3 Indignações sobre o caso Boaventura

(notícia de hoje no Dário de Notícias)

Ponto prévio. Este problema não é exclusivo do CES, nem da UC, nem da academia portuguesa. É um problema enraizado em sociedades cujas gerações conheceram o peso do patriarcado no quotidiano. A estrutura hiper hierarquizada do meio académico apenas fornece oportunidades em ouro a uma larga variedade de predadores. A grande diferença é que já existem instituições que criaram mecanismos credíveis e eficientes para lidar com estes problemas.

1- A UC deveria comunicar sobre este tema com muito mais clareza e sobretudo anunciar à comunidade UC o que já mudou, o que vai mudar, se ainda vai ouvir a comunidade (que tal um inquérito individual?), etc. Se não fica a sensação que a rede de conflito de interesses sobre este caso, rede esta que é mais extensa do que parece à primeira vista, está a conseguir travar e apagar com subtileza este caso da atualidade. É muito importante que a comunidade UC tenha confiança na instituição e que esta dê garantias que no futuro não se vão repetir os erros deste caso. Por exemplo a NASA providencia um serviço eficaz e independente que dá garantias de proteção de anonimato para apoio às vítimas de assédio. É um exemplo, existem outros;

2- O silêncio pesado sobre este assunto de quem à esquerda sempre se bateu pela justíssima causa do assédio moral e sexual. Não precisamos de discursos contendo acusações veladas ou explícitas, nem de nomes, muito menos de lavagem de roupa suja em público, precisamos de assertividade sobre este assunto, uma ou duas frases inteligentes que demonstrem uma posição clara e inequívoca;

3- Gurus de esquerda? Tenham juízo. Uma terra sem amos e sem gurus.

Obrigado

Jorge Nuno Pinto da Costa, 1982-2024

“Minha laranja amarga e doce”

“Cavalo à solta” é, para mim, uma das mais belas canções alguma vez concretizada pela genial dupla Ary dos Santos e Fernando Tordo.

A dualidade de sentimentos e perceções próprias da precária condição humana, o modo como em cada um de nós os opostos lutam e dessa luta nasce um sentido, tem uma dimensão singular nos trilhos da vida.

A dado momento, diz o genial Ary dos Santos:

“Minha laranja amarga e doce, minha espada
Poema feito de dois gumes, tudo ou nada”

Tudo isto, acompanhado pelos tons dramáticos que as notas musicais de Fernando Tordo, e a sua voz precisa e profunda, que nos levam a compreender melhor a mensagem, sem subterfúgios ou equívocos, num embalo semântico e dual.

Ali está, sem dúvidas ou ambiguidades, ou com todas elas, toda a contradição harmonizada que compõe a condição e o sentimento.

Revisitei ontem esta canção quando via os resultados eleitorais do meu meu clube, do meu Futebol Clube do Porto.

Outrora sócio, e, há muito anos anos, mero adepto, se sócio continuasse a ser, teria votado André Villas-Boas.

Mas, jamais teria comemorado tão grande derrota sofrida por Jorge Nuno Pinto da Costa. Pela simples razão que entendo que do passado se faz melhor futuro. E eu não posso esquecer as dimensões europeia e mundial que Pinto da Costa deu ao meu clube.

Foram décadas de consolidação de um modo de ser e de sentir, não apenas de um clube, mas, acima de tudo, de um modo inconformado de estar na vida de uma região e, até mesmo, de qualquer um que não se resigna.

É verdade que os últimos anos foram de desacerto e que o clube atingiu perigosos níveis de endividamento. E, não menos verdade, faltou visão e até coerência, entre princípios e acções.

E, mais ainda, faltou a aquilo que John Pappas – personagem do filme “City Hall”, interpretada por Al Pacino – denomina por “menschkeit” (um termo Yiddish que significa “the space between a handshake”: [Read more…]

Obrigado, 25 de Abril

«Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!»
“Aniversário”, Álvaro de Campos

Os dias, tal como as pessoas, têm virtudes e defeitos. O dia 25 de Abril de 1974 é o pior dia da História de Portugal, à excepção de todos os outros.

25 de Abril hoje

Observo o mar de posts onanísticos de apreço pelos soldados de Abril e vejo uma razão compreensível pela qual os indivíduos manifestam hoje tamanha gratidão por quem percepcionam ter lutado pelas suas liberdades no passado: a consciência profunda e demonstrável de que nunca teriam ou terão a coragem, a impetuosidade e a espinha dorsal para o fazerem eles mesmos.

