lembra-se de Odivelas? Acha que é única?
      (2) Está mais que demonstrado que a bazuca é minorca, mal ainda foi usada, e o que chega aos trabalhadores vai para pagar dívida. E continuam a perder poder de compra.
      Quanto à falta de trabalhadores, queixa-se ao INE, que tem, e sempre teve, o indicador a dizer o oposto.
      (3) Só é relevante se houver, de facto, escassez ao nível correcto. Tenho dúvidas, mas, vá, meia banana.

    • Abel says:

      Se por causa da guerra ou o quer que seja a energia, matérias primas, etc estão a preço mais elevado, mas para todos, como se explica que as grandes distribuidoras, que estão no fim da linha, em vez de terem uma redução de lucros (como seria de esperar) os têm vindo a aumentar e de forma astronómica?
      Como se pode ganhar mais se aquilo que se compra está mais caro e se vende a quem tem menos para pagar?

      • Luís Lavoura says:

        as grandes distribuidoras, em vez de terem uma redução de lucros (como seria de esperar)

        Isso não seria de esperar.

        Qualquer gestor de empresas ajusta o preço a que vende o seu produto ou serviço por forma a manter uma certa margem de lucro para si. Como é natural: as empresas funcionam para ter lucro.

        Isso é feito tanto pelas grandes distribuidoras como pelos proprietários de mercearias: esses também aumentam os preços por forma a continuarem a ter algum lucro.

  3. Paulo Marques says:

    Portanto, apresentar uma correlação é mais prova que estudar a causalidade, e está tão certa e pouco ideológica que atira explicações à balda sobre questões relevantes para validar a explicação.
    Palavras para quê, é economia, a matemática não é relevante.

  4. jose valeriano says:

    A verdade é que quem criou a inflação foram os Governos.
    Os mesmos que apregoam diariamente que tudo o que está a acontecer é por causa da guerra.
    Se por ventura já sabiam que impondo sanções á Russia isto iria acontecer o que esperavam estes senhores.
    Uma grande parte da população pensa que é só atirar sementes á terra e está feito, esquecendo que um dos maiores problemas neste momento é as imposições impostas pelos governantes na área da agricultura e outros meios de produção.
    As tais alterações climáticas que eles apregoam vai dar nisto e assim o aumento dos bens vai subir porque ficam mais caros na produção derivado a não poderem utilizar certas substancias nas terras.
    Não sou agricultor mas qualquer pessoa que saiba o que é a terra sabe no que isto tudo vai dar.
    Muita fome vêm por aí sem que as pessoas se apercebam.
    Esperem mais uns tempinhos que ela vai chegar em força.

    • Paulo Marques says:

      Sabiam, mas é mais democrático não assumir os custos e perguntar ao povo.
      Mas as alterações climáticas vão acontecer a mal ou a mal, um ano com falta de água por todo o lado como o anterior, que se vai repetir com mais frequência, terá um impacto impensável.

    • Luís Lavoura says:

      A verdade é que quem criou a inflação foram os Governos.

      Exatamente. Essa é que é a verdade.

      E criaram a inflação porque ela para eles é útil. A inflação é uma forma de taxar a população. Como os governos atualmente estão todos crivados de dívidas, a inflação é-lher útil para fazer diminuir o peso da dívida.

      Por exemplo Fernando Medina, que devido à inflação já reduziu substancialmente a razão entre a dívida pública e o PIB.

      • Paulo Marques says:

        A inflação é uma forma de taxar a quem não se permite que aumente o rendimento.
        Cair a quem trabalha é uma escolha ideológica. Assumida, tal como aumentar o desemprego, mas só aos jornais financeiros que a plebe não vê.

  5. Paulo says:

    Bem além do lugar para a Cecília …p.f. é necessario um urgentemente de um para o nosso “amigo” Lavoura. A SONAE , a Jerónimo Martins ainda não o descobriram? Mais uma injustiça…

    • Douriense says:

      Os defensores da nossa querida macaquinha são uma força

  6. JgMenos says:

    Tão simples!
    O que ela disse é uma evidência para a qual invocou ter números: se o mercado absorveu o Iva em Espanha, a seguir os preços estabilizaram comparativamente à contínua subida dos preços em Portugal.
    Mai uma oportunidade para má-língua.

    • POIS! says:

      Pois tá bem, ó Menos!

      Citando Vosselência: “se o mercado absorveu o Iva em Espanha, a seguir os preços estabilizaram comparativamente à contínua subida dos preços em Portugal”.

      Foi? Não me diga!

      Fui ali ao Eurostat e verifiquei que, em 2 de Março, foi publicada a estimativa do mês de fevereiro e:

      Em Espanha, a taxa de inflação subiu, em termos anuais, de 5,9% em janeiro (5,5 em dezembro), para 6,1% em fevereiro. Em termos mensais, subiu 1% (esta é mesmo superior à da Zona Euro em 0,2%!).

