Syriza a ver-se grego: as eleições na Grécia

Kyriakos Mitsotakis, dos conservadores do Nova Democracia, é re-eleito. Fotografia: Milos Bacanski/Getty Images

O Partido da Nova Democracia voltou a vencer as eleições na Grécia. Sem maioria, o que obrigará a uma segunda volta e, posteriormente, a uma ginástica parlamentar, mas volta a eleger um governo, depois dos anos em que o partido social-democrata, o Syriza de Aléxis Tsípras, galvanizou o eleitorado farto da crise e dos acordos com os FMIs da vida.

A surpresa é, lá está, o próprio Syriza, que atinge apenas os 20%. Mas, a meu ver, o Syriza não perde votos para a direita conservadora (por muito que, há uns tempos, a estratégica aliança com os conservadores populistas dos Gregos Independentes tenha sido um erro de palmatória – que levou, aliás, a que vários dos seus mais activos militantes saíssem do partido de Tsípras). Perde votos para os outros partidos de centro-esquerda e de esquerda, que crescem. Assistimos ao ressurgimento dos social-liberais do PASOK, que julgávamos já mortos e enterrados, e à subida dos comunistas do KKE.

Ou seja, o discurso do Syriza, conjugado com as acções e decisões que foi tomando enquanto foi governo no período 2015-2019, levam, agora, a este resultado. Depois da surpresa e frescura iniciais, o Syriza começa a “pasokizar-se”, o que se apresenta como um contra-senso, na medida em que o PASOK, adepto confesso da Terceira Via – tal como o Partido Socialista em Portugal – aparece renovado e a mensagem mais radical dos comunistas consegue captar eleitorado. Por seu turno, o MeRA25, partido do dissidente do Syriza Yanis Varoufakis, desaparece do parlamento helénico, o que afere o falhanço dos dois partidos social-democratas, não só enquanto oposição, mas também muito por causa dos anos em que o Syriza foi governo. Já o partido da extrema-direita grega, o Solução Grega, ficou em último lugar, mas aumentou o número de deputados – e até pode ser a chave para que o Nova Democracia governe sem grandes sobressaltos se, tal como o PPD em Portugal, olhar para a extrema-direita como uma aliada.

Concluiu-se, portanto, que o estilo e a abordagem do Syriza aos problemas da Grécia parecem ter-se esgotado, podendo, até, mais tarde ou mais cedo, perder o estatuto de “principal partido da oposição” e de real alternativa ao governo conservador de Kyriákos Mitsotákis, agora re-eleito, para o renascido PASOK – o que, a acontecer, seria uma péssima notícia para os gregos. É, a par do partido de Varoufakis – que, no fundo, é um Syriza mais radical -, o grande derrotado destas Legislativas na Grécia. Por isso, a bem que o Syriza se re-invente, reúna as suas tropas e afina outra estratégia – ou cairá ladeira abaixo, mostrando que não passou de um epifenómeno. Se calhar, era altura de mudar a cara do partido, elegendo um novo líder que não esteja esgotado e que seja capaz de, em 2027, re-erguer o Syriza para, pelo menos, se assumir tacitamente como a verdadeira alternativa ao conservadorismo grego.

Aléxis Tsípras, líder do Syriza, o grande derrotado da noite. Fotografia retirada de: Agência Lusa

Comments

  1. Carlos Almeida says:

    Claro. Ninguem quer um clone quando pode comprar o original mais barato.
    A terceira via de que em Portugal o Sr Ministro dos Negócios Estarngeiros é o ideólogo ou pelo menos propagandista ha 20 anos, é uma fraude, tal como o seu propagandista mor

  2. TAYEB HABIB says:

    Então, ninguém comenta sobre a liberdade de imprensa na Grécia. Porquê? Porque é que a Grécia é tratada diferente da Turquia? “Repórteres Sem Fronteiras” em 2023 classificou a Grécia em 107° lugar no mundo de 180 países em termos de liberdade de imprensa .

    • Paulo Marques says:

      Mas e o crescimento da economia, senhores?

    • João L. Maio says:

      Sim, há uma deriva anti-democrática na Grécia desde que este governo chegou ao poder. Daí que conclua que seja provável que o ND se junte à extrema-direita para ter mais peso parlamentar.

      Nesse índice, a Grécia consegue a proeza de, imagine-se, ficar abaixo da Hungria, que tem um governo assumidamente neo-fascista.

  3. Paulo Marques says:

    Se é que serve para alguma coisa, o MeRA25 não é simplesmente um Syriza mais radical, é um partido com uma linha e princípios claros que pode não chegar a lado nenhum, mas não será o PASOK 3.0. O homem nem se aproveita de ter sido agredido por meia dúzia de fasços!
    De resto, com tanto partido num sistema eleitoral que favorece descaradamente quem mais votos tem, é o que há.

    • João L. Maio says:

      Contra mim falo: o Varoufakis, em termos de princípios e clareza ideológica, dá 10-0 ao Tsípras. Mas parece-me demasiado sério para este circo todo que é a política.

      Nunca passará de moda, e será sempre inesquecível, o seu discurso depois da vitória em 2015:

      https://youtu.be/hc3lW3Nj1PU

      • Paulo Marques says:

        Também contra mim falo, até o ouvir explicar-se depois do Adults in the Room parecia-me ora optimista irresponsável, ora traidor do voto.
        Do que li/ouvi depois, tem, ao menos, uma visão da Europa e do mundo; posso achar demasiado optimista, mas faz por ela, aos poucos, dentro do pouco possível que existe, onde só falar em paz é traição ao paraíso.

    • Carlos Almeida says:

      “fasços!”

      Sempre os ouvi chamar de fachos, ou estarei enganado ?

  4. João Paz says:

    Quando o Syrisa , no poder, foi a Israel louvar o regime sionista de apartheid enterrou em definitivo a pouca credibilidade que ainda possuía.

    • João L. Maio says:

      Não só, mas também. Quando se aliou aos reaccionários conservadores do Gregos Independentes, para poder formar governo, deu logo um tiro no pé.

  5. Carlos Almeida says:

    Os liberocas gostam muito de dizer coisas

    https://www.rtp.pt/noticias/politica/rui-rocha-acusa-primeiro-ministro-de-querer-ativar-guerra-com-cavaco_v1488248

    Activar guerra com cavaco ?

    Mas alguem se meteu com a múmia paralítica ?
    Diz o que lhe apetece e ninguem lhe pode responder ?
    Ao contrario do que os PPD dizem, acho que vem mostrar a fraqueza do senhor de Espinho.

  6. Tuga says:
  7. Pimba! says:

    “Interessante” é ver que as sondagens até 1-semana-1 antes das eleiçṏes davam 30% ao Syriza, que no fim só levou 20% dos votos.
    Sim, “interessante” no sentido de “cheira a marosca”.
    https://en.wikipedia.org/wiki/Opinion_polling_for_the_May_2023_Greek_legislative_election

    • Paulo Marques says:

      Está longe de ser a primeira, sendo marosca ou não, um pouco por todo o lado. Algumas são simples falta de vontade e poupança de dinheiro, que são pagas na mesma.

      • Pimba! says:

        Aqui näo säo umas décimas de diferença, é quase 1/3 dos supostos votos.
        Tanto pessoal a trolar as sondagens? Nem com a famosa “eficiência grega” se justifica…

  8. Paulo Marques says:

    E o PSD quase ganhava as últimas eleições, lembra-se?

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