A icónica fotografia de Peter Lindbergh para a capa do single Foreign Affair (1989), o quatro do álbum com o mesmo nome, onde figuram temas como The Best, é a melhor imagem de Tina Turner e daquilo que ela representava: uma artista livre e rebelde, que derrubou barreiras e transbordava talento e coragem, a ponto de subir para a estrutura da Torre Eiffel de saltos altos, sem duplos, truques ou cabos de segurança. Talvez sejam os quase 40 anos a falar, mas já não se fazem divas assim. Que descanse em paz.
49 do 25 no Porto
Milhares de pessoas reuniram-se hoje no Porto para celebrarem os 49 anos da Revolução de Abril.
Crianças, jovens e idosos em comunhão para nos lembrarem todos do mesmo: a Liberdade conquistada em 1974 é um dos marcos mais importantes da História de Portugal, marco esse que é preciso nunca esquecer, zelando pelos valores de Abril, especialmente nos dias de hoje em que o bafio fascista dos tempos antigos parece querer assolar o nosso bem mais valioso – a Democracia.
E essa, a nossa Democracia, continuará a ser o pior de todos os regimes, com excepção de todos os outros. Não a percamos, pois então. Celebremo-la.
25 de Abril sempre. Fascismo nunca mais.
Fotografias: João L. Maio
Má educação
Os profissionais de Arqueologia da Administração do Património Cultural enviaram um documento, em 7 de Março, subscrito por 70% daqueles profissionais, para o Ministro da Cultura (solicitando também uma audiência), para o Governo (1º. Ministro) para a Presidência da República e para a Assembleia da República.
O documento em causa prende-se com o que já abordei aqui e aqui, e as consequências danosas para o nosso Património Cultural.
O que aconteceu então? Os órgãos de soberania ( Assembleia da República e Presidência da República) e o Gabinete do 1º. Ministro acusaram a recepção do documento nos dias seguintes ao envio. Aliás o Presidente da Assembleia enviou o texto para a Comissão de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto.
Passaram 3 semanas. E dada a ausência de resposta do Ministro da Cultura (nem sequer a acusar a recepção ) o documento foi enviado apenas para o Jornal Público, dia 23, devido ao facto de aquele jornal ter abordado o assunto nas edições de 12 e 18 de Março (curiosamente sem ouvir os profissionais, apenas ouviu pessoas externas à administração do Património Cultural e chefias……).
Passou mais de uma semana. Nada de resposta, nem o Público acusou a recepção, nem “pegou” no assunto, quando os profissionais se disponibilizaram para serem ouvidos! Muito estranho…..
Assim, em 2 de Abril, texto foi enviado para uma série de jornais. O DN fez uma notícia sobre o assunto, nesse mesmo dia. Assertiva e tocando nos pontos essenciais.
O que aconteceu no dia 3 de Abril durante a manhã?
O Ministro da Cultura acusou a recepção do mail e documento, tendo reencaminhado o assunto para a Secretária de Estado da Cultura!
Entretanto foram saindo várias notícias sobre o assunto, aqui, aqui, aqui e aqui.
Mais um exemplo do processo de degradação do edificado
“Let them play jazz,” the second man said.
— William Faulkner
***
No sítio do costume e embrulhado numa redacção para encher chouriços, eis este magnífico exemplo do processo de degradação do edificado.
Já agora, acrescente-se o lado B.
Em Diário da República, há registo electrónico [Read more…]
João na Terra do Jaze
João na Terra do Jaze é o título de um livro de José Duarte, dado à estampa em 1981. Cito parte do prefácio (escrito por José Mário Branco, também já falecido):
“Não moro na terra do jaze, esse país que tu nos contas, onde as coisas ouvidas não se complicam, são o que som. Aliás, também tu não moras nesse reino poderoso e antigo. Viémos à luz dentro dele, isso eu juro que viémos porque, no princípio , cada homem foi João.
