O fim da pausa na política

Incêndios e calor à parte, assim como a revolta da impotência para contrariar tais calamidades, sentimos e gozamos, nesta quinzena de Agosto, a costumada paz política estival. Políticos de férias, uns cá dentro, outros lá fora, e os cidadãos acabam por beneficiar do silêncio das vozes que gritam e os agitam, mesmo quando os discursos se fazem em surdina. Estamos também libertos da prosa jornalística de políticos, ora amistosa, ora polémica. Depende dos efeitos e audiências a que se destinam, em cada momento.

Rodeados de imagens de labaredas, de corpo cálido, húmido e de volta e meia refrescado por dentro e por fora, cá vamos desfrutando da serenidade devida à ausência dos políticos para banhos. Banhem-se à vontade! Nós, no vagar próprio da calmaria do Agosto na cidade, mergulhamos com suavidade em saborosos prazeres do nosso contentamento. Pode ser na leitura, num filme, na navegação pela Internet; ou mesmo em conversas de amigos, agora despidas da política, temporariamente arquivada. Uns pensam isto e outros defendem aquilo, mas a controvérsia, agora, não se senta à mesa connosco. Retirou-se também para férias.

Que felicidade sublime me traz esta pausa política! Não pela política, que essa, coitada, não tem culpa alguma. As responsabilidades recaem, sim, sobre aqueles que a usam para trepar na vida. Traçam caminhos nodosos, porque, tristeza das tristezas, boa parte deles está convencida de saber o que desconhece. E decide! Simula segurança para ocultar a ignorância. No fundo, está na moda a produção de um tipo de políticos que até seria desprezível, se não tivesse a força de imposição, a muitos, de caminhos difíceis, proporcionando, a poucos, grande fatia de privilégios. Ah é verdade: e, ‘como quem parte e reparte e não fica com a melhor parte ou é tolo ou não tem arte’, um conjunto deles também se serve do melhor. Tem essa suprema arte.

Infelizmente, esta paz é temporária. Está prestes a exalar-se do nosso dia-a-dia. Os principais artistas, pouco falta, estarão de volta e… “the show must go on!”. Com o nó-de-adão bem esticado, lá voltarão os ditos e gritos sobre a revisão constitucional, o PEC, o OGE e tudo o mais que nos trama a vida, porque a solução é recorrentemente mal escolhida. Se assim não fosse, até os saudaria: “Bem-vindos neste vosso regresso!”. Porém, tenho de reconhecer que há muita gente que os saúda com votos. É o tributo próprio da democracia.