Resta saber se serve…

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O Conselho Constitucional francês validou a primeira lei europeia especificamente contra a manipulação da informação on-line em período eleitoral (a aplicar nos 3 meses anteriores ao primeiro dia do mês das eleições), salientando que apenas devem poder ser eliminadas das plataformas de distribuição:

1) As informações manifestamente falsas ou enganadoras (e não as paródias, as informações parcialmente inexactas ou simplesmente exageradas);

2) relativas a factos (não abrangendo, portanto, as opiniões);

3) que possam condicionar, de forma manifesta e objectivamente demonstrável, a sinceridade da eleição; e

4) que sejam distribuídas de modo automático, massivo e deliberado.

A eliminação é requerida judicialmente através de processo sumário, devendo o juiz decidir no prazo de 48 horas.

A lei requer aos operadores de plataformas on-line cuja actividade exceda, em França, um certo número de conexões, que forneçam aos utilizadores informações leais, claras e transparentes sobre 1) a identidade das pessoas singulares ou colectivas que pagam à plataforma para a promoção de conteúdos informativos relacionados com um debate de interesse geral (isto é, com o acto eleitoral a realizar), 2) o montante de tais remunerações, se for superior a um determinado limiar fixado por decreto, e 3) o uso que é feito, como parte desta promoção, dos dados pessoais dos utilizadores. Esta informação é agregada num registo disponibilizado ao público e actualizado regularmente durante o período em questão. O incumprimento destas regras pode dar lugar a um ano de prisão e a uma multa de 75.000 euros.

A lei prevê ainda o estabelecimento, pelos operadores das plataformas on-line, de um sistema que permita aos seus utilizadores assinalar informações falsas e vincula esses operadores a aplicar medidas adicionais que podem incluir a transparência dos algoritmos ou a luta contra as contas que promovam a divulgação massiva de informações falsas.

Vista com estas reservas, parece ser uma lei equilibrada e necessária para fazer frente à intoxicação da opinião pública que a extrema-direita vem desenvolvendo de forma metódica e sistemática, na Eu ro pa, nos Estados Unidos e no resto do mundo, cavalgando sem escrúpulos o descontentamento das populações com os vícios dos sistemas políticos e a tibieza das políticas públicas.

 

 

Frozen

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Só pode ser brincadeira. Então o OLAF, intervindo no âmbito de um pedido de apoio que lhe foi dirigido pelas autoridades portuguesas, declara taxativamente que houve fraude na gestão dos fundos europeus atribuídos, entre 2000 e 2013, aos projectos da Tecnoforma e o MP português arquiva, em Setembro de 2016, por falta de provas, o processo? Sem sequer fazer referência, no respectivo despacho, à investigação que correu naquele organismo da Comissão Europeia especializado no combate à fraude?

O Marquês

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Há quem se impressione com o número de crimes imputáveis a José Sócrates pelo Ministério Público mas, depois de assistir a esta entrevista, onde se terão enumerado os pontos fundamentais da acusação, apenas consegui adensar as minhas dúvidas sobre a sobrevivência deste processo judiciário com tão pouco de judicioso. Não sendo a televisão um tribunal, muito embora tenha funcionado, nestes 3 anos de preliminares, como palco para um julgamento que já terá sido efectuado pelo público – ninguém quer acreditar que Sócrates não meteu dinheiro ao bolso -, o certo é que a representação do MP feita pelo jornalista de serviço apenas permitiu que o actor principal tenha dado um passo seguro para reconquistar o seu direito à presunção de inocência junto da opinião pública. Não se esperava que Vítor Gonçalves, que luta contra o estigma das suas supostas simpatias políticas, aguentasse o embate com este ex-primeiro-ministro, e nem mesmo que dominasse as 4.000 páginas da acusação (que trouxe ao ecrã para dar substância e clamor ao libelo, supõe-se…), como naturalmente o demonstrou fazer José Sócrates. Mas este espectáculo, a que mais uma vez assistimos neste campo, teve como único resultado a severa goleada de Sócrates ao Ministério Público.

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Ele vive!

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Muitos pediram e ei-lo que regressa, impante e em grande forma.