Um, dois, três, quatro……isto não acaba, Zé, vós todos de algum modo resistentes, em nome de todos os Joões que a vida-cabra nos foi levando.
Recado de amor é coisa sempre complicada e meio parva na aparência. Uma respiração contigo, uma reivindicação contigo e com eles – a música é possível, sous le pavé l´herbe pousse não é só ecologia.
O preço destas coisas é sempre elevado como numa corrida de fundo. Aqui estamos, neste momento do percurso, meio contentes meio alegres, cada um vindo não se sabe de onde, indo não se sabe para onde, nós dois de calções e sapatilhas, a corrermos lado a lado.
Topas? Mais uma vez…..que linda figura a nossa!
LX. 2901,81
José Mário Branco.”
Escolhi esta foto do livro por causa de alguns Aventadores……..
Mais uma machadada em Abril!
Numa entrevista ao JN em 7 de Fevereiro, o Sr. Ministro da Cultura (Ministro sem Ministério, diga-se), aborda as questões do Património Cultural. Cito :
Estas declarações merecem-me um grande LOL!
Para o Sr. Ministro, “olhar de forma diferente” é o que ele está a fazer, que é desmantelar a administração pública da área do Património Cultural, uma conquista do 25 de Abril!
O que é que interessa, por exemplo, uma Igreja em Freixo-de-Espada-à-Cinta, propriedade do Estado, Monumento Nacional (Grão Vasco, esse mesmo, João de Castilho, o do Mosteiro dos Jerónimos) ?
O que é que interessam outros Monumentos, Igrejas, Castelos, Sítios Arqueológicos do país? Se ainda estivessem no Bairro Alto…….
A juventude sónica no Reino dos Belgas em 2023
Amanhã, em Liège, no Reflektor, Thurston Moore Group (com Steve Shelley). Depois de amanhã, em Courtrai (Kortrijk, no original), Lee Ranaldo, com os fabulosos The Wild Classical Ensemble. Só nos falta a Kim Gordon.
NIT: A ignorância é atrevida
E agora, para algo completamente diferente: a (ou será o?) NIT, uma coisa que julgo ser da TVI (ou será da Nova Gente?) e o seu colunista, o engenheiro civil Nuno Bento. Sim, o Aventar também pode ter o seu momento cor de rosa.
O senhor engenheiro escreveu umas coisas sobre os U2 nessa tal NIT. Gostos não se discutem. Não se discutem? Discutem. O homem não gosta dos irlandeses? Está no seu direito e não é o único. Agora, se vai escrever sobre um tema é conveniente saber do que está a falar e estar devidamente informado. Ah, mas o senhor é engenheiro, não é jornalista. Pois. Pode servir para atenuante. Só não serve para atenuar a ignorância. A primeira ao considerar, vou citar: “…a História foi cruel com Elvis. Hoje, infelizmente, não lhe damos o devido crédito“. Quem? Só se for o engenheiro. Na vida real e no mundo da música o crédito de Elvis é só o de génio e a história só o confirma – aliás, recentemente, entre filmes, documentários e versões de terceiros quase se pode dizer que, afinal, Elvis está vivo.