Os 49 anos do cinquentenário do 25 de Novembro

IL, Chega e CDS pedem inclusão do 25 de Novembro no programa dos 50 anos do 25 de Abril.

 

  1. Uma aliança de três partidos com representação na Assembleia da República quer que as comemorações do cinquentenário do 25 de Abril incluam um acontecimento que perfaz, no mesmo ano, 49 anos.
  2. Vejo, aqui, um sinal de inclusão, talvez porque a aliança em causa queira dar importância a todos os algarismos e não apenas a comemorações que terminem em 0 ou em 5. Então, o 9 e o 49 valem menos? Além disso, cinquentenário é quando um homem quiser.
  3. Por outro lado, esse mesmo desejo de inclusão fica por cumprir, quando a mesma aliança, decerto por lapso, se esquece do cinquentenário dos 49 anos do 11 de Março de 1975.
  4. Em termos pessoais, tenho a dizer que, se no cinquentenário de uma data histórica que se comemora este ano, tivermos de incluir a comemoração de um outro facto que ocorreu há 49 anos, exijo que o meu aniversário do ano que vem seja também comemorado este ano e espero que os meus amigos me ofereçam duas prendas no dia do meu aniversário deste ano, dia a que juntarei também o dia do meu aniversário de 2025. Se não fosse muito incómodo, e já agora, poderíamos juntar também o de 2026, que não há duas sem três.
  5. Tendo em conta a compreensível preocupação em celebrar datas o mais depressa possível, decerto a mesma aliança quererá lembrar os 48 anos do assassínio do padre Max e de Maria de Lurdes Correia, do atentado que vitimou Adriana Corço Callejas e Efrén Monteagudo Rodríguez ou ainda do ataque bombista que, falhando o alvo, matou Rosina Teixeira, esposa do sindicalista António Teixeira.
  6. O tempo é aquilo que quisermos fazer dele. As datas são como alguns cheiros, provocam sensações, fazem-nos viajar. Ora, para os partidos desta aliança, o 25 de Novembro de 1975 é o 24 de Abril de 1974 que se pôde arranjar.

Primeiro de Abril sempre

 

Sobre a expressão “as pessoas em casa”

Apesar de a Carla Romualdo, com o irritante brilhantismo do costume, já ter glosado esta expressão, numa rede social felizmente perto de mim, deixo aqui o meu contributo. Ou contribruto.

O mundo da comunicação social está pejado de gente que sabe tudo aquilo que sentimos e está a par de tudo o que desejamos, para além de saber muito bem, talvez melhor do que nós, o que é que sabemos.

É vulgar, portanto, ouvir frases como “As pessoas em casa não compreenderiam que…”. Ouvi-a recentemente na boca de um político que consegue ser a pior versão das más versões dos políticos que temos.

Pergunto-me sempre como é que esta gente sabe o que é as pessoas em casa compreenderiam ou não compreenderiam. Sonho com o dia em que um telespectador ligue para um programa em que o público participa para comunicar que está em casa e ninguém sabe o que é ele compreende ou deixa de compreender e que agradecia que deixassem de falar dele ou por ele.

Uma variante desta frase tem um alcance ainda maior, porque não se limita à casa. É uma frase que vai pelas ruas, pelas avenidas e colhe, qual touro holístico, qualquer cidadão esteja ele onde estiver.

Essa frase tanto é usada por políticos como por concorrentes do Big Brother e pode assumir inícios como “Os portugueses sabem que…” ou “Os portugueses sentem que…”. Não há relativização, não há excepções, os emissários de tais frases incluem nos seus enunciados todos os portugueses, como se os conhecessem de ginjeira, incluindo a residência com número da porta e código postal, o restaurante da diária costumeira e a série preferida.

É verdade que somos um país pequeno, mas  ainda deve haver um ou dois cidadãos de que nunca ouvimos falar e cuja opinião ou sentimentos não conhecemos. 

48%

Dos 50 deputados do Chega, 23 têm problemas com a justiça. A lista negra, retirada do Reddit:

André Ventura.
Imagem retirada do site do Diário de Notícias.

