A malagueta nasce verde verde como o limão olham-se verde no verde ela cora e ele não.
Um empalidece outra faz-se rubor há qualquer coisa de astuto qualquer coisa de comum entre os dois e o amor.
A malagueta abre-se à cor em carne viva ardendo da penetração quente do sol da carícia de febre luz vibrada e tacto de seda.
Não fenece enquanto à sua volta tudo morre e envelhece.
O limão nem mole nem duro sumo de virilidade sumo de alegria denso de seiva sabor amargo ou doce ao sabor dos descuidos da verdade e da melancolia.
A malagueta não é séria nem puta é luta de vida numa vida de luta madura de ilusões lábios maduros palpando as vozes e as palavras na ponta da língua.
O limão não sofre de amores nem de esplendores nem de ignorância presunçosa jogo de toda a moda da vida imbecil.
Se o encontro se dá solta-se o sangue em torno dos ideais nos rútilos prados da malagueta amada malagueta mulher orvalhada pequenina e nua
capricho de um ventre fecundo na cintilação da madrugada como se a vida fosse um desejo de amarga doçura decúbito de sílabas erguidas ao som da música entre espaços de côncavo silêncio cristal e solidão.
Dilatada angústia pernoitada na eterna penetração de fulgor da malagueta desabrochada ao paladar da última gota do livre limão
Talvez por isso tenha acabado de ser classificada como UNESCO a “serra da malagueta” maravilhosa que conheço bem – santiago de cabo verde – um esplendor de paisagem que devia ser tão famosa como a amazónia que agora definha, mas não a Malagueta