Não satisfeito, confunde “residência” em Vegas com 12 concertos únicos (que espero possam ser mais já que o certo é os 12 esgotarem em menos de uma hora, a exemplo de todas as digressões da banda). Não é nem uma “tour” (infelizmente) nem uma residência (interpretando o termo residência como é e sempre foi em Las Vegas). E, cereja no topo do bolo, meteu os pés pelas mãos na questão Larry Mullen Jr. Ora, foi exactamente por causa do estado de saúde de Larry que não foi realizada a Tour Achtung Baby 30 anos que estava prevista para 2022 e 2023. Nem o articulista informa que, para os concertos de Vegas, quem escolheu o baterista foi exactamente Larry Mullen Jr. A ignorância é tão atrevida que nem sabe (ou prefere omitir) da presença de Larry Mullen Jr, acompanhando Bono, nalguns dos eventos de apresentação do livro de Bono – não, não existe qualquer divisão na banda. A não ser que a NIT seja uma espécie de TV7 Dias em versão 2.0…
A escolha de Las Vegas para estes dois concertos não foi por acaso. E é público, nas inúmeras entrevistas que os quatro deram nos últimos meses e em especial (por motivos óbvios) Bono. Não existir a possibilidade, por motivos de saúde, de se realizar a esperada tour dos 30 anos de Achtung Baby, acrescido da vontade de dar algo aos fãs da banda que andam há anos a pedir mais concertos e, principalmente, a proposta colocada em cima da mesa pelos homens da MGM: inaugurar o mais futurista espaço de concerto do mundo com uma versão moderna daquela que é considerada a mais arrojada tour alguma vez feita, a Zoo TV Tour. Uma proposta que pretende oferecer aos U2 a possibilidade de fazer algo nunca antes feito. Já agora, no universo dos U2 as palavras “proposta” e “milionária” para catalogar este desafio da MGM é algo exagerado: os U2 vão receber 10 milhões de dólares pelo conjunto dos concertos e 90% da bilheteira ficando, a seu cargo, a produção. Se a coisa for dividida pelos 12 concertos previstos não é mais do que a receita de bilheteira de 3 concertos normais dos U2 numa tour nos EUA.
Não vou entrar pelas questões de gosto. Nem tão pouco pelas barbaridade ditas sobre os últimos trabalhos da banda. Quanto ao legado, o senhor engenheiro não se preocupe, o legado dos U2 está muito para além da sua música. Está em África no combate à SIDA/AIDS, está em Sarajevo (vá mas é ver o documentário “Kiss The Future”) e está no combate pelo perdão da dívida dos países do terceiro Mundo. Esse é um legado que nenhuma banda de rock até hoje igualou. Em termos de legado musical ele é tão vasto que nem vale a pena discutir. Uma coisa é certa, em Portugal a ignorância é mesmo atrevida… Hasta Las Vegas, Baby!
Os outros
Antes de ser Aventador já lia este blog. Mas também lia outros. Entretanto deixei de acompanhar a maior parte deles, uns porque acabaram, outros porque deixei de ter interesse, e outros nem sei bem porquê. O tempo também não é elástico, e entre a família, os amigos, a profissão, o facebook, o twitter, os jornais (alguns), o instagram, muita coisa fica para trás.
No entanto continuo a ler regularmente três blogs, além deste. São eles o Corta-fitas, o portadaloja e o portugadospequeninos.
Não leio todos os textos do Corta-fitas, mas os do Henrique Pereira dos Santos (que não conheço) são hoje para mim de leitura obrigatória. Incisivo, assertivo e fora do mainstream quotidiano que nos é injectado todos os dias, especialmente pelos OCS e pelo Governo.
Já com o portadaloja (cujo autor, José, também não conheço) tenho aprendido muito sobre música (cujos gostos partilho), e também sobre aparelhagens, vinil, CDs, literatura musical, etc. O autor tem uma cultura musical muito acima da média.
Quanto ao portugaldospequeninos de João Gonçalves (não conheço também) a acutilância e acidez dos seus textos são outro caso à parte na blogosfera (tem uma coluna semanal no JN), e vou-o lendo com gosto.
Escrevo este texto sobre a “concorrência” num blog (este) com toda a liberdade e respeito pela diferença.
Rua da Saudade – Retalhos – Luanda Cozetti
Luanda Cozetti cantando o tema de Carlos do Carmo da série da RTP “Retalhos da Vida de Um Médico“. “(..) um documento social da primeira metade do século XX, desenvolvendo-se em volta da vida de um médico de aldeia, por pequenas terras provincianas do Sul de Portugal.” Cem anos passados, estamos onde?
