Vem depressa, emigrante!

888002011688.170x170-75Parece que foi há dois ou três anos (talvez por ter sido há dois ou três anos) que Passos, Relvas e outros sucedâneos espalharam a ideia de que os jovens portugueses precisavam de sair da sua zona de conforto e emigrar. O impagável primeiro-ministro chegou mesmo a afirmar que o português tinha de deixar de ser piegas. Pelo meio, como é típico da elite parola portuguesa, lá vinha a referência à valentia de um povo de descobridores que sempre soube ultrapassar adamastores e bojadores, entidades consubstanciadas, na maior parte das vezes, em politicotes que andam a minar o Estado praticamente desde a fundação da nacionalidade.

Em muitos casos, a zona de conforto de muitos que emigraram era a zona do desemprego. A direitola, neologismo resultante da expressão “direita tola”, não consegue falar ou escrever sobre desemprego sem recorrer às inevitabilidades de despedir ou à caracterização do desempregado como um inútil que vive confortavelmente sentado num subsídio de desemprego. Paulo Portas chegou mesmo a declarar que havia gente a receber o Rendimento Social de Inserção e a aforrar cem mil euros nas respectivas contas bancárias, sem especificar o número de prevaricadores, o que implica lançar uma lama fétida sobre todos os outros. Não admira: o porco, quando se espolinha, não está preocupado em saber se suja alguém.

Camilo Lourenço chegou a explicar que o país ganhava muito com o facto de haver profissionais portugueses altamente qualificados a trabalhar fora do país (esquecendo-se, talvez, de que esses profissionais terão filhos fora do país, pagarão impostos fora do país, servirão as populações de outros países, farão as suas compras nas lojas de outros países).

Depois de ontem (porque, em termos históricos, um período de dois anos corresponde a ontem) os governantes terem provocado o esvaziamento do país, ei-los que, pela voz de Pedro Lomba, se declaram preocupados em captar imigrantes e em recuperar emigrantes. Não sei qual será o termo para designar alguém que expulse uma pessoa de sua casa para, logo a seguir, a convidar a regressar, mas pertencerá, com certeza, ao campo da psiquiatria.

Lomba chega mesmo a explicar que, entre outras medidas para resolver o problema,  “o Governo decidiu redenominar o ACIDI (Alto Comissariado para a Imigração e o Diálogo Intercultural) como Alto Comissariado para as Migrações (ACM)”. Efectivamente, não há como a coragem de redenominar, essa maneira tão portuguesa de se ser reformista!

Depois de o malogrado Graciano Saga ter aconselhado o emigrante a regressar com cautela, Pedro Lomba quer apressá-lo. Felizmente, o emigrante já sabe de que é que a casa gasta, se é que se pode chamar casa a este país. Vem devagar, emigrante.

Comments


  1. Como emigrante que sou não penso em voltar nos próximos 20-30 anos, e a voltar será para gozar a reforma em Portugal. Alias não conheço muitas pessoas com vinte e trinta anos que pensem voltar tão cedo. Imaginem lá agora se todos os emigrantes decidissem voltar ao mesmo tempo…


  2. Portugal tem um Governo de asnos. Limitam-se a zurrar. Querem uma agenda para o emprego e sobem a idade de reforma e aumentam o horário de trabalho. Querem uma agenda para a natalidade e precarizam as relações de trabalho e baixam, ao limiar, os salários. Querem o regresso dos emigrante que há pouco expulsaram do país, dizendo que a emigração era uma oportunidade e ao mesmo tempo não incentivam a criação de emprego e aumentam impostos. Ou seja, este Governo é, na verdade, um Governo de bestas, que nada sabem, à excepção da mentira e má fé que usam no exercício da governação. É inaceitável a sua manutenção em funções depois de governar contra lei, produzindo danos irreparáveis ao país. Que espera a múmia para o despedir? Que haja outro sismo como o de 1755?

  3. joao lopes says:

    pois eu nao sou piegas,e nao emigro.este desgoverno nao me merece qualquer consideraçao , mas este é o meu pais,é o nosso pais,nao é nem do dr.passos,nem da familia espirito santo(por exemplo) ,embora pareça.