Mais uma oportunidade perdida

Mal Santana Lopes desse o flanco («a que eu tinha aventado»), aproveitava-se e atacava-se: «Por falar em aventado,  então, “agora facto é igual a fato (de roupa)”»?

Amanhã, Vítor Gonçalves pode começar por perguntar a Santana Lopes:

«Ora bem, então, “agora facto é igual a fato (de roupa)”»?

Santana Lopes, o Wally e a República das Bananas

Antes de Pelé, 10 era apenas um número. Li essa frase em algum lugar, em algum momento da minha vida.

***

Santana Lopes, apesar de aparecer imenso na comunicação social portuguesa, continua a não responder ao essencial, que tentarei resumir em três perguntas:

  1. Porque é que “agora facto é igual a fato (de roupa”?
  2. Porquê esta República das Bananas ortográfica? (*)
  3. Considera que 1. poderá explicar 2.?

Votos de um óptimo 2023.

(*) A actualíssima imagem vai sem as rodinhas do costume, para Santana Lopes descobrir o Wally.

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Niemand ist vollkommen

„Sie sind ein Monster!“
„Und Sie sind Anwalt! Niemand ist vollkommen.“
Dracula

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No tal artigo do “nobody is perfect”, Cavaco grafa 30 de Janeiro. Muito bem. 30 de Janeiro. Lindo menino. Mas Cavaco grafa perspetivas (muito bem, dirá um adepto português do #AO90, muito mal, dirá um homólogo brasileiro e muito mal, direi eu também, obviamente). Cavaco grafa diretamente (muito mal, direi eu, muito bem, dirão os nossos amigos de há pouco). Logo nos primeiros parágrafos do artigo de hoje, Cavaco explica-nos as virtudes do #AO90. Cavaco mandou. Santana cumpriu. Por isso, por haver tanta sabedoria e sensatez, tivemos há uns anos o “agora facto é igual a fato (de roupa)” de Santana. Quod erat demonstrandum. Agora, vou mas é trabalhar.

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Pelos vistos, no caso em apreço, o conceito “governo em plenitude de funções” é semelhante à doutrina “agora facto é igual a fato (de roupa)”

Exactamente. Efectivamente.

Apesar de Santana Lopes ter vencido na Figueira da Foz,

agora facto” NÃO “é igual a fato (de roupa)“.

PSD pede impugnação da candidatura de Pedro Santana Lopes à Câmara da Figueira da Foz?

No entanto, quando Pedro Santana Lopes escreveu «agora facto é igual a fato (de roupa)», o PSD ficou quietinho.

Hoje, lembrei-me do “agora facto é igual a fato (de roupa)”

Assunto a retomar num Sons do Aventar, onde, como se sabe, aventamos sons.

Mencionar um fato: this never happened to Pablo Picasso

I loved all sorts of English language experimentation.
John Cale

In fact, comparing previous research on UG principles in L2 phonology vs. L2 syntax, and pointing out the relatively little work in this area by L2 phonologists, Young-Scholten (1995, 1996) argued that there is, nevertheless, reason to believe that interlanguage phonologies do not violate the principles of UG, because they often correspond to natural languages (a point first made by Eckman, 1981), and because learners can often reset phonological parameters, instead of being stuck with the L1 values.
Öner Özçelik & Sprouse (2016)

***

Há quem tente adoptar o AO90 e escreva fatos e contatos, em vez de factos e contactos. Nunca grafei nem fatos em vez de factos, nem contatos em vez de contactos. Ao não adoptar o AO90, estou automaticamente protegido da base IV e de interpretações abusivas (eufemismo para ‘erradas’) dela feitas, como o famoso “agora facto é igual a fato (de roupa)“. Neste contexto, jamais me ocorreria, por exemplo, mencionar um fato.

Mencionar um fato, em vez de facto? Homessa! Como cantam os Modern Lovers (e o Cale e o Bowie e o White), this never happened to Pablo Picasso.