      Em Portugal é superior, mas manteve-se em relação a janeiro (8,6%) (em dezembro tinha sido de 9,8%). Em termos mensais subiu 0,4%, portanto abaixo da zona Euro).

      É certo que a Dona Meireles tem lá uma empregada doméstica que manda todos os dias ao supermercado a comprar dois quilos de números, que ela engole ao pequeno almoço para ir regurgitando há medida que arrota comentários, posta tuítes e produz podecastes.

      Assim por assim, confio mais na má-lingua do Eurostat.

      • JgMenos says:

        «mas manteve-se em relação a janeiro (8,6%)»?!?
        Traduzindo: cresceu tanto como em Janeiro….

        • POIS! says:

          Ora pois!

          Vamos lá a ver…Salvaguardando que os números de fevereiro são provisórios…

          Em Portugal:

          A taxa manteve-se!

          Foi igual em janeiro e fevereiro!

          A de janeiro foi igual à de fevereiro!

          A de fevereiro foi igual à de janeiro!

          A taxa, em janeiro e em fevereiro, foi de 8,6%.

          No ano que vai de fevereiro de 2022 a janeiro de 2023, a taxa de inflação foi de 8,6%. No ano que vai de março de 2022 a fevereiro de 2023 foi, outra vez, de 8,6%.

          Isto quer dizer que, em ambos os casos, e nos períodos descritos, os preços cresceram 8,6%.

          Também quer dizer que os preços, nos referidos períodos não cresceram mais de 8,6%, nem Menos de 8,6%.

          Em Espanha:

          A taxa cresceu!

          Não foi igual em janeiro e fevereiro!

          A de janeiro foi inferior à de fevereiro!

          A de fevereiro foi superior à de janeiro!

          A taxa, em janeiro foi de 5,9% e em fevereiro foi de 6,1%.

          No ano que vai de fevereiro de 2022 a janeiro de 2023, a taxa de inflação foi de 5,9%. No ano que vai de março de 2022 a fevereiro de 2023 já foi de 6,1%.

          Isto quer dizer que, no primeiro dos períodos, a taxa de crescimento dos preços foi inferior à do segundo período considerado.

          Também quer dizer que, no segundo dos períodos, a taxa de crescimento dos preços foi superior à do primeiro período considerado.

          Também quer dizer que o crescimento dos preços, nos referidos períodos não foi igual.

          Viu em algum lado alguma afirmação a negar que os preços continuaram a crescer? Onde?

          Só que, em Espanha, o crescimento dos preços intensificou-se no período anual que terminou em fevereiro.

          Em Portugal o crescimento dos preços não se intensificou no período anual que terminou em fevereiro.

          Estranhei Vosselência ter-me (tentado…) dar resposta. Começo a desconfiar que Vosselência é, na realidade, a empregada doméstica da D. Meireles de que falei no comentário anterior.

          A má-língua do Eurostat é verdadeiramente lixada!

          • POIS! says:

            Ah! E também registo que Vosselência passou com a leveza do elefante, de nenúfar em nenúfar, com as patinhas por cima da inflação mensal de 1%.

            Em Portugal foi de 0,4% e já é bastante preocupante!

            Acha pouco???

            Dá uma inflação anualizada de mais de 12% (12,67 mais ou Menos…). Para “estabilização” de preços, não está mal…

            Quando saírem os números desagregados da inflação do Eurostat, cá estaremos para ver de onde vem…

    • Paulo Marques says:

      Números há muitos, causalidade é outra coisa. E quando se tenta provar que estamos perante um caso anormal, ainda mais explicação devia ser necessária.

  7. jose valeriano says:

    Quanto ao Medina apresentar números da diminuição da divida, são meramente números.
    A verdade é que os números da divida são fictícios pois eles só apresentam a divida em relação ao PIP.
    Se o PIP cresceu logo a divida diminui.
    Agora vamos aos números mas em valores para ver se a divida decresceu:
    2016- 245.244 MM
    2017- 247.174 MM
    2018- 249.260 MM
    2019- 249.977 MM
    2020- 270.494 MM
    2021- 269.249 MM
    2022- 274.104 MM
    (fonte Pordata)
    Se se chama a isto uma diminuição da divida eu vou ali já venho.

    • POIS! says:

      Pois o PIP…

      O que será?

      Ah! Já sei! Produto Interno Pimba!

      Mede a relação entre o que se pede emprestado e a produção parlamentar da Irmandade do Venturoso Quarto Pastorinho.

      E a verdade é que o Pimba está em alta. Por isso a dívida pesa menos no PIP.

      Confere!

    • Paulo Marques says:

      Só uma minoria de liberachos é que acham o valor absoluto relevante para alguma coisa, baseado em coisa nenhuma. Nem os tótós da Troika estão para aí virados. A inflação também implica que a base do PIB aumenta permanentemente.

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