Parece que finalmente chegou…

FCC… o pai natal às operadoras de telecomunicações norte-americanas. Vem para estragar o negócio às tecnológicas e para acabar com a internet como a conhecemos. A ver vamos se a União Europeia se fica. Como dizia o cego…

Convento, Tomar mais cuidado com as Fogueiras da Inquisição

Depois da tempestade mediática a propósito de incomensuráveis e gravíssimos danos provocados no Convento de Cristo, em Tomar, pela equipa do filme “O Homem Que Matou Dom Quixote”, tempestade criada, como é habitual, pela apresentação unilateral daquela versão dos factos que mais interessa ao “clickbait” e à inflamação das audiências – e sem prejuízo do resultado do inquérito que será sempre necessário aguardar para formar uma opinião mais consistente sobre o assunto – entendi, porque prezo o contraditório e torço o nariz quando esse princípio não é devidamente respeitado por quem o deve respeitar (os jornalistas, óbvio), republicar o seguinte esclarecimento da produtora UKBAR, responsável pelas condições de rodagem do filme parcialmente rodado no Convento de Cristo:

[Ukbar Filmes]

“Em virtude das alegadas informações que têm sido veiculadas nos últimos dias relativas a “destruição” no Convento de Cristo em Tomar durante a rodagem do filme “O Homem Que Matou Dom Quixote” do realizador Terry Gilliam, cabe à UKBAR, produtora portuguesa do filme, assumir as suas responsabilidades e esclarecer o seguinte:

Verificaram-se, de facto, alguns danos, que foram devidamente contabilizados, pela equipa de peritagem associada ao Convento, que tão bem conhece o espaço e fez a sua avaliação antes e depois da rodagem. Para que conste, esses danos saldaram-se em seis (convencionais e de fabrico recente) telhas partidas e quatro fragmentos pétreos de dimensões reduzidas e variáveis, de aproximadamente 8 centímetros, no máximo. Importa também esclarecer que, segundo o perito independente, nenhum destes danos foi causado por algum tipo de uso indevido ou excessivo, mas poderia ter ser provocado por qualquer visitante. Em referência às tarefas de recuperação, irão ser aplicadas as mesmas técnicas que se aplicam habitualmente para este tipo de construção e que o Convento utiliza ano após ano para tratar a deterioração habitual do mesmo. Os danos a reparar estão contabilizados num orçamento total de 2.900€.

No que toca ao corte de árvores, ele ocorreu durante a limpeza no final da rodagem, tendo os serviços do Convento de Tomar justificado a decisão com o facto de não se tratarem de espécimes autóctones (e que foram plantados há alguns anos para a rodagem de outro filme), que deveriam ser substituídos.

No que à utilização do fogo dizia respeito, ele não pôs de forma nenhuma, em momento algum, a integridade do edifício, nem dos presentes na rodagem, em causa. Sob a supervisão do Comandante do Corpo dos Bombeiros Municipais de Tomar e de elementos da Proteção Civil, os bombeiros foram convocados, fizeram-se presentes e estavam alerta para qualquer eventualidade. Mas a sua intervenção não foi necessária, uma vez que tudo se processou dentro da normalidade e com o profissionalismo que a situação exigia.

Desde o primeiro momento, tivemos consciência da responsabilidade de estar a utilizar um espaço histórico, que para além de Monumento Nacional é Património Mundial, e nunca nos passaria pela cabeça desvirtuar. Alertámos todos os participantes na rodagem para esse facto de forma a que se movimentassem com delicadeza e respeito. Foram cumpridas todas as condições estipuladas nos termos do aluguer do espaço. Houve sempre acompanhamento técnico por parte dos profissionais do Convento, tanto nos períodos diurnos como noturnos; e foi também nossa preocupação que o seu normal funcionamento fosse afetado o mínimo possível. Não deveriam, portanto, a mesquinhez e as pequenas invejas ser suficientes para criar fantasmas que atentem contra o potencial que nosso cinema tem.

