Odorico Paraguaçu é uma personagem aparentemente ficcional (porque é a realidade que, de tão absurda, parece verdadeira ficção). Odorico ganhou as eleições para a prefeitura de Sucupira, graças ao seu verbo e à promessa de criar um cemitério. Este espaço, depois de inaugurado, ficou às moscas, porque as pessoas insistiam em não morrer, para raiva e desgosto do prefeito.
João Galamba, uma criação socrática reciclada por António Costa, deslocou-se ao concelho da Guarda, na qualidade de Secretário de Estado da Energia, e, anunciando investimentos na região de uma empresa chinesa conhecida por EDP, levantou o queixo na direcção dos munícipes, exigindo-lhes que consumam mais, quase anunciando que, caso não o façam, serão mal agradecidos. Se coubesse ao Estado abrir bordéis, sendo Galamba secretário de Estado da prostituição, imagino o que estaria a exigir, neste momento, aos habitantes da Guarda.
Já se imagina, entretanto, nos lares egitanienses, as reprimendas que os pais passarão a dirigir aos filhos: “Então tu, minha besta quadrada, vens para a sala e apagas a luz da cozinha? Tu queres a ruína da Three Gorges, queres que o senhor Mexia tenha menos uma gravata e que o senhor Galamba receba um puxão de orelhas do senhor primeiro-ministro? Vá lá acender a luz e aproveita e liga dois aquecedores, já! O que é que disseste?! Estamos no Verão? Ó rapaz, tu até me tiras do sério, pá! Vais já de castigo para o teu quarto e ligas o computador, a televisão e a playstation! Eu que veja que está escuro, meu animal!”
Dias Gomes está às voltas na tumba, triste por descobrir que, afinal, a realidade é um guionista verdadeiramente genial: Galamba será menos tétrico, mas não fica atrás de Odorico.
Comentários Recentes