Continuação de uma óptima semana.

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Nótula de fim-de-semana: a culpa é deles

When I say that there is nothing like “household pet”, I don’t mean, you know, that your cat doesn’t exist.
Noam Chomsky

Given that we cannot control for all possible learning variables and individual differences, we take a “big data” approach to examine the putative benefits of explicit instruction and HVPT as they pertain to a wide range of adult nonnative Mandarin learners.
— Wiener, Chan & Ito (2020)

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As ocorrências por mim aqui frequentemente trazidas de fato e contato, em vez de facto e contacto, são uma mera amostra da actual adopção do Acordo Ortográfico de 1990 em português europeu. Mesmo assim, convém sublinhar: há vida além da superfície, ou seja, do Diário da República. E o panorama é francamente assustador.

Por exemplo, este empregador de “gestores comerciais” escreve fator e proativo, não aceita candidatos falantes de português não-europeu, mas faculta contatos (exactamente, contatos), tornando-se assim um belíssimo exemplar do desaste e uma prova da vitória da doutrina “agora facto é igual a fato (de roupa)” e afins (sim, há afins).

O mal está de facto feito e os responsáveis são efectivamente conhecidos.

Continuação de um óptimo fim-de-semana

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Um novo rumo

Ninguém pára para pensar.
Elis Regina

Das Mißverhältnis aber zwischen der Größe meiner Aufgabe und der Kleinheit meiner Zeitgenossen ist darin zum Ausdruck gekommen, daß man mich weder gehört, noch auch nur gesehn hat.
Nietzsche

On ne vit pas dans un espace neutre et blanc ; on ne vit pas, on ne meurt pas, on n’aime pas dans le rectangle d’une feuille de papier.
Foucault (pdf)

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Uma das hipóteses para a existência de contato num documento publicado no Diário da República é a redacção ter sido feita por um escrevente de português do Brasil ou por alguém que tenha tenha passado os anos formativos no Brasil ou em ambientes onde o português do Brasil era a língua dominante. É uma hipótese remota, mas as hipóteses remotas são as mais interessantes e são obviamente sempre excluídas à partida por quem escreve Orçamentos do Estado com os pés. Todavia, esta tese não se aplicará ao documento que hoje vos apresento, publicado no sítio do costume, no exacto dia em que os muito respeitáveis Nietzsche e Foucault fazem 176 e 94 anos,, respectivamente.

A razão é simples: [Read more…]

O mês de Outubro começa lindamente

When perceiving speech, listeners need to first decode the auditory signal and transform this time-varying input into accurate phonemic representation (Cutler & Clifton, 1999).
— Jinghua Ou & Sam-Po Law (2017)

Keep me walking, October road.
James Taylor

Faz quatro anos em Outubro que aderi ao Movimento, disse o Homem. E por acaso, olha, como quase tudo o que me sucedeu na vida.
— António Lobo Antunes, Tratado das Paixões da Alma

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Hoje, ao ler estes dois belos nacos de prosa,

não pude deixar de me lembrar de José António Pinto Ribeiro, o ministro da Cultura que lamentava ainda não conseguir escrever fato em vez de facto:

“Ato jurídico” é fácil, agora “fato” em vez de “facto”…

Efectivamente, seguindo o princípio de Pinto Ribeiro, fruto de um deficiente conhecimento do instrumento sobre o qual frequentemente se pronunciou e relativamente ao qual tomou medidas políticas com consequências graves, mutatis mutandis, o redactor das pérolas de hoje no sítio do costume pensará que efetuar e eletrónico são fáceis, agora contatando e contatar em vez de contactando e contactar

Obviamente, depois de escritas estas linhas, não pude deixar de me lembrar do “agora facto é igual a fato (de roupa)“.

Desejo-vos um óptimo mês de Outubro.