Este filme trouxe a Portugal um capital genuíno e criou trabalho para técnicos, atores e empresas portuguesas. Veio demonstrar também que Portugal tem talento e capacidade para estar a par de países com mais avultados recursos económicos. Quando o filme estiver concluído, teremos um grande orgulho em mostrar ao mundo inteiro um edifício com a riqueza cultural milenar do Convento de Tomar, que será projetado em ecrãs à escala planetária. E contribuirá, esperamos, para incrementar o interesse em Portugal, trazer mais turistas ao país e chamar a atenção para o cinema – e a cultura – que aqui se produz.
Para mais informações ou esclarecimentos, contactar, por favor:

press@ukbarfilmes.com

http://www.ukbarfilmes.com/

 

 

 

Dobradinha, triplete, tetra, pentacional!  A jogar menos bem e às vezes menos mal.

foto benfica

Pedro Lemos, “Ouro sobre Azul”
Papelotes sobre telão (técnica multimédia)
Lisboa, 29.05.2017

Um banho de realidade

Temos novos santos, temos velhos santos e até heróis verdadeiros. Somos imensamente bons, vivemos num país belíssimo, seguro o bastante (até ver) e, numa escala apreciável, materialmente (estou a ser benévolo) indigente.

Efectivamente, de acordo com os últimos dados do INE, mais de 25% da população residente em Portugal no ano de 2016 – cerca de 2,6 milhões de pessoas – estava em risco de pobreza ou de exclusão social.

Para a aferição deste risco definiu-se, no âmbito da estratégia económica de crescimento (estratégia Europa 2020), um indicador relativo à população em risco de pobreza ou exclusão social que conjuga os conceitos de risco de pobreza relativa – pessoas com rendimentos anuais por adulto inferior ao limiar de pobreza – e de privação material severa, com o conceito de intensidade laboral per capita muito reduzida.

Considera-se no limiar da pobreza o cidadão europeu que não obtenha 60% do rendimento médio por adulto equivalente no seu país, correspondendo a proporção dos que não atingem esse limiar à taxa de risco de pobreza.

Sem querer retomar agora a discussão sobre se é legítimo padronizar desta forma a pobreza, introduzindo uma medida da qualidade de vida das pessoas que não leva em devida conta o custo de vida de cada país – uma vez que o rendimento médio pode, como sucede em Portugal, indiciar já a carência dos recursos financeiros necessários para assegurar aquela qualidade de vida, visto ser muito inferior ao rendimento médio, não dos países mais ricos da Europa, mas da média dos países da UE a 28 -, o facto é que mesmo os dados assim obtidos são de tal modo graves e socialmente insuportáveis que não podem deixar de requerer uma permanente e consequente mobilização política e social contra a pobreza.

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Fátima, Futebol e Festival da Canção…

 

… onde Portugal é representado por um Salvador cujo coração carece efectivamente de salvação, correndo o risco iminente de colapsar.

Com esta conjugação cósmica, o fim do mundo português será pois a 13 de Maio, com o Governo, Autarquias Locais e empresas públicas a tolerarem o ponto à malta no dia prévio para que – eis a razão – possa arrumar as suas coisas em Paz. Resta saber se terá epicentro no joelhódromo, no Marquês ou em Kiev, com a milagrosa conversão da Rússia à ilharga.

Porém, nihil obstat. Está tudo bem assim e não podia ser de outra forma.

Uma República Laika

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Laika como a cadela russa conhecida por ter sido o primeiro ser vivo terrestre a ser lançado no espaço. E não laica por assumir uma posição oficialmente imparcial no domínio religioso, não apoiando nem descriminado nenhuma religião.

De acordo com as versões oficiais, Laika morreu, como aliás antecipadamente se sabia, cerca de uma semana após o lançamento do Sputnik 2, em 3 de Novembro de 1957. No entanto, a experiência, que visava testar a capacidade de resistência animal no espaço, não traria grandes contributos para o conhecimento científico da época, tanto mais quanto a cadela morreu, afinal, devido ao pânico e ao sobreaquecimento, algumas horas depois de o satélite ter sido lançado.

O Sputnik 2 viria, com o cadáver de Laika a bordo, a dar 2.570 voltas ao redor da Terra, até incendiar-se na atmosfera no dia 14 de Abril de 1958, depois de 162 dias em órbita. Menos, é certo, do que o Governo que pretende decretar agora, a pedido dos bispos, tolerância de ponto na função pública, no dia 12 de Maio.

