Um país que veio à rua

Quando cheguei, já a manif ia adiantada. Estava eu nas Praça de Espanha, em Lisboa, e procurei fazer como em 2008, nas manif dos profs: andar em contra corrente e fotografar os rostos da revolta. Não consegui. Fiz a Av. de Berna, voltei à Praça de Espanha, subi até ao Corte Inglês, desci até ao Marquês e não encontrei os extremos. Do que ouvi na rádio sobre as outras cidades e do que aqui vi, o país saiu à rua.

Entre fotografias apressadas dei por mim a pensar que ainda não olhara para as pessoas. Parei um pouco e comecei a observar. Famílias inteiras, muitos jovens, idosos e crianças aos ombros desfilavam à minha frente. Em alguns olhos a zanga, noutros ansiedade e noutros ainda a alegria-tristeza de quem vê um povo a reagir e a ter que reagir. Vi também originalidade e a simplicidade de um “Não”, a única palavra num cartaz. E “Os bancos que salvaste querem a tua casa”. Quanta verdade!


Ao voltar a casa ouvi o CAA no seu papel de deputado (ou seria de blogger?) apresentar a sua leitura da manifestação. Segundo ele, as pessoas estavam ali porque não tinham percebido as medidas. Que era preciso explicar-lhes.  Essencialmente, conclui-se, as pessoas estavam ali porque são burras; porque têm défice de compreensão. Acontece que estas pessoas perceberam muito bem que lhes querem ir ao bolso para transferir o seu salário directamente para o patronato. É triste ver ao ponto que um deputado (ou será um blogger?) consegue descer, chegando ao ponto de usar a mesmíssima linha argumentativa daqueles que tanto criticou enquanto blasfemo.

Ligo a televisão para ver o que se passou no resto do país e está a RTP a em directo a partir do Parlamento. Uma multidão, muito jovem, está lá. São nove e quarenta da noite e uma chuva de pedras da calçada cai neste momento sobre a polícia. Alguns querem sangue, é a única explicação. Esses estão ali apenas para agredir e, neste momento, já perderam a razão. Atirar pedras não é direito a manifestação. Já desde 2008 que ouço os suspiros de por cá não haver tumultos. Que péssimo serviço que fazem à manif. Em troca da satisfação do seu ego, roubam o protagonismo ao milhão de pessoas que saiu à rua. Espero que a polícia consiga fugir ao confronto.

Hoje o país veio à rua mas não acredito que loucos que nos governam tenham ouvido. Há que continuar até que a mensagem chegue aos moucos.

Comments

  1. Carla Romualdo says:

    excelente retrato – dos manifestantes e dos oportunistas

    • Amadeu says:

      Não fui dos que depois da Praça de Espanha foram para São Bento.
      No entanto, não entendo porque há-de ser considerado oportunista quem pensa que devemos ir mais longe no vigor da expressão da nossa revolta.
      “Do rio que tudo arrasta, diz-se que é violento. Mas ninguém chama violentas às margens que o comprimem” (Bertolt Brecht).

      • Carla Romualdo says:

        Amadeu, volte lá ao texto e descubra, num exercício de onde está o wally, quem é o oportunista 😉

  2. maria celeste ramos says:

    Tão pacífica que havia pais com filhos pequenos aos ombros mas também, impressionamtemente, com carrinhos de bebés – não viram – como todos confiam em todos e nesta lama grande e sofrida e silenciosa que um dia reenta de dor e escreve palavras sábias de um simples NÂO
    que gente bonita e torturada como disse Louçâ por esta ai o que é qie le disse que é bruto e duro e incisivo e sem mêdo – MÊDO diz o filósofo José Gil Portual com mêdo – medo de quê de quem ? mêdo de efrenat a guerra das colónias ?? (Não esquecer quem se pirou para Paris ou São Tomé e Argélia – Mêdo de enfrentrar as dificuldades da vida e a fome ? Mêdo – com mêdo não haveria o dis de HOJE igual ao dis 25 de Abril mas sobretudo o do 1º de maio de 1974 – mêdo ?? Ai os meninos estudam e são doutores e vão trabalhar para os que roubaram – frança e alemanha – investiram aqui anos e anos e sacaram e desloclaizaram e agora vão trabalhar para eles que fizeram 2 guerras mundiais alé da guerra civil dos vizinhos ??
    Mêdo ?? mêdo de atravessar a Taprobana ?’ Mêdo de emigrar nos anos 60 para construir essa puta da europa que tudo destruíu e a foram LEVANTAR pedra a pedra – mêdo de emigar nos anos 80 para trabalhar no “motor da europa” alemão que destruiu com w guerrras veio e sacou mão de obra e agora deslocalizou e chamam pigs – Onde estão os pig -ai portuguses inventores e crativos e mansos – Fortes e masos os boizinhos tão meigos com coração de passarinho – Isso é defeito ?? quem construíu o país – não foram os anónimos – na PF e nas empresas ?? mas quem foje aos impostos ?? os do ordenado mínimo e FP ??? ou serão mesmo a AR e os que mandam – Madeira faz o mesmo que aqui foi feito – Madrid também Cimeira Social que agrupo 150 grupos sociais – também não precisam mais de sindicatos faz de conta nem NGO que comem mais do que fazem comer – os meninos de Bolonha vão trabalhar para frança e alemanha que nos roubaram Chirac e Schroder que fundaram a CEE e como dividir o “bôlo” – não é tratar mal a mão que deu de comer – é dar ainda mais à mão que roubou – a europa é mentira e ela é que tem de ser reformada porque não somos rasileiros nem africamos – somos europeus aqui onde a europa COMEÇ – não estamos no cú da europa – estanos
    a latitude de 30 a 42º latitude norte – quem disse que éramoa a periferia e o cú europeu – filhos da mãe que assim falam – aqui começa a europa e os que para a descoberta do mundo partiram – ou tria sido a germania que foi ao mar ?’ a germânia deu hitlter e os seguidores de israel mais nazistas do que os originais

Discover more from Aventar

Subscribe now to keep reading and get access to the full archive.

Continue reading