Roadrunner: A Film About Anthony Bourdain
Foi através das suas séries televisivas que conheci Anthony Bourdain. Uma personagem fascinante que nos levava a viajar pelo mundo através de experiências gastronómicas. Aliás, os diferentes episódios eram sobre tudo menos gastronomia. Ou melhor, a gastronomia era uma desculpa. Não tinha medo de exprimir a sua opinião. Fosse na Palestina, em Israel ou até em Lisboa. Nunca vou esquecer a sua visita ao Porto e a grata surpresa da sua ida à Areosa para experimentar as famosas Tripas à Moda do Porto do restaurante “Cozinha do Martinho“.
Ontem, finalmente, consegui ver o filme sobre a sua vida: “Roadrunner, A Film About Anthony Bourdain” (2021, CNN). Um murro no estômago como aquele de 8 de Junho de 2018 quando se soube da sua partida. Um filme como Anthony: inquieto, frontal e cru. A não perder.
Balada de Despedida do 5º Ano Jurídico 88/89 – Toada Coimbrã
Ah!, saudade. Até uma ou outra nota semitonada tem outro encanto.
Canção do Outono Japonês
Orquestra Portuguesa de Guitarras e Bandolins | Yasuo Kuwahara (1946-2003)
A horta do Garcia e o Garcia de Orta
ORTA
Si fazem, mas não em o mesmo dia, senão em outro dia despois, o qual banho he de preceito aos Bramenes e Baneanes, e a todo o Gentio, que nenhum dia comão sem lavar o corpo primeiro, e os Mouros lavamse, estando sãos, ao menos cada três dias.
— Garcia de Orta, Colóquios dos simples e drogas da Índia. Ed. dirigida e anotada pelo Conde de Ficalho. – Lisboa : Impr. Nacional, 1891-1892.
***
Ontem, foi divulgado o traçado do Metrobus, “a nova mobilidade urbana verde” do Porto. Pelos vistos, começam hoje as obras na Linha Boavista – Império, etc., etc. Podeis ler tudo quer na página dedicada ao assunto, quer, mais concretamente, neste documento em pdf, onde se encontra um mapa com umas cores parecidas com as do Diário da República, quando passa pelas minhas mãos.
Por seu turno, Garcia de Orta, além de ser o nome de uma escola secundária do Porto e de um hospital em Almada e de aparecer aqui na moeda de 200 escudos,
Agregar para reinar – o caso de Eddie Redmayne

Na imagem, Eddie Redmayne como Lili Elbe em “A Rapariga Dinamarquesa”, filme de 2015.
Em 2015, Eddie Redmayne interpretou Lili Elbe em “A Rapariga Dinamarquesa”.
Conhecido pelos seus papéis em “Os Miseráveis”, “A Teoria de Tudo”, “Monstros Fantásticos e Onde Encontrá-los” ou “Os 7 de Chicago”, em “A Rapariga Dinamarquesa” interpreta uma mulher trans, uma das primeiras a submeter-se a uma cirurgia de redefinição de género.
Pelo papel, Eddie Redmayne foi nomeado para o prémio de melhor actor pela Academy Awards, nomeado para o prémio de melhor actor pela British Academy Film Awards, nomeado para melhor actor nos Golden Globes.
A sua participação enquanto Lili Elbe mereceu, da parte da comunidade LGBTQI+, as mesmas críticas que agora recebeu André Patrício por interpretar uma personagem de uma mulher trans na peça de Pedro Almodóvar “Tudo Sobre a Minha Mãe”. Apesar do excelente desempenho enquanto mulher trans, o actor sofreu duras críticas e veio a público pedir desculpa por ter aceitado o papel, afirmando que se fosse hoje, talvez não tivesse aceitado interpretar Lili Elbe, uma mulher trans, sendo o actor inglês um homem cis.