 

“1. A informática: Cristina Rodrigues (eleita pelo Porto) Constituída arguida pelo MP em 2022, e sujeita a termo de identidade e residência por suspeitas de ter acedido indevidamente e eliminado milhares de emails do PAN quando se desvinculou do partido. Evita prestar declarações sobre o caso.

https://www.sabado.pt/portugal/detalhe/cristina-rodrigues-constituida-arguida-por-apagao-informatico

2. O omnipresente: Eduardo Teixeira (eleito por Viana do Castelo) Acusado por falsas presenças como deputado do PSD. Em causa, crimes de falsificação de docs ou falsidade informática. Conseguiu estar presente, em simultâneo, em reuniões em Viana do Castelo, e no Palácio de São Bento, em Lisboa.

https://observador.pt/2019/10/07/ministerio-publico-investiga-alegadas-falsas-presencas-de-deputado-do-psd-por-viana-do-castelo/

3. O penhorado: Filipe Melo (eleito por Braga) Condenado a pagar uma dívida de 15.000€ + juros à Assoc. que pagou consultas e tratamentos do seu filho. Não pagou, teve o salário penhorado. Mesmo antes deste caso, surgiu na lista pública de execuções por valores que ultrapassavam os 80.000€.

https://visao.pt/atualidade/politica/2023-06-23-salario-de-deputado-do-chega-penhorado-por-colegio-catolico-de-braga/

4. O “desconizado”: Pedro Frazão (eleito por Santarém) Condenado pelo Tribunal de Cascais a retratar-se das declarações falsas que proferiu sobre Francisco Louçã. Condenado a pagar 100€ por cada dia em atraso da rectificação. Recorreu para o Tribunal da Relação. Perdeu novamente.

https://sicnoticias.pt/pais/2023-01-27-Deputado-do-Chega-podera-ter-de-pagar-3.700-euros-ao-Estado-e-a-Francisco-Louca-39b9f4ac

5. O heterónimo: Ricardo Dias Pinto (eleito por Lisboa) Surge na lista pública de execuções com uma dívida de quase 15.000€. Ricardo Dias Pinto (ou Ricardo Regalla Dias, ou Ricardo Moreira Regalla Dias-Pinto) não tem, contudo, bens penhoráveis para cobrir esse valor.

https://poligrafo.sapo.pt/fact-check/chega-elegeu-deputado-com-divida-de-quase-15-mil-euros-na-lista-publica-de-execucoes

6. O virulento: Rui Paulo Sousa (eleito por Lisboa) Acusado pelo MP em 2022 pelo crime de desobediência (jantar comício com 170 pessoas em pleno estado de emergência COVID-19). Após mentir sobre autorização da DG Saúde, argumentou que não tinha consciência de que estava a violar as regras.

https://www.publico.pt/2022/02/05/politica/noticia/dois-deputados-chega-recemeleitos-acusados-mp-crime-desobediencia-1994413

7. O acólito: João Esteves da Silva Vice da distrital de Castelo Branco e conselheiro nacional, condenado em 2002 pelo Supremo Tribunal a 3 anos de prisão por um acumulado de pequenos furtos e burlas (roubava o conteúdo de caixas de esmolas, assaltou casas, veículos, lojas e restaurantes).

https://rcb-radiocovadabeira.pt/candidato-a-deputado-do-chega-pelo-distrito-tem-antecedentes-criminais/

8. O sueco: Vítor Ramalho, empresário agrícola, candidato (Póvoa de São Miguel, Moura) Detido por homicídio qualificado. Acusado pelo MP de tentar matar a tiro um casal de imigrantes, tendo-lhe sido apreendidas 13 armas. Relatório da PJ aponta para 9 crimes de homicídio na forma tentada.

https://rr.sapo.pt/noticia/politica/2021/10/19/renunciou-ao-mandato-eleito-do-chega-suspeito-de-disparos-contra-familia-sueca/257470/

9. O Tupac: Fábio Lemos, militante Actualmente detido a aguardar julgamento por agredir imigrante, já fora indiciado por outra agressão a um outro casal em 2023. Preso em 2021 no âmbito de uma guerra de gangs com “evidentes traços de ódio racial”. Suspeito de homicídio qualificado.

https://www.iscte-iul.pt/assets/files/2024/02/26/1708946789019_109773152.pdf

10. O mãos-de-fada: Pedro Alves, líder do Chega-Aveiro Condenado, em 2020, por violência doméstica, a um ano e seis meses de pena suspensa, a pagar 600 euros de indemnização, e a frequentar um programa especial para condenados por violência doméstica.

https://sicnoticias.pt/programas/jornais-10—15—20/jornal-da-noite-10/2024-02-26-10-minutos-lider-do-Chega-Aveiro-condenado-por-violencia-domestica-PS-e-AD-admitem-pacto-na-Justica-dc3574af

11. O saudável: Eduardo Cassiano Nogueira Pinto Miranda, n.º 3 da lista pelo círculo de Vila Real Condenado em 2019 (2 anos) do crime de burla ao Serviço Nacional de Saúde num esquema de falsificação de receitas comparticipadas que segundo o MP lesou o SNS em mais de 300 mil euros.

