Dar colo ao bebé

Ainda alguém me há-de explicar, com racionalidade e argumentos sólidos, por que razão é que o líder da extrema-direita tem direito a tanta exposição mediática nos órgãos de comunicação social deste país.

Afinal, não precisam de me explicar, a resposta é simples: dá audiências. Tanto os que gostam da besta como os que a detestam, são encantados com notícias e entrevistas visando o Chega e seu “querido líder” e nem todos podem ser como eu, que quando vê a cara do homem ou ouve a sua voz, corre para o comando da TV para mudar imediatamente de canal. É um sentimento tão visceral que sou incapaz de manter o “gajo de Alfama” no meu raio de visão ou de lhe dar a oportunidade, nem que seja por um segundo, de me rasgar os tímpanos com a sua voz.

Resumindo, porque já abordei este tema e explanei a minha opinião, o Chega não é um fenómeno político. O Chega é um fenómeno televisivo e, por conseguinte, é um fenómeno de audiências. E não, nem todos são pequeno-burgueses como eu e, como tal, a maioria do país ainda passa muitas horas em frente à televisão, o que faz com que este encantador de antas chegue a casa de muita gente. Portanto, o Chega cresce porque lhe dão palco de forma desmesurada face à sua real importância. Nasceu na televisão, mora na televisão e há-de continuar a ser alimentado pela televisão. É a consequência da mercantilização do jornalismo.

E não é aqui dito que um partido com representação parlamentar (e a sua fundação e existência é outra estória) não deva ter audiências. Mas numa altura em que anda tudo a falar do “crescimento do populismo” e do “combate contra a extrema-direita”, convinha, se calhar, por começar a não ser um veículo para as mensagens da extrema-direita que tanto dizemos querer combater. O aldrabão-mor conseguiu ter apenas cerca de 40 minutos a menos de exposição do que, imagine-se, o primeiro-ministro. Acima do presidente da República. E, pasme-se, o PCP é o único partido que nem sequer aparece no top 10. Se calhar, neste ponto, aqueles que tentam equiparar o Chega ao PCP (e até ao Bloco, que consegue um 8.o lugar), deviam começar por tentar dar mais audiências a BE e a PCP… pelo menos para tentarmos aferir se essa equivalência é, como é, estúpida.

Continuem, portanto, a alimentar o monstro. E ele continuará a crescer.

Comments

  1. Abstencionista says:

    Infelizmente na política ninguém precisa de “elementos sólidos” para alcançar o poder.
    Mas sempre te digo que os políticos que mandam neste país são tão maus que fazem parecer o ventura bom.

    Mas lembrei-me agora, “en passant” , do vídeo que me mandaram hoje sobre o discurso do ventura na AR sobre os lesados do BES e os chorudos lucros da banca.

    Ora aí está um exemplo daquilo que referi acima.

  2. Paulo Marques says:

    Queres ver que interessa ao capital, dono da coisa, transparecer que a única alternativa é um derivado do fascismo, mais corporativista e menos mitológico?
    Na, pode lá ser.

  3. Luís Lavoura says:

    Se o João Maio tivesse uma certa idade, lembrar-se-ia de que na sua juventude o Bloco de Esquerda também foi levado ao colo pelos jornalistas.

    • Paulo Marques says:

      Eu tenho. Não foi. E tanto não foi que os direitos laborais ou os serviços públicos estão onde sempre disseram que iam chegar.

    • Pimba! says:

      Se o liberalocas Lavoura näo tivesse memória selectiva, lembrar-se-ia de que isso nunca aconteceu.
      O BE teve mais mediatismo que o PCP (näo é difícil, porque era zero), mas nunca, por nunca ser, mais do que o principal partido da oposição ou o PR, como fazem agora com o partido do encantador de burros.

      • Anonimo says:

        O Chega ser o rosto da oposição é o maior trunfo do Costa para se ir aguentando. E vencer as próximas.

        • Paulo Marques says:

          As próximas, e o seu resultado, são um problema para quem vier a seguir e quem ficar.

  4. Porque o PS quer e o PS manda, como já toda a gente percebeu (julgava eu). Aliás, se o Torres e o Brilhante não estão autorizados a abrir a boca sem falar do Chega (nem de voltar a fechá-la, sem o ligar ao Montenegro), mesmo quando o assunto era o tempo, gajas ou bola, como estariam o Teixeira e a Anabela?

  5. Carlos ferro says:

    O “gajo de Alfama”?
    Pensava que era o gajo de “Algueirão Mem Martins”

  6. Anonimo says:

    Vejo no top-5 apenas elementos ligados ao Governo. À boa imagem do Governo.
    Uns atacam, mas é estilo WWF, tudo a brincar.

  7. estevesayres says:

    O que isto quer dizer, é que nada muda, ou seja mudaram as moscas mas a m****, é sempre a mesma! Como sempre, queixam-se!? E votam nos mesmos de sempre, e agora em gente, com tiques a roçar o fascismo e o nazismo, Se for mentira, até faço um desenho

  8. Salgueiros says:

    Sobre o lixo do futebol português !

    https://www.rtp.pt/noticias/fc-porto/sergio-conceicao-estou-habituado-aquilo-que-e-o-lixo-do-futebol-portugues_d1487575

    Este deve falar do que sabe ao fim de tantos anos la no meio

    • Paulo Marques says:

      E sem pagar renda na cabeça de tanto melão. Isso ainda é medo de perder o que foi oferecido à meses?

      • Anonimo says:

        Há títulos oferecidos no futebol português?

        • Paulo Marques says:

          Mas só de prenda a juízes e funcionários judiciais a actuarem em interesse próprio, que o resto é tudo muito sério.

          • Anonimo says:

            Na bola como na política, para os Paulos é tudo corrupto e comprado. Do outro lado. Deste lado é só virtude. Ou como dizem agora, virtualidades.

          • Salgueiros says:

            “Mas só de prenda a juízes e funcionários judiciais”
            Ainda me lembro quando o gangster que é o dono de um macaco e tem um clube de ciclismo, foi avisado por um juiz para fugir para Espanha. Mas não se passa nada, tudo gente boa.
            Mas esse juiz não foi pago na altura, já tinha uma avença multi anual como prémio

          • Paulo Marques says:

            Quando não há argumentos, põe-se palavras na boca dos outros. Nem merece resposta.

          • Salgueiros says:

            “Mas só de prenda a juízes e funcionários judiciais a actuarem em interesse próprio, que o resto é tudo muito sério.”

            Quem escreveu isto não fui eu.
            Os manhosos do costume.
            Fraude e corrupção há 30 anos e armam-se em inocentes

          • Paulo Marques says:

            30? Não pode ser 49, para ser mais justo, só por causa do Langenhove?
            O que vale é que sabe logo a quem cabe a carapuça, enquanto continuo à espera de saber quem é a Paula.

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