Continuo a discordar desta ideia de que só actores e actrizes trans possam desempenhar papéis que personifiquem pessoas trans. No entanto, Eddie e algumas activistas trans, mostraram que se pode ter outra abordagem sobre o assunto, já de cabeça fria, e que ajude (nos ajude, enquanto sociedade) a entender os vários ângulos desta problemática. E como?
Eddie Redmayne decidiu ir fazer um workshop com actrizes trans e entender melhor os seus argumentos. Percebeu o que já sabia: as pessoas da comunidade LGBTQI+, sobretudo as pessoas trans, não têm as mesmas oportunidades no acesso e são muitas vezes excluídas em detrimento de actores e actrizes cis que vêem interpretar essas personagens. O actor inglês afirmou, desta forma, que enquanto não houver igualdade no acesso e no número de oportunidades, não voltará a interpretar uma personagem trans.
A discussão deve fazer-se nestes termos. Em “A Rapariga Dinamarquesa”, ninguém invadiu os locais de gravação, ninguém tentou ostracizar directamente o próprio Eddie, mas as críticas foram reais e a negrito, pelo que o actor decidiu voltar à escola.
Reflectir. Progredir. Não excluir. Ouvir. Falar. Aprender.
A representação e a representatividade
Keyla Brasil, artista trans, invadiu o palco de uma peça no Teatro S. Luiz, protestando contra aquilo que denomina de ”transfake” (uma expressão, julgo, importada dos Estados Unidos da América), por um actor, que se identifica com o género masculino, estar a interpretar, na peça, o papel de uma mulher trans.
O argumento das activistas centra-se na questão da representatividade e do “lugar de fala”, exigindo, e bem, que mais artistas trans sejam contratadas para o teatro, artes performativas e para outros trabalhos onde, sabemos, há ainda discriminação e desigualdade no acesso; argumentam, também, e é aqui que a minha discórdia se apresenta, que só actores ou actrizes trans possam representar os papéis ficcionais de personagens trans. Nada mais errado, a meu ver, pois a representação não é um sinónimo de representatividade. Vejamos as definições dos dois conceitos, aplicados à questão em discussão:
1 – Representação: (teatro) “exibição em cena”, “espectáculo teatral”, (cinema, teatro, televisão) “desempenho de actores; interpretação; actuação”;
2 – Representatividade: “qualidade do que é representativo”; Representativo: “que representa”; “que envolve representação”; “constituído por representantes”.
Analisando as duas expressões, podemos concluir que as mesmas se inter-ligam. A representação pode ser representativa de alguma realidade, pode é ser, apenas, representação e, como tal, o teatro reveste-se apenas da premissa da interpretação de textos e personagens, não sendo raras as vezes que uma estória, sendo ficcional, retrata partes da realidade em que nos inserimos. A falta de representatividade no que à presença de pessoas trans na vida social e no mundo laboral, as suas dificuldades no acesso a direitos que são comuns, ou deviam ser, a todos os Seres Humanos, é real e não a podemos escamotear. [Read more…]
Ah grande PSD! Ides longe, ides!
Sabem quem é, no tal Conselho Estratégico Nacional do PSD (uma invenção do Rui Rio e que o Montenegro foi atrás) o responsável pela área da Cultura ? Por aqui vi tudo. Além do CV que está aqui, é comentador de bola num programa da CMTV.
Há um provérbio turco que reza assim “Se meteres um palhaço num palácio ele não se transforma num príncipe, mas o palácio transforma-se num circo”.
Parabéns Dr. Luís Montenegro!
A culpa é do Passos!
O que se pergunta é o seguinte: a Sra. ex-Secretária de Estado da Agricultura regressa ao cargo (equiparado a Director-Geral) de Directora Regional de Agricultura e Pescas do Norte?
É que nem devia ter estado nesse cargo antes de ir para o governo.
E agora deve ser afastada. O que diz a Sra. Ministra? Quem a nomeou para Directora Regional?
