Há pessoas que louvam a grandiosidade do passado português, com um discurso que revela arrepios e êxtases. As batalhas medievais, a gesta dos Descobrimentos, a acção dos restauradores da Independência, tudo é apainelado, pintado em murais virtuais gigantescos, do tamanho de uma glória incomensurável.
Não sou insensível aos feitos extraordinários dos nossos antepassados. É verdadeiramente incrível a coragem de quem participou num combate medieval ou a abnegação de quem viajou em frágeis naus por oceanos desconhecidos e entrou em selvas inóspitas. Talvez por ser um impotente de sentimento, como dizia Carlos da Maia, não consigo, no entanto, sentir orgulho, admiro à distância, gosto de saber, consigo espantar-me.
As mesmas pessoas que sentem orgulho no passado, relativizam quase sempre as atrocidades. Ou porque outros fizeram antes o mesmo ou pior ou porque não fomos tão maus como os outros ou (e este é sempre muito interessante) porque é preciso atender ao contexto. Também há quem defenda que, no meio de tudo, interessa realçar o papel civilizador.
Colonizar um território foi sempre o mesmo – é como se eu, transportando uma arma, uma cultura e uma religião, entrasse no apartamento de uma família desarmada e lhes explicasse, tendo em conta a evidência da arma e a superioridade da cultura, que teriam de passar a viver na despensa, passando a existir para me servir a mim e aos meus. Algures, no meio ou no fim da história, ainda ficaria surpreendido com alguma reacção agressiva. [Read more…]
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