https://www.dn.pt/lusa/perfil-dois-rostos-de-um-burla-ao-servico-nacional-de-saude-10955382.html/

12. O segurança: Hélio Filipe, segurança de André Ventura, delegado eleito por Lisboa Acusado pelo MP (Julho de 2021) de 16 crimes, entre os quais ofensas à integridade física qualificada, sequestro, extorsão, falsificação de documentos e roubo. Aguarda em liberdade a marcação do julgamento.

https://www.iscte-iul.pt/assets/files/2024/02/26/1708946789019_109773152.pdf

13. e 14. Os jornalistas freelancers: Luc Mombito (dirigente nacional do Chega) e Nuno Pontes (dirigente, autarca e assessor do Chega) Acusação pelos crimes de ameaça agravada (ao jornalista Pedro Coelho), atentado à liberdade de imprensa e posse de arma proibida (no caso de Nuno Pontes).

https://expresso.pt/sociedade/2023-06-06-Chega-PJ-faz-buscas-as-casas-de-Luc-Mombito-e-Nuno-Pontes-que-foi-detido-por-posse-de-arma-ilegal-c06c75a4

15. O municipal: José Manuel Pombinho Barreira Soares, deputado eleito por Lisboa Acusado de agressão na forma tentada, de um deputado municipal do PSD (Rui Rei), durante a Assembleia Municipal de Vila Franca de Xira

https://www.publico.pt/2022/07/27/politica/noticia/tentativas-agressao-chega-psd-vila-franca-xira-obriga-intervencao-psp-2015196

16. O escolhas-múltiplas: António Pinto Pereira, deputado eleito por Coimbra Alvo de acção disciplinar em 2018 por ter manipulado testes de escolha múltipla. Alunos confirmam, e o Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP) da Universidade de Lisboa não desmente.

https://www.sabado.pt/portugal/detalhe/a-nova-estrela-do-chega-suspeito-de-alterar-notas

17. O árbitro: Pedro Pinto, deputado eleito por Faro Acusado de insultar e agredir árbitros/adversários durante um torneio de futebol Sub-13 no Crato. O deputado terá ainda impedido situações de ataque da equipa adversária. Acusado igualmente de ameaçar assessor do PS nos corredores da AR.

https://expresso.pt/politica/partidos/2023-06-26-Pai-isto-e-uma-vergonha-deputado-do-Chega-agrediu-arbitro-de-18-anos-em-jogo-de-futebol-be58a563

18. O coronel: Luís M. P. Lopes (“Simpson”), militante Detido em 2021 pela PJ por tráfico de armas de guerra, na posse de dezenas de armas proibidas de diversos calibres e géneros (pistolas, revólveres, carabinas, caçadeiras, facas e soqueiras), além de detonadores e milhares de munições.

https://ominho.pt/detidos-por-trafico-de-armas-em-braga-pagam-200-mil-euros-para-sair-em-liberdade/

19. A sucateira: Milena Alexandra Boto e Castro, vereadora eleita na Câmara Municipal de Benavente Condenada pelo crime de receptação num processo em que o tribunal deu como provado que comprou sucata roubada a um grupo criminoso liderado por um militar da GNR de Samora Correia

https://observador.pt/especiais/vereadora-do-chega-em-benavente-foi-condenada-por-comprar-sucata-roubada-a-grupo-criminoso-liderado-por-militar-da-gnr/

20. A espírita: Maria Manuela Pereira Tender, deputada eleita por Vila Real Ex-deputada do PSD, acusada de falsear presenças na AR na polémica das “presenças-fantasma” de 2018. Afirmou estar simultaneamente em reuniões da CM de Chaves e em reuniões plenárias da Assembleia da República.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Manuela_Tender

21. O talhante: António Laranjo (“Toni”), número 3 da lista em Viana do Castelo Empresário de “negócios da noite” na praia da Amorosa, ligados à exploração sexual de jovens sul americanas. Irmão detido em rede organizada de tráfico de brasileiras para prostituição em Portugal → Luxemburgo.

https://www.cmjornal.pt/politica/detalhe/numero-tres-da-lista-de-candidatos-pelo-chega-de-viana-do-castelo-e-empresario-da-noite

22. O traficante: Sérgio Júnior (“Sérgio Chorão”), deputado municipal em Braga Detido em Outubro de 2023 pela PSP por tráfico de droga e posse ilegal de armas. Na operação da PSP foram apreendidas várias armas, 38.105 € em numerário, inúmeros comprimidos e substâncias dopantes

https://www.jn.pt/4169326603/deputado-municipal-do-chega-detido-diz-tratar-se-tudo-de-grande-equivoco/