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A doutrina Santana Lopes continua a dar os seus frutos

é preciso o fato
Mário Cesariny

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É verdade que é importante estar atento à cruzada do Governo de Portugal e da Câmara Municipal de Lisboa, em nome do reforço da língua inglesa como língua de comunicação internacional. Todavia devemos continuar a prestar atenção a outros assuntos importantes, como o “agora facto é igual a fato (de roupa)” de Santana Lopes, que continua na ordem do dia no sítio do costume.

Exactamente. Efectivamente.

Desejo-vos um óptimo fim-de-semana.

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A sessão ortográfica

It was a new breed of men, created by the Renaissance cult of the individual, who embarked on these hazardous voyages of exploration.
Gustav Jahoda

You’re perfect, yes, it’s true.
Mike Patton

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Já aqui se reconheceu a vantagem de sexão em relação a secção, por não haver cê à mão de semear para suprimir. Ou seja, enquanto secção é uma presa fácil, sexão é uma grafia à prova de bala. Há uns anos, secção começou a transformar-se em seção na consciência grafémica de determinados escreventes e chegámos ao ponto de sessão. De facto, no caso aqui apreciado, a doutrina alternativa de 1990 — a do n’importe quoi, estimulada por pérolas como “agora facto é igual a fato (de roupa)” ou “se disser Egito escreve sem ‘p’, mas se disser Egipto escreve com ‘p’” — dividir-se-á entre duas interpretações extremamente sofisticadas: por um lado, a sexão de voto e, por outro, a sessão de voto.

Secção de voto, algures na cidade de Lisboa. Foto: Cristina Carvalho (http://bit.ly/2JGgAo2), cf. Aventar, 26/5/2019 (https://aventar.eu/2019/05/26/sexao-seccao-secao/)

Tudo começou a descambar [Read more…]

Fim de semana de calor

But there is no [i]skin.
Kiko Loureiro

Music has its written language, but it’s audio.
Steve Vai

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Durante toda a semana, esteve calor em Portugal. Foi semana de calor. E essa semana de calor terminou. Acabou-se o calor. Doravante, durante os próximos dias, provavelmente, estará frio em Portugal. Por isso, temos o título deste texto e, mais importante, deste oráculo:

Obviamente, dir-me-ão, trata-se do fim-de-semana. Não é uma semana de calor que termina, é um fim-de-semana com calor que começa ou se prevê. Então, se tão obviamente se trata de um fim-de-semana com hífenes, por que motivo lhos tiraram? Como já explicou António Emiliano, fim-de-semana não é o fim da semana e um bicho-de-sete-cabeças não é um bicho com sete cabeças.

É escusado perguntarmos o motivo de tal supressão a quem assinou de cruz o Acordo Ortográfico de 1990. Ainda nos respondiam com algo de semelhante a:

Fim-de-semana passa a fim de semana, porque agora facto é igual a fato (de roupa).

Continuação de um fim-de-semana com hífenes e votos de óptima saúde.

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A 1.ª Lei da Termodinâmica e o Paradoxo de Fação

Physical attraction 
It’s a chemical reaction 
It’s a physical attraction 
Sweet satisfaction
Madonna

Tezeo. Vem a meus braços, fiel amigo, e releva-me o errado conceito, que de ti formei.
António José da Silva (O Judeu), “O Labirinto de Creta

So when it was time to register for the [Spanish] class, we were standing outside, ready to go into the classroom, when this pneumatic blonde came along. You know how once in a  while you get this feeling, WOW? She looked terrific. I said to myself, “Maybe she’s going to be in the Spanish class —that’ll be great!” But no, she walked into the Portuguese class. So I figured, What the hell­­—I might as well learn Portuguese.
Richard Feynman

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Há uns tempos, estive para escrever algumas linhas sobre estas intervenções de políticos (do PSD). Naquela altura, uma delas deixara no ar a probabilidade quer de o secretário de Estado da Energia (do PS) desconhecer, por exemplo, a 1.ª Lei da Termodinâmica, quer de essa lacuna o desqualificar para o cargo. Acabei por não escrever as linhas, mas ri-me. Contudo, o meu riso não foi motivado pelos comentários. Antes pelo contrário. Ri-me, isso sim, do ensurdecedor silêncio. O ensurdecedor silêncio dos políticos do PSD, dos políticos portugueses em geral e da população portuguesa activa nos meios de comunicação social e nas redes sociais, aquando do “agora facto é igual a fato (de roupa)“. O “agora facto é igual a fato (de roupa)” foi escrito por quem assinou o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 em nome da República Portuguesa. Exactamente. O silêncio cúmplice mantém-se até hoje.