Não depositando grande expectativa na fundamentação desta decisão, seja ela assente no respeito pelos sentimentos religiosos maioritários do povo, em razões de segurança ou nas eleições autárquicas que se avizinham, todas elas ilegítimas e desapropriadas, e não obstante a aparente complacência da esquerda, resta saber quanto tempo demorará a tornar-se cadáver um Governo que comete o pecado de violar os princípios republicanos em que se diz sustentar.

 

Olho por olho, (resi)dente por (resi)dente

Uma série de acontecimentos ocorridos recentemente, entre descarrilamentos, um eloquente post de alguém muito atento à matéria ferroviária e actos de residência pífios, levaram-me, em associação livre de ideias, ao novo disco dos The Residents, todo ele construído sobre relatos do crescente número de acidentes de comboio que o incontrolável desenvolvimento tecnológico de finais do século XIX ia produzindo e das “rápidas e desagradáveis mortes” que infligia.

Não pretendendo enveredar pela crítica a mais um capítulo da extensa obra desta super-banda – toda a gente ama os Residents, os quatro decoradores de interiores do apocalipse, embora desconhecendo a identidade dos seus membros, quando não mesmo a sua música (música?) -, não posso deixar de assinalar aqui o seu 84.º álbum, “The Ghost of Hope,” na esperança que vos possa assombrar o luminoso fim de semana que se avizinha.

Jacinta e Francisco, Santos.

E Lúcia? Fica a ver navios?

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Nah… Este pode ser só o teaser para o cartaz do próximo dia 13 de Maio em Fátima.

 

Notícias da Palestina

Tamel Abu Ghazaleh nasceu no Cairo em 1986 no seio de uma família palestiniana. Aos 2 anos cantava e tocava música, tendo começado a compor com a idade de 9 anos. Iniciou formalmente a sua educação musical em 1998 no Conservatório Nacional de Música de Ramallah (actualmente, Conservatório Edward Said), onde estudou os seus instrumentos de eleição – o oud e o buzuq -, assim como teoria musical, história, análise, composição, arranjo e performance, sob a supervisão do músico palestiniano Khaled Jubran.

Em 1991, Abu Ghazaleh lançou o seu primeiro single, “Ma Fi Khof” (“Sem Medo”), que passou a ser amplamente cantado em protestos durante a primeira Intifada. O seu primeiro álbum, “El Janayen Ghona” (“Jardins de Música”), com canções por si elaboradas entre os 5 e os 15 anos, foi editado em 2001. Em 2006, com 20 anos de idade, produziu o seu segundo álbum, “Mir’ah” (“Espelho”), que editou em 2008. O registo das sete canções, escritas nos períodos de recolher obrigatório da segunda Intifada, reflecte a experiência de viver na Palestina durante esse período.

Em 2007, fundou a organização de música independente “eka3”, concebida como incubadora de negócios de promoção da música árabe, através da qual fundou a editora musical “Mostakell”, uma empresa de agência musical e uma empresa de licenciamento de música, tendo ainda sido co-fundador da revista de crítica musical “Ma3azef.com”.

Em 2010, Tamel Abu Ghazaleh fundou o grupo musical multi-géneros “Kazamada” com Zeid Hamdan, Mahmoud Radaideh e Donia Massoud e em 2012 co-fundou a banda alternativa “Alif”, com Maurice Louca e Khyam Allami, tendo colaborado com variadíssimos músicos árabes e participado em diversos projectos artísticos desde 2005.

(Do currículo do autor em http://www.tamer.ag/)

No ano passado, editou em nome próprio o álbum “Thult” (“Terceiro Álbum”), de onde vos deixamos o vídeo da música “Khabar Ajel” (“Notícias”): um convite aos famintos do mundo para visitarem a Palestina e deliciarem-se com os manjares que ali são diariamente servidos (a letra está disponível em inglês na página da origem). Bom fim de semana!

Para esquecer de vez o do bolo rei…

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… porque este é definitivamente mais bolos (e parabéns, RTP. Apesar de tudo).

Afinal quem é o palhaço?