23. O táxi: Mário Monteiro, líder do Chega em Ovar Denunciado por entregas de dinheiro ao presidente da CM Ovar em troca da adjudicação de uma obra. Dirigente assume ter sido correio de suborno, entregando vários envelopes com dinheiro, num total de 120 mil euros.

https://www.rtp.pt/noticias/politica/polemica-em-ovar-dirigente-do-chega-diz-ter-sido-correio-de-suborno_v1551312”

São 23 deputados em 50, 48%. É obra. Andamos a sustentar quem não quer fazer nada.

A lucidez de Ricardo Paes Mamede

O melhor texto de reacção aos resultados das eleições do passado Domingo está no jornal Público. Escreveu-o o sempre sóbrio e implacável nas ideias, Ricardo Paes Mamede.

E a frase que fecha o texto é chave-de-ouro e resume bem o crescimento da extrema-direita. Cito:

“(…) A generosidade com que pessoas e instituições endinheiradas financiam organizações políticas que apostam na crispação, sugere que uma parte dos ricos em Portugal já não tolera as opções de quem governou o país nos últimos anos, por muito moderadas que fossem. Não há aqui nada de novo: quando acham que a democracia lhes retira privilégios — sob a forma de impostos ou de direitos laborais que consideram excessivos —, alguns poderosos financiam o caos, dando poder a quem oferece ordem e “moderação”. Esperam com isso manter os seus benefícios. O problema, como a história mostrou muitas vezes, é que se arriscam a perder o controlo sobre o monstro que criaram.”

Na mouche. Parabéns pela clareza, Ricardo.

A derrota do social-liberalismo

O Partido Socialista (PS) perdeu as eleições que ninguém ganhou, excluindo a agremiação onde se arrolam mil e um interesses obscuros.

Em relação a 2022, o PS perde quase meio milhão de votos. A “grande” Aliança Democrática (AD), coligação entre três partidos – uns mais moribundos do que outros -, conseguiu a proeza de, em relação a 2022 e ao PSD de Rui Rio, só ter ganho 259 224 votos. Já a terceira força política, arregimentou os votos daqueles que no seu extremismo se vêem representados mas, sobretudo, dos descontentes; se, por um lado, nos congratulamos porque a abstenção baixou, também saberemos ver que esses, os cordeiros inocentes, saíram para votar no lobo que lhes esfolará a pele mal tenha oportunidade. É, de todos, o mal menor, pois hoje, se a gente adulta estiver atenta e se galvanizar, será o primeiro dia do fim da vida da extrema-direita como a conhecemos na Assembleia da República. Com tantos deputados quantos os anos que durou o Estado Novo, a cooperativa de interesses de colarinho branco chamada Chega terá, agora, a difícil tarefa de transformar os votos que teve em propostas concretas e realistas, para lá da gritaria, do insulto e da mentira reles e facilmente desmontável, o que, convenhamos, será quase tarefa impossível para quem entrou na política apenas e só a reboque dos caciques milionários que comandam o país. [Read more…]

Groucha

Ou por outras palavras:

Por apoiar a AD, Goucha passou num instante de membro de uma “minoria privilegiada” a elemento de uma maioria livre e esclarecida. Além disso, a posição de Goucha é assaz incoerente: não faz sentido votar em partidos que, descaradamente, votaram contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo (e que, descaradamente, apoiaram a guerra no Iraque) para em 2018 se ir casar com uma pessoa do mesmo sexo.

There, I fixed it, Berto.

Padronizados e Pobres

Standard & Poor`s sobe `rating` de Portugal que alcança nível `A` em todas as principais agências

Bem sei que esta coisa dos ratings não passa de velhos e novos-ricos, muito bem engravatados, a medirem pilinhas, mas estou a estranhar que quem tanto admira ratings ou rankings não esteja a festejar peremptoriamente esta tão magnífica vitória económica para Portugal.

Sei lá, se era para trazer os Passos, as Assunções e os Durões, ao menos que mantivessem a mesma tesão por números que mostravam ter quando governavam o país. Nem precisavam de inventar novos discursos; bastava dizerem, por exemplo, o que já disseram: as pessoas não estão bem, mas o país está melhor.

Quem diz é quem é

Em apenas dois dias, a coligação Aliança Democrática (AD) decidiu atacar imigrantes e mulheres e os seus respectivos direitos.