No que diz respeito ao [Read more…]

Os *inteletuais em Portugal

Programs characterized by instability and/or hostile environments were associated with lower effect sizes.
Ann C. Willig (apud Stephen Krashen)

I was raised in a religious atmosphere, Mr. Verger, but whatever that left me with, it’s not religion.
Alana Bloom

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Em princípio, os negociadores, promotores e amigos do Acordo Ortográfico de 1990 não estarão satisfeitos com as frequentes supressões do cê medial de facto, de contacto e de secção que actualmente vão acontecendo em português europeu. Mas ignoraram os avisos e criaram as condições para este desastre. No entanto, há excepções. Por exemplo, Pedro Santana Lopes desejou e até promoveu a supressão do cê de facto, com o célebre

Agora facto é igual a fato (de roupa).

 

Facto, contacto e secção são as vítimas a quem tenho dado palco, quer aqui, quer ali, quer alhures.

Mas há mais.

Recentemente, o excelente leitor do costume (que tem andado entretido com outras vítimas do AO90) enviou-me esta ocorrência de *inteletual no sítio do costume:

Em Abril de 2008, Fernando Venâncio previu [Read more…]

As infra-estruturas e o fato

I follow Lakoff and Johnson’s definition of a conceptual metaphor as an underlying association that is systematic in both language and thought and explains something new or abstract in terms of something familiar or concrete. Although the focus of my analysis is on metaphor, I also relate to metonymies and similes, which function in similar ways (Lakoff & Johnson 1980 : 36).
Marta Neüff

MÉNÉLAS
Les déesses furent rapides à exiger de toi le prix du sang.
Le fait d’avoir vengé ton père ne t’est-il pas compté?
ORESTE
Pas encore, et pour moi le retard équivaut au refus.
Eurípides, “Électre/Oreste” (trad. Marie Delcourt Curves)

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Efectivamente, enquanto houver quem ache este salgueiro

melhor do que este,

não há qualquer problema.

Todavia, enquanto houver quem ache que agora facto é igual a fato (de roupa), o problema é grave, pois pode levar a isto:

De igual modo, [Read more…]

O fato das alianças, a persistência dos contatos e o massacre contínuo

MAÎTRE DE PHILOSOPHIE. La voix U se forme en rapprochant les dents sans les joindre entièrement, et allongeant les deux lèvres en dehors, les approchant aussi l’une de l’autre sans les joindre tout à fait : U.
MONSIEUR JOURDAIN. Il, U. il n’y a rien de plus véritable : U.
MAÎTRE DE PHILOSOPHIE. Vos deux lèvres s’allongent comme si vous faisiez la moue : d’où vient que si vous la voulez faire à quelqu’un, et vous moquer de lui, vous ne sauriez lui dire que : U.
— Molière, “Le Bourgeois gentilhomme

Considering that the sound /y/ is absent from the vowel space of the subjects in the present study, both at the phonemic and allophonic levels, and consequently that /u/ varies freely, beginner L1 American English learners of L2 French should have difficulty establishing contrastive phonemic categories for /y/ and /u/.
Ruellot

Specifically, the study focused on production by native English speakers of the French vowels /u/ and /y/. French /u/ is realized with variants that are similar, yet acoustically non-identical, to the realizations of the /u/ category of English. French /y/, on the other hand, does not correspond directly to an English vowel, and can therefore be regarded as a new sound for English native speakers who learn French as an L2.
Flege

***

Há um importante aspecto — com <c>, que em português do Brasil ilustra /k/ e em português europeu fixa o /ɛ/, impedindo um /ɛ/→[e] (cf. ‘espeto’) — a ter em mente, ao reflectirmos — também com <c>, que ilustra o /k/ subjacente e fixa igualmente o /ɛ/, evitando-se /ɛ/→[ɨ] (cf.repetirmos‘) — sobre a recorrência de grafias como aquela ali à esquerda:

Agora, de forma escorreita.