 

 

Em 2011, José Manuel Coelho, deputado na Assembleia Legislativa Regional da Região Autónoma da Madeira pelo PND, chamou “agente da CIA” e “maçónico” ao advogado Garcia Pereira, do partido PCTP/MRPP, “que instrui os processos que o dr. Jardim põe aos democratas”. A invectiva foi proferida quando o partido que representava foi acusado de plagiar os comunicados do PCTP/MRPP, numa altura em que José Sócrates tinha já apresentado a sua demissão e os partidos políticos se posicionavam para novas eleições.

Depois de ter sido, pelo facto, absolvido em Março de 2016 na primeira instância, por o tribunal ter entendido, e bem, que as expressões foram utilizadas no contexto do conflito político, entre adversários que brevemente disputariam o mesmo eleitorado, ambos figuras públicas – o que fazia com que as imputações não fossem sequer típicas, ou seja, não preenchessem sequer a descrição do crime de difamação previsto no Código Penal (a imputação de facto ou formulação de juízo ofensivos da “honra ou consideração”)  -, o arguido Coelho foi recentemente condenado, em recurso, a uma pena de prisão efectiva – por “difamação agravada” – pelo Tribunal da Relação de Lisboa. A pena deve ser cumprida durante 72 fins-de-semana por períodos mínimos de 36 horas e máximos de 48 horas.

A sentença condenatória é um repositório de bolor jurídico, incapaz de fazer uma leitura do Código Penal português que seja conforme à Constituição, e explica na perfeição porque o Estado português, pela actuação dos seus juízes, já foi mais de 20 vezes condenado no Tribunal Europeu dos Direitos do Homem (TEDH) por violação do artigo 10.º da Convenção Europeia dos Direitos do Homem (CEDH), que protege a liberdade de expressão. Na verdade, para a Relação de Lisboa, o artigo 180.º do Código Penal – que já muito questionavelmente criminaliza a difamação- consagra a prevalência do direito à honra sobre o direito à liberdade de expressão, excepto nos casos em que este é utilizado para satisfazer um interesse legítimo (costuma invocar-se o direito à informação) e as expressões difamatórias correspondam efectivamente à verdade (ou o seu autor tenha fundamento para as considerar verdadeiras), o que na circunstância não se verificou.

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Carrrrrrrrros em movimento

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Sabem que porra é esta? É uma feira. Para além de cavalos, vacas e chouriços que se emborracham à noite para troca de fluídos, são transaccionados circuitos e aplicações seminais (e não me estou a repetir) entre megawatts sukarnoputris de luz e toneladas messiânicas de graves. O pessoal anda todo numa cloud muito marada de ideias vendidas como jogos de lençóis de flanela e infalíveis elixires da juventude. Anuncia-se a next big thing e… zás!, up with the cock from Barcelos da Joana Vasconcelos, seguido de um sonzinho lounge. A insofismável cultura da era techie não pode faltar. Vhils, Kalaf e a Lisbon Fado Sin. O turismo esfrega-se todo por summits, e para todos os gostos que os há: o sunset summit, o surf summit, o farturas summit, o crunchie’s dog summit, o caralho que os foda summit, tudo pináculos da excitação mediática e da diarreia comunicacional: as televisões rapidamente se afeiçoam a este evento e os écrans enchem-se dos Caras de cú habituais. Ir ao Web Summit é, em termos de gente, como ir ao Dragão ver o Benfica fazer o Porto descer à terra ou como encher um concerto da Lady Gagabyte. Mas a um nível superlativo e expialidoso. Os bilhetes, qrido, para os pobres ficam a € 1000, os remediados arrotam € 3000 e os Premium, Platinium e Uranium entre €4.245 e € 5.245, mas estão todos sold out. Ou isso ou 3 fichas para os carrinhos de choque. Não será preciso dares uma de penetra porque estamos nos idílicos domínios do marketing. Especulação a bem da nação, com os putos MC Costa e Funky Cold Medina na área. Alguém me arranja um bilhete para ir ouvir o investidor e empreendedor Ronaldinho Gaúcho falar da sua fantastic new internet venture? É que há uma nerd activista curda que eu queria deglutir que vai lá estar…