Assim, fica claro o porquê de Luís Montenegro dizer que não se juntará à extrema-direita: a AD está decidida a absorver a extrema-direita.

De facto, a dar tiros nos pés não há melhor do que os partidos de direita. Senão, vejamos:

1 – “Número de interrupções da gravidez continua a descer em Portugal” ou “Portugal com 11.640 abortos em 2021, o menor número desde a legalização da IVG.”

2 – “Em 2013, Portugal ocupava o 15° lugar no ranking de países mais seguros do mundo. Em 2023, ocupa o 7° lugar” ou “Existe relação entre imigração e segurança, como sugeriu Passos Coelho? Não.”

Não dá para continuar

Há cinquenta anos que somos governados pela extrema-esquerda. Há cinquenta anos que regredimos; a censura maoísta, os gulags na Comporta, a expropriação de habitações privadas, a ditadura do proletariado: não dá para continuar.

Quando Álvaro Cunhal tomou o poder, acabando com mais de cinco décadas de um período próspero e feliz, depois do golpe de Estado que derrubou o estadista Marcello Caetano, herdeiro do ainda maior estadista António de Oliveira Salazar, Portugal morreu. Éramos governados por um homem à frente do seu tempo, que nos provava que era possível ter num cardeal um amigo colorido e substituir a famigerada mãe do rei por uma governanta. Mais práfrentex do que isto era impossível. Mas não; destruíram-nos o sonho. Agora somos governados pelo João Oliveira e pela Marisa Matias. Temos o que merecemos.

Podíamos ter sido governados por Soares, Cavacos, Guterres, Sócrates, Passos ou Costas. Não. Por contrário, cinquenta anos de governação de Cunhais, Carvalhas, Louçãs, Sousas, Martins. E, como se não bastasse, agora vamos ter de levar com Mortáguas, enquanto que os Raimundos e os Tavares distribuem pastas entre si. E quem não concordar, já se sabe; acaba no gulag da Comporta ou ameaçam-no com trabalhos forçados em Vale do Lobo. Podíamos ter tido empresários moralistas a encher o cu de dinheiro em offshores, políticos a sair dos partidos do arco da governação para as maiores empresas privadas do país, neo-liberais suspeitos, acusados e condenados por crimes económicos lesa-pátria… mas mataram-nos o sonho. Hoje temos todas as empresas dos sectores estratégicos nacionalizadas; da Galp à EDP, passando pela REN, pela TAP, pelos CTT ou pela Banca. Tudo do Estado e já não se pode privatizar nada.

Sonhemos com um Portugal sem o peso da repressão da extrema-esquerda. Façamos das nossas mãos os punhais que se cravarão no peito dos comunistas, para que estes nunca mais governem Portugal. [Read more…]

Onde estava Moniz em 2019? No Vietname?

Como ser processado por Pedro Abrunhosa: tutorial

Quero voltar para os braços da minha mãe e cantar-lhe uma balada de Gisberta. Por um momento, se eu fosse um dia o teu olhar, apanharia um barco para a Afurada para ficar mais perto do céu. O que é preciso é ter calma, não deixar entrar o diabo no corpo e lutar por ser o rei do Bairro Alto. Até porque eu e tu somos iguais, temos a mesma fantasia: talvez foder. Silêncio! Socorro! Sexo! Será? Vem ter comigo aos Aliados, tenho uma arma e não tenho mão em mim.

A verdade anda por aí

The Parallax View (1974)

 

Nos anos marcados pelo escândalo do caso Watergate, produziu-se, nos EUA, uma série de filmes que ficou conhecida como a dos “thrillers paranóicos”, com enredos que lançavam suspeitas sobre poderes tão distintos quanto o Governo (Os Homens do Presidente, Os Três Dias do Condor), a NASA (Capricorn One), interesses económicos diversos protegidos por um sistema de justiça cúmplice (The Parallax View), a corrupção nas forças policiais (Serpico), a energia nuclear (A Síndrome da China), ou o futuro da humanidade num cenário de desastre climático e em que um império corporativo controla a produção de alimentos (Soylent Green).

Os heróis destes filmes são muitas vezes jornalistas (inspirados por Woodward e Bernstein) mas também polícias, detectives, e gente comum, que, no exercício das suas funções, descobre um segredo terrível sobre uma entidade poderosa e arrisca a vida para revelá-lo. Os finais são frequentemente negros, com as forças que manobram na sombra a esmagarem sem piedade os indivíduos que lhes fizeram frente.