Há um importante aspecto a ter em mente, [Read more…]

Os factos de Câncio e os fatos da CMTV

Avec ses quatre dromadaires
Don Pedro d’Alfaroubeira
Courut le monde et l’admira.
Il fit ce que je voudrais faire
Si j’avais quatre dromadaires.
— Apollinaire, “Le Dromadaire

Sedulo curavi, humanas actiones non ridere, non lugere, neque detestari, sed intelligere.— Espinosa

Woah oh oh oh oh oh oh oh.
Ian Astbury

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Convém sempre lembrar que nem só de fatos se vive no Diário da República:

Seja como for, de fatos efectivamente muito se vive, no Diário da República em particular e na realidade (orto)gráfica portuguesa europeia em geral, desde Janeiro de 2012.

Eis um exemplo, no Diário da República de hoje:

Quanto à realidade (orto)gráfica portuguesa europeia em geral, peguemos na nossa fidelíssima lupa e debrucemo-nos sobre um episódio extremamente interessante. Ao contrário do excelente Público, que traduziuperspectiva‘, para a nossa correcta interpretação da *perspetiva de Daniel Oliveira, a CMTV deturpou factos, indicando fatos,

quando Fernanda Câncio claramente não se refere aos fatos “de roupa” espalhados por Santana Lopes.

Apresentado este meu pequeno relatório, resta-me desejar-vos um óptimo fim-de-semana.

***

Depois de ter escrito «agora facto é igual a fato (de roupa)»,

(exactamente) «Santana Lopes admite abandonar presidência da Aliança». OK. Siga.

Reflictamos acerca do fato

Nice chap, buys his round.
Ian Hislop

Never in the field of human conflict was so much owed by so many to so few.
Churchill (apud Boris Johnson)

Furthermore, there is an enormous class hatred: how can this uneducated worker who doesn’t even speak proper Portuguese dare to be sitting in the presidential palace?
Noam Chomsky

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Efectivamente, depois de o livro de Nuno Pacheco ter sido muito bem apresentado, houve uma semana ligeiramente atribulada e o sossego do fim-de-semana.

Chegados a segunda-feira, encontramos isto, no sítio do costume:

Os responsáveis pelo desastre lá vão encolhendo os ombros, assobiando para o ar e, armados em Boris, fazendo de conta que não está a chover.

Apetecia-me escrever umas linhas acerca do verbo reflectir e da nítida função diacrítica do c nas formas arrizotónicas com e: reflecti, reflectia, reflectiam, reflectíamos, reflectias, reflectido, reflectíeis, reflectimos, reflectindo, reflectir, reflectira, reflectirá, reflectiram, reflectíramos, reflectirão, reflectiras, reflectirás, reflectirdes, reflectirei, reflectireis, reflectíreis, reflectirem, reflectiremos, reflectires, reflectiria, reflectiriam, reflectiríamos, reflectirias, reflectiríeis, reflectirmos, reflectis, reflectisse, reflectísseis, reflectissem, reflectíssemos, reflectisses, reflectiste, reflectistes, reflectiu.

Tal função torna-se perceptível, por exemplo, se compararmos com repetir: repeti, repetia, repetiam, repetíamos, repetias, repetido, repetíeis, repetimos, repetindo, repetir, repetira, repetirá, repetiram, repetíramos, repetirão, repetiras, repetirás, repetirdes, repetirei, repetireis, repetíreis, repetirem, repetