Taiwan, a última batalha pela hegemonia

Pequim regressou aos exercícios militares nas fronteiras de Taiwan, simulando bombardeamentos e um cerco total à ilha. É o intensificar de um passo crucial na sua afirmação internacional. Se os EUA podem provocar os seus inimigos com exercícios militares em qualquer ponto do globo, os chineses sentem-se igualmente livres para o fazer no seu quintal, mais ainda quando se trata de um território que o consideram seu.

Taiwan, é bom que estejamos cientes disso, tem os dias contados. Porque não tem argumentos militares para dissuadir um ataque de larga escala e porque, ao contrário, por exemplo, da Ucrânia, não é sequer reconhecido como um Estado soberano. Os próprios EUA, que sempre usaram Taiwan como instrumento de política externa na região, não reconhecem a sua independência. Reconhecem, apenas e só, a sua rentabilidade e valor geoestratégico.

É sabido que os chineses são pacientes. E Xi Jinping tem sido muito claro sobre o posicionamento do país face à província rebelde. Julgo que será uma questão de tempo até que um destes exercícios, cada vez mais frequente, se converta numa invasão real. E o momento é perfeito, numa fase em que o Ocidente está cada vez mais enterrado em dívidas, ingovernabilidade e no conflito em curso na fronteira leste, com a perspectiva real de que os EUA deixem a Europa à sua sorte, caso Trump ou DeSantis derrotem Biden em 2024. Virá Washington em auxílio de Taipé, em caso de invasão chinesa? A Casa Branca diz frequentemente que sim, mas é pouco provável que convença as instituições e os americanos a manter dois conflitos em curso, contra duas potências nucleares. E se os custos do embargo à economia russa foram tão prejudiciais para o modo de vida ocidental, aplicar igual receita à China, da qual a economia europeia e americana dependem umbilicalmente, poderá ser a estocada final no que resta da hegemonia americana.

Comments

  1. Luís Lavoura says:

    Há que ter em conta que se situa em Taiwan a empresa mais valiosa para a economia atual, a Taiwan Semiconductor Manufacturing Company, que fabrica 90% dos microchips mais avançados da atualidade, e os exporta para todo o mundo. Todo o mundo usa os microchips fabricados em Taiwan, desde que sejam os mais pequeninos e avançados. Se a China adquire o controle dessa empresa, os EUA podem ficar em maus lençóis.

    • Anonimo says:

      A empresa mais valiosa é ASML. Que é o centro de uma luta de patentes e cadeia de produção.

  2. Paulo Marques says:

    As fábricas não sobreviviam se depender de Taiwan (ou são parvos em não ameaçar e usar a sua bomba atómica), pelo que estaríamos todos em maus lençóis. Mas quanto à defesa por Washington, não é por nada que reabrir uma fábrica de processadores para desviar a produção também de Taiwan foi uma das prioridades do executivo. Quando são os outros é nacionalismo contra o sistema de regras do mercado livre, ali são só interesses estratégicos.
    E o parvo sobre a China é Macron.

    • Dour says:

      O “parvo” Macron deu uma lição de estratégia aos seus colegas europeus.
      E estranho ser tão contestado pelos avecs sejam de esquerda ou liberocas

      • Carlos Almeida says:

        Estranho ou talvez não

      • Paulo Marques says:

        Alguém destruir os direitos de quem trabalha ser contestado pela esquerda é algo desconhecido na história da própria esquerda… certo.
        Quanto a lição, veremos; não é o primeiro gaulista, nem é a primeira vez que incha o peito. Fazer é outra coisa, ainda para mais um banqueiro de profissão.

        • Douriense says:

          “direitos de quem trabalha” passar a reforma dos 62 para os 64 anos ?
          Em Portugal e na maior parte dos Países da Europa aos quantos anos é a reforma ?

          • Nortenho says:

            A canalha sabe la essas perguntas muito complicadas

          • Anonimo says:

            Quem diz 64 diz 69. Se calhar o pessoal até aderia

          • Paulo Marques says:

            64 para uma minoria, e o importante é que estejam tão mal como nós. Mas não é a única reforma, só a que foi forçada com poderes de guerra.

  3. Anonimo says:

    Se a China invadir é fazer um embargo, carago.

    E o Tibete, já é livre?

    • Figueiredo says:

      Desde 1950.

    • Salgueiros says:

      Pelo menos de fazer asneiras, é livre

    • Paulo Marques says:

      Um embargo à fábrica do mundo e à dona da electricidade é capaz de ser giro.

      • Anonimo says:

        Basta o movimento ser liderado por um verdadeiro homem de esquerda, até se lhe tremem as pernas aos chinocas.

        • Paulo Marques says:

          Nunca se saberá, são todos anti-semitas, putinistas, machistas, passam férias na Venezuela e bebem vodka com o Estaline.

          • Nortenho says:

            Anti semita ou anti sionista? O anti semita é uma treta para defender os sionistas

          • Paulo Marques says:

            Bom, pela companhia devia ter percebido que era essa a ideia…

  4. O pseudo-progressismo, de treta e expressão de um idealismo dito de ruptura, passou a um cómodo realismo que se reduz a avaliar forças em presença e níveis de vontade de as usar.
    A ditadura chinesa – diz-se comunista, mas a cambada ‘progressista’ já não cuida de saber onde está o comunismo na China – mostrou as suas cores em Hong-Kong, onde estava vinculada por tratado internacional – aparece agora como árbitro de uma qualquer ordem internacional que não define.

    O desprezo que a opinião ‘progressista’ demonstra pelo destino da democracia praticada em Taiwan demonstra as suas verdadeiras cores – o pardo do oportunismo despido de valores.

    • Paulo Marques says:

      Não define o caralho, é uma versão moderna do bancor em detrimento da merda do padrão-ouro. O contabilista devia reconhecer de caras.
      Quanto à preocupação pela democracia, opá, qualquer dia estes facholas ainda se preocupam com a onda de prisões e agressões a jornalistas aqui pelo mundo civilizado, ou pela prisão de uma deputada europeia com imunidade. Muita, muita preocupação, só se for com o capital. E as botas dos fardados que os protegem.

    • Nortenho says:

      ” despido de valores”

      Mas os Salazarentos recauchutados como tu, têm valores ?

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