Quem cresceu alimentado por semelhante substrato acreditou desde cedo que existe uma verdade ocultada por uma conspiração generalizada, que nenhuma instituição é credível, que tudo depende de alguns indivíduos, uma pequena elite de homens e mulheres corajosos, capazes de enfrentar um poder sem rosto, e que, tomando como certo que todos somos mais ou menos impotentes, é pelo menos possível aspirar à lucidez de saber que nos mentem e dá-lo a conhecer a outros. [Read more…]

Azeite, socialismo e o mercado a funcionar

Ainda sou do tempo em que o preço do azeite subiu porque mau tempo, más colheitas, imposto é roubo e socialismo. Afinal, era só o mercado a funcionar.

Um subsídio que é um risco

Ontem foram os guardas prisionais, hoje os bombeiros sapadores. Amanhã é a vez das prostitutas exigirem subsídio de risco.

A distribuição tem nome

Os agricultores estão na rua a lutar pela sua sobrevivência. A comunicação social fala na ministra, nas políticas ambientais europeias, nos custo de produção e na “grande distribuição”.

Essa tal “grande distribuição” é a grande responsável pela asfixia dos agricultores. E essa tal de “grande distribuição” tem um nome. Um, não. Vários: Modelo Continente, Pingo Doce, Mercadona, Lidl, etc. Sim, é preciso que a comunicação social largue o chavão “grande distribuição” e chame a coisa pelos seus nomes. Para que o consumidor saiba que o Continente, o Pingo Doce, Lidl, Mercadona e tantos outros com a sua política de preços asfixia os agricultores. A ministra é uma incompetente? É. As políticas europeias são hipócritas? São. O preço do petróleo é um problema? Claro que sim. Estes três exemplos são a ponta do iceberg. O corpo da coisa que asfixia os agricultores: a grande distribuição.

Cujos actores são nossos conhecidos. Diariamente. Seja na publicidade com que alimentam a comunicação social, seja por serem o sítio onde vamos comprar as verduras, a fruta ou a carne. A grande distribuição que matou as mercearias ou os talhos e que agora tenta matar os cafés e os restaurantes. Enquanto asfixia os produtores. Continente, Pingo Doce, Mercadona ou Lidl, entre outros. Sim, os seus vizinhos.

Quem não tem vergonha, todo o mundo é seu

Dois vídeos carregados de mediocridade, com especial destaque para o pretendente a estadista, Pedro Passos Coelho.

No primeiro vídeo, Coelho é muito rápido a criticar António Costa, talvez um dos demissionários mais felizes da história, depois de ter conseguido meter água em muita areia, ao ponto de ficar metido num lodaçal de todo o tamanho. No mesmo vídeo, surgem outros dois artistas pimba: José Sócrates defende Costa (como se Costa já não tivesse, por culpa própria, problemas suficientes) e André Ventura secunda Passos Coelho.

No segundo vídeo, o mesmo Passos Coelho recusa-se a comentar o caso de Miguel Albuquerque. O vídeo não está completo – na realidade, Coelho escuda-se no facto de ter sido primeiro-ministro e presidente do PSD, não querendo, por isso, intervir, adoptando uma pose conciliatória.

Tudo gente sem vergonha na cara. Tudo gente que confirma o velho ditado de que somos capazes de ver o argueiro no olho do vizinho, ignorando a tranca que trazemos no próprio olho. A democracia portuguesa tem as virtudes próprias no único regime legítimo; os defeitos que tem são todos destes figurões que vão governando em simpática alternância, sendo a rivalidade uma aparência consubstanciada em frases medíocres e resultante da disputa de alguns tachos, mais distribuídos do que disputados. [Read more…]

It’s the End of the World as We Know It

Ao que parece a PJ e o MP decidiram agir e o líder dos Super Dragões, Fernando Madureira (Macaco) foi detido. Vamos então aguardar as cenas dos próximos capítulos.

Certamente, o Porto Canal será uma boa fonte para se acompanhar todo este processo. Além de ser o canal do clube, é o canal da nossa Região e tudo isto se passa na sua esfera de influência. Eu sei que, por agora, só temos visto a SICN, a CNN, a CMTV ou a RTP3 a falar sobre o tema mas acredito que o silêncio é tão ensurdecedor que não vai durar muito. Eu acredito na liberdade de imprensa.

Um pai. Um avô. Um slogan nazi.

Rui Paulo Sousa, deputado do partido de extrema-direita CHEGA e também bibelô em todas as aparições do Quarto Pastorinho na têvê (ou nas deslocações do Presidente da República ao estrangeiro), decidiu adoptar, numa publicação na rede que é o pináculo da liberdade, um slogan da Alemanha nazi.

O outro diz que é pai. E é também avô. Por conseguinte, concluiu o outro, é também fascista. Depois, desdisse-se, com a ajuda e conivência do Querido Líder. É esperar a desdita sobre este slogan nazi, sabendo de antemão que o fascista, que afinal também não será fascista, se deve ter enganado na redacção daquele spot publicitário.

Slogan nazi: Uma nação. Um império. Um líder.

Mera coincidência, pois claro.

O fim do mundo não vai ser assim tão mau

Se quando pensa em “bunker” imagina paredes de betão, tectos baixos, beliches, e gente de pele macilenta e cabelo mal cortado a abrir latas de conserva, esqueça. Isso é tão século XX…

Pelo preço adequado, pode ter um bunker equipado e decorado como um hotel de luxo, com suites, ginásio, área de jardim e horta para cultivar vegetais frescos, poço de águas profundas, sistemas de filtragem de ar, dispositivos de segurança, aquecimento e refrigeração geotérmica, reservas de combustível e alimentos para pelo menos um ano, etc. A ameaça exterior pode ser um ataque nuclear, um cataclismo ambiental, guerras, sismos, migrações massivas, epidemias, ou algo que ainda nem sequer conseguimos imaginar. Como diz uma das empresas que vendem estes bunkers de luxo, a TerraVivos, a Terra é um lugar cada vez mais perigoso e, à nossa volta, não faltam ameaças reais de extinção. [Read more…]

Financiar o leitor, não o OCS

Esta é, até à data, a melhor solução que me foi apresentada para resolver o problema da insolvência dos OCSs portugueses. Vale a pena ler o artigo (sem paywall) do Filipe Paiva Cardoso, no Expresso.

O caos nas urgências

Em Portugal as urgências estão, segundo se pode ler nos jornais e ver nas televisões, um caos. Por acaso, ou não, em Espanha está a acontecer o mesmo. E noutros países europeus, idem.

Uma peça em dois actos

Acto I.

 

Acto II.

O monte está negro. 

«Não quero viver num país sem a TSF»

A frase é do jornalista Carlos Daniel e está publicada na sua página de facebook. Transcrevo o texto todo:

«Sou mais um a abrir a alma, já li tanta coisa bonita e sentida por estes dias, tenho até a sensação de estar atrasado. Mas ainda há-de ser tempo, até porque foi lá que aprendi que as notícias não escolhem hora certa. Por isso, esta é a hora de agarrarmos o microfone com as três letras azuis no cubo e dizer bem alto que não queremos um jornalismo sem TSF, uma rádio sem TSF, um país sem TSF. A rádio criada pelo génio do Emídio Rangel e moldada a seguir na liderança impecável do David Borges, um exemplo até hoje. A rádio do Sena Santos e do Fernando Alves, únicos, mestres para sempre. E tanta gente de talento a seguir, e tanta gente de empenho também, que amou aquela casa e a segurou por décadas. O meu coração aperta-se por todos eles. Assim, nos meus amigos/irmãos Ricardo Alexandre e João Ricardo Pateiro, como nos enormes Joaquim Dias e Joaquim Pedro, almas da TSF-Porto (que também foi minha durante seis anos muito felizes), deixo o abraço solidário a todos os dessa amada rádio e a vontade de ajudar no que puder. E reabro o microfone para repetir: eu não quero viver num país sem a TSF.»

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Em Belém, onde Jesus nasceu, o Natal foi cancelado

Todos os anos, milhares de peregrinos cristãos chegam a Belém, na Cisjordânia, para participar nos festejos de Natal da terra que viu Jesus nascer.

A cidade prepara-se a rigor, há árvores iluminadas e decoração festiva por toda a parte, os hotéis e os restaurantes estão cheios e o comércio floresce.

Não há registo, que eu tenha conhecimento, de uma única restrição imposta pela Autoridade Palestiniana aos peregrinos cristãos ou à própria comunidade cristã que vive na cidade, que tem como autarca um palestiniano cristão, que sucedeu a uma palestiniana cristã.

Em Belém, cristãos e muçulmanos vivem lado a lado e a tolerância é a regra.

Na Basílica da Natividade, construída sobre o local onde Jesus nasceu, celebra-se, à meia-noite de 24 de Dezembro, a Missa do Galo.

A celebração reúne milhares de palestinianos, turistas, peregrinos e responsáveis civis como o presidente palestiniano, Mahmoud Abbas. E é considerada, por motivos que me parecem óbvios, uma das cerimónias mais emotivas e significativas do mundo cristão. [Read more…]