Se eu tivesse um sonho de merda…

… faria hoje um ano que morreu o JJ. Um ano redondo. Em rigor, mais um dia. Morreu, pois foi. Morreu. Ah, e se ele estivesse aqui, o que diria? Diria, olha, cá estou, morri! E di-lo-ia até morrer de secura. Diluía, pois. Era uma estragação de café e de whisky. Mas se não dissesse, era o mesmo. “O círculo aperta-se, primeiro fulano, depois beltrano, agora sicrano. Não sei porquê mas cheira-me”, até já o tinha dito e muito antes. E é verdade que ela agora fede como nunca. Até no cheiro dos meus colhões a sinto. E se fosse vivo? Ah, se fosse vivo… Se fosse vivo, fingia-se de morto e ela passava por ele como cão por vinha vindimada. Bem, a verdade é que ele não o faria. Chamá-la-ia armado em parvo, como se pudesse dar-lhe a volta ou insultá-la. Arrasá-la-ia no Aventar ou no Endrominus, como se o sonho comandasse a vida. E cairia no último momento – como sempre se cai! – depois de dar cabo dela, fodendo-a bem outra vez. Se eu tivesse um sonho de merda, seria assim.

À Atenção do Esquentador e do seu Antecessor

António Guterres aprovado no Conselho de Segurança da ONU. Sem vetos nem espinhas.

Nem tudo é a mesma merda

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A Cour de Cassation de Paris deu provimento, na semana passada, ao recurso de uma decisão judicial que ilibava o animador Laurent Ruquier de ter cometido, no seu programa de televisão “On N’Est Pas Couché” (FR2), uma difamação, ao exibir, entre outros cartazes eleitorais imaginários publicados no Charlie Hebdo, um cartoon que comparava Marine Le Pen a um fumegante cagalhão (“étron”). Não obstante a decisão recorrida ter salientado que Ruquier, ao mostrar todos os cartazes e afirmando «c’est satirique, c’est Charlie Hebdo», se distanciara daquele cartaz específico – não tendo por isso cometido uma infracção penal, a mais alta instância judicial francesa considerou que os limites da liberdade de expressão do apresentador foram no caso ultrapassados, ordenando um terceiro julgamento, com recomposição dos juízes, pela Cour d’ Appel de Paris.

Noutro recurso antes interposto pela mesma senhora, a Cassação tinha reconhecido que o humorista Nicolas Bedos, ao tratar, num polémico apontamento de humor publicado no semanário Marianne, Marine Le Pen por “cadela fascistóide” (“salope fascisante”),  não ultrapassara os limites da liberdade de expressão. Le Pen contestava, bem entendido, apenas o uso do substantivo “salope”, no qual não se revê, e não do adjectivo “fascisante”.

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Entretanto, no MRPP…

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Fezes de Coelho não chegam ao céu

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Todos recorremos a mecanismos de negação para lidar com situações especialmente perturbadoras, é uma forma de defesa e pode preparar a consciência para o rebate. Eu uso a desvalorização para não soçobrar à realidade. Morreram 200 mas salvaram-se 500. E há dezenas de reconfortantes maneiras de chupar um seixo… Agora, insistir nas virtualidades da austeridade para a recuperação económica de um país e na eficácia dos seus resultados tendo à frente o resumo do estudo coordenado por Carlos Farinha Rodrigues, intitulado “Desigualdade do Rendimento e Pobreza em Portugal – As Consequências Sociais do Programa de Ajustamento”, já não pode ser negação, é perversão sexual. Saborear o produto defecado e insistir em servi-lo aos outros como uma iguaria não é senão uma forma de sado-masoquismo coprofágico.

São conhecidas as primeiras conclusões do documento: o “processo de ajustamento” teve profundas consequências na distribuição de rendimentos em Portugal. Entre 2009 e 2014, os 10% mais ricos sofreram uma quebra de 13% no seu rendimento enquanto os 10% mais pobres tiveram uma quebra de 25%, o que agravou o fosso entre ambos os extremos, ou seja, a desigualdade social.

É que, na verdade, como se refere no dito estudo, a forma como os custos do “processo de ajustamento” foram repartidos entre a população portuguesa constitui um elemento essencial para a caracterização das políticas seguidas neste período. O desemprego delas resultante tornou irrelevantes os paliativos fiscais para os rendimentos do trabalho mais baixos. E, citando, o recuo das políticas sociais (no Rendimento Social de Inserção, no Complemento Solidário para Idosos e no Abono de Família), tanto na sua abrangência como nos montantes atribuídos, alterou significativa e decisivamente as condições de vida das famílias mais pobres.

Ou seja, o discurso oficial da justiça distributiva da penalização dos rendimentos revela-se uma treta absoluta em todo o seu esplendor.

A pobreza disparou, mais cerca de 143.500 pobres – eram, em 2014, números corrigidos, 2,5 milhões de pobres, quase ¼ da população -, como cresceu a intensidade da pobreza e em números que rondam os 30%, atingindo este indicador o valor mais alto desde que há registos desta natureza (2002). O estudo não leva sequer em conta a situação dos 500.000 portugueses que tiveram de fugir de toda esta carnificina programada.

Foi assim, enojado e enjoado, que ouvi ontem o debate parlamentar. Que a política se pode tornar num alucinado exercício de retórica… Mas isto, em bom inglês, já é tomates.

 

 

TDT – Televisão de Todos*

Estamos no ano de 2016 D.C. e toda a Europa tem uma política para a Televisão Digital Terrestre (TDT) que garante a distribuição universal de televisão a toda a população. Toda? Não. Há um país, povoado por irredutíveis portugueses, que resiste aos ganhos de cidadania, de coesão e de integração social, assim como à dinamização do mercado audiovisual, resultantes de tal solução.

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fonte: Observatório Europeu do Audiovisual

Com 5 canais na TDT, olhamos para o quadro acima e espantamo-nos com os 118 canais da Itália (67 dos quais sem custos para o espectador), 85 da Inglaterra (81 são gratuitos), 43 da Alemanha (41 não são pagos), 40 da França (31 em acesso livre) ou com os 27 em Espanha (só um é pago). E verificamos que podem existir 39 canais na TDT austríaca (13 em aberto), 26 na checa (todos de acesso livre), 25 na eslovaca (13 free-to-air), 17 na cipriota (11 grátis), 13 na búlgara e na grega (esta com apenas 2 canais pagos), ou mesmo 10 na belga ou na irlandesa (todos de acesso livre), para falar de países com população e dimensão de mercado semelhantes ou inferiores ao nosso.

As razões para esta discrepância são, no entanto, muito claras: as políticas públicas para a comunicação social têm sido sucessivamente negligenciadas e a regulação sectorial encontra-se, nesta área crucial, capturada pelas conveniências do sector das comunicações e pelos interesses dos operadores de televisão instalados. Nunca é demais lembrar que a ERC não tem, como devia ter, competências decisórias em matéria de reserva e utilização do espaço hertziano pela comunicação social.

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Ministro comete crime de apresentar queixa crime contra a Sábado por esta ter praticado um crime

O Direito, ah, o Direito, essa ciência inexacta e críptica e, pelos seus meandros e alçapões, por vezes tão maligna. O esforço que é necessário fazer para esclarecer alguns cidadãos dos seus obscuros desígnios.

Não será certamente o caso de bem intencionados “jornalistas”, a quem o interesse do público à informação rigorosa e isenta, intensa luz que os guia na sua ânsia de verdade, tantas vezes lhes inunda a ética e a deontologia. Esses sabem que o Direito é o agente da mais pérfida censura quando contra eles se vira.

Tomemos como exemplo um hipotético título jornalístico:

“Tiago Brandão Rodrigues cometeu um crime”

Tiago Brandão Rodrigues não é uma hipótese. É uma pessoa. E vá, ministro da Educação. Digamos que o hipotético título é de um órgão de comunicação social detido pelo grupo Cofina, insuspeito de lançar ataques ideológicos nos seus pasquins. E assentemos em que esse órgão é uma revista. Digamos, a “Sábado”. Decerto que não se importará de emprestar o seu reputado nome a este pequeno exercício de pedagogia.

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O banano, o sopapo e a solha

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Era uma vez um banano que andava às lostras. Muito entretido, distribuía tabefes pelas chapadas do reino quando se deparou com um imponente sopapo nas ventas que não hesitou em esbofeteá-lo com acinte: “Pfff, isso lá são bofatadas? Que saudades da pífia PAF, esses é que eram de estalo e gritos”. Abananado, o banano ainda ensaiou uma lamparina. Porém, perante a tapona da solha, abandonou e tudo voltou à normalidade no reino da bolachada.

O longo epílogo capitalista

Abespinham-se quando as suas verdades são postas em causa pelas verdades dos outros mas borrifam-se para o modo como as suas são construídas, mesmo quando o são à custa do respeito pelos outros. Outros que não se reduzem aos que usam os ignorantes/desesperados que se fazem explodir. Não falo só de bombas, mas do capitalismo, que também directamente as alimenta, e da sorridente subjugação de tudo quanto é humano em que assenta a sua lógica. Também lhe podem chamar globalização financeira, terciarização, terceiromundização, precarização, colonização, parasitação, animalização, filhadaputização. Não há inocentes mortos, há indecentes vivos. E carne viva para canhão. Resta-nos evitar as manhãs, as aglomerações e as horas de ponta.

A liberdade está a passar por aqui…

E pronto. A partir de agora o insulto a Cavaco é punido com pena de prisão até 6 meses ou com pena de multa até 240 dias, agravada de um terço nos seus limites mínimo e máximo se feito através de meio que facilite a sua divulgação. Por seu turno, insultar publicamente o Rebelo passa a dar prisão de 6 meses a 3 anos ou multa não inferior a 60 dias. O espaço de manobra é escasso mas existe.

Rádio Universidade de Coimbra

grelha RUC

Mãe, há só duas. E uma delas é também filha. Foi durante muito tempo namorada, chama-se RUC e faz hoje 30. Como se dão os parabéns ao objecto etéreo do nosso amor sem cair na lamechice?

É favor não vomitar no computador

correio da manhã

Fachos de Coelho não chegam ao céu

fachoOuvi finalmente o seu discurso  a propósito da proposta de orçamento de Estado para 2016 e tive uma epifania: Passos Coelho é um facho confesso. O homem está perfeitamente a borrifar-se para as pessoas, para o povo. Para o povo que o elegeu, embalado pelas suas aldrabices, cegas de ambição pelo “pote”, no mais vergonhoso assalto ao poder de que há memória em democracia, e para o povo que 4 anos depois não o elegeu, retirando-lhe categoricamente a confiança traída. De facto, como os seus apaniguados o classificaram, um discurso brilhante. Brilhante como um facho a queimar mentiras.

Depois de, como é hábito, recalcitrar na mentira, desta vez a de que a proposta de OE apresentada pelo Governo se limita a dar com uma mão o que tira com outra, mantendo incólume a austeridade, e depois de insistir na facécia de que o poder lhe foi usurpado pelo parlamento, Passos Coelho, para justificar o anúncio de que votaria contra o orçamento – o que só lhe fica bem -, sintetizou exemplarmente as razões pelas quais o povo, que despreza, lhe retribuiu o chuto no cú com desprezo.

Diz ele, a partir do minuto 12′ 30”, o seguinte:

O país inteiro sabe qual era a estratégia orçamental que nós executaríamos se estivéssemos no Governo. Defenderíamos uma mais gradual, mas permanente remoção da austeridade para não tropeçar no excesso de voluntarismo e não obrigar os portugueses a ter que pagar no futuro, novamente com mais sacrifícios, a imprudência do presente“.

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Gestão de carreiras

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Flanava por aí a pensar remotamente se aos portugueses também faltaria uma palavra para entreprender e eis senão quando este cartaz:

“Código Penal

Artigo 160.º
Tráfico de pessoas!

1 – Quem oferecer, entregar, recrutar, aliciar, aceitar, transportar, alojar ou acolher pessoa para fins de exploração, incluindo (…) a exploração do trabalho (…):

c) Com abuso de autoridade resultante de uma relação de dependência hierárquica, económica, de trabalho ou familiar;

é punido com pena de prisão de três a dez anos!”

O anúncio aparecia assim, com pontos de exclamação e tudo, a transpirar desafio, incredulidade, loucura…

Ainda pestanejei, por momentos, “porque não?”, mas logo o tédio, “não vá a coisa desmerecer até os portes de devolução”, me arrastou no seu enjoo paliativo…