Já se percebeu também que a CRESAP não serve para nada.
Estão em causa todas as escolhas (dessa CRESAP e dos membros do governo) para os cargos de Alta Direcção da Administração Pública.
Surrender – O striptease de Bono
Não, não vos vou falar sobre o Galamba ser ministro. Seria falar sobre um Portugal que jaz morto e arrefece e eu já não dou para esse peditório. Hoje vou escrever sobre um livro que me agarrou nos últimos dias de 2022 e no primeiro dia do novo ano. Literalmente.
Um livro que diz mais a quem foi adolescente nos anos oitenta e até noventa do século passado do que aos mais jovens leitores (e autores) do Aventar. Um livro que nos conta a vida e a obra de um irlandês adolescente em 1978 até aos dias de hoje. Eu não sou gajo de ter saudades do passado. Nisso sou como o outro, tenho saudades é do futuro. Mas não esqueço, pelo menos tento, não esquecer o passado e a verdade é que nos anos oitenta a personagem deste livro e os seus amigos mais chegados foram personagens na vida de muitos de nós. Na minha foram. [Read more…]
Avatares de arte
Entre as várias conotações de avatar, uma deles aplica-se na perfeição à música, literatura e cinema que se tem produzido nos últimos anos.
Tal como no significado informático, onde o avatar representa alguém num contexto diferente, como um jogo ou um ambiente virtual, sem no entanto ser essa pessoa, também nos avatares da arte, a actual produção artística representa a arte, sem no entanto a ser – falta-lhe a arte.
Vem isto a propósito do filme “Avatar, o caminho da água”.

That’s life, pois, é a vida!
The training task is identical to the original studies and is a 2AFC identification task. In each trial, participants heard a word that is part of a minimal pair that contrasts /r/ and /l/.
— Brekelmans et al. (2022)
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Foto: Lusa/José Sena https://bit.ly/3PijG0b
O “é a vida!” pertence a António Guterres, actual SG da ONU. E o “fujamos!” pertence originalmente ao Ega, mas aplica-se perfeitamente a Faro Ramos, o diplomata que fugiu para o Brasil, sem a pompa de D. João VI. A língua portuguesa, essa, continua a servir de pretexto para discursos de circunstância, sempre que há chouriços para encher. Assim, efectivamente, não chegamos às meias-finais do Mundial. Parabéns a Marrocos, França, Croácia e Argentina. O meu favorito? A sério? O árbitro.
O “that’s life”, por seu turno, pertence a Kay & Gordon, sendo mundialmente conhecido pelas maravilhosas versões do magnífico Sinatra. No entanto, só lá cheguei (sou novo) pouco depois do 1-3 do México 86 (visto ainda na casa da Rua de Santa Catarina), pela versão do fresquíssimo Eat’em And Smile (com o Steve Vai!!!) do extraordinário Lee Roth. Que mundo fabuloso.
De facto, that’s life.
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Impromptu (sem itálico, porque é mesmo um impromptu), devido a Bessa-Luís e Lourenço, mas a culpa é de Saramago
Porque hoje é sábado, estava a dar uma última vista de olhos ao texto da conferência de amanhã, domingo, sobre o gigante Saramago, e a recordar Eduardo Lourenço e Agustina (*Agostina, na RTP, como podeis ver na imagem que vos apresento, e sem o – entre o Bessa e o Luís, cortesia da RTP).
Lourenço e Bessa-Luís estavam constantemente a perguntar, durante as respostas, “não é?”. E em cada frase (ou oração): “não é?”. Mais uma frase, e tal, “não é?”. É um problema português, mas dos antigos. Tão antigo como Bessa-Luís, Lourenço e as minhas avós. Problema que teria sido resolvido com jornalistas sofisticados. À pergunta “não é?”, a reacção “não, não é” ter-nos ia poupado imensas horas de indefinição e angústia. Perante o olhar de espanto dos interlocutores, a repetição: “não, não é” teria resolvido o assunto. Assunto, graças aos deuses, resolvido, teríamos menos um pseudodilema linguístico a ocupar o nosso labor. Mas ainda não chegámos lá. Nem sei se lá chegaremos. A ver vamos. Veremos.
Fonte da foto: https://www.youtube.com/watch?v=X15Eia63Qpc&t=414s
Por este rio acima: 40 anos

“Por este rio acima”, sexto álbum de Fausto, comemora 40 anos de existência.
Editado a 19 de Novembro de 1982, é o sexto álbum de Fausto, sendo o primeiro álbum de uma trilogia chamada “Lusitana Diáspora”, que inclui ainda “Crónicas da Terra Ardente” (1994) e “Em Busca das Montanhas Azuis” (2011).
Inspirado nas viagens de Fernão Mendes Pinto relatadas em “Peregrinação” (1614), contraria a obra no sentido em que Fausto nunca saiu de Lisboa para compor o disco e sendo a viagem do cantautor uma viagem interior, em que o seu “eu” desflora o país que o rodeia e as tormentas do seu povo.
Editado pela Triângulo da Sassetti, produzido por Eduardo Paes Mamede, escrito, composto e interpretado por Fausto, com a companhia de Júlio Pereira, Pedro Caldeira Cabral e Rui Júnior, o disco “Por este rio acima” será, para sempre, um marco na cultura popular portuguesa.

Fausto Bordalo Dias nasceu em 1948 no interior do navio “Pátria”, algures entre Angola e Portugal.
Fotografia: Manuel Castro
Pequeno apontamento para aulas de literatura contemporânea em língua portuguesa
Cada um dos rios que lhe corriam nas veias trazia seus encantos e lamentos de outras terras, outras gentes e povos. Por isso ele se possuía de tudo e reflectia o modo de ser e de estar de todas aquelas gentes com seus sonhos e poesias em tons de lira.
— Boaventura Cardoso
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O escritor angolano Boaventura Cardoso recebeu o Prémio de Literatura dstangola/Camões, promovido pelo dstgroup, em parceria com o Instituto Camões, pela obra “Margens e Travessias”, de 2021.
Todavia, segundo o Correio da Manhã de ontem, Boaventura de Sousa Santos terá recebido exactamente o mesmo prémio.
Esperemos que o assunto se resolva pacificamente.
Nótula: A pareceria não é a actriz principal desta indicação, mas fica o registo, para arquivo.
Agradecimento: A Jorge Nuno Silva.
***
Decadência
Ao ter conhecimento do “apego a um qualquer animal de estimação, típico das sociedades decadentes“, do bispo Linda, lembrei-me disto, lido há cerca de 33 anos:
— Não posso dispensar-me aqui duma psicologia da «fé» e dos «crentes» em benefício dos próprios «crentes». Se, ainda hoje, alguns deles (crentes) ignoram até que ponto é indecente ser «crente»—ou então quanto isso é sinónimo de decadência, de vontade de vida quebrada—, já amanhã o saberão.
—Nietzsche
No original, lido cerca de treze anos depois:
— Ich erlasse mir an dieser Stelle eine Psychologie des „Glaubens“, der „Gläubigen“ nicht, zum Nutzen, wie billig, gerade der „Gläubigen“. Wenn es heute noch an solchen nicht fehlt, die es nicht wissen, inwiefern es unanständig ist, „gläubig“ zu sein — oder ein Abzeichen von décadence, von gebrochnem Willen zum Leben —, morgen schon werden sie es wissen.
—Nietzsche
Nótula: Felizmente, estou durante uns dias na casa da aldeia, onde guardo estas preciosidades (a segunda edição, de 1988). Já agora, o amigo que me apresentou ao Frederico Guilherme e o próprio Frederico Guilherme fazem anos amanhã, 15 de Outubro. Ainda bem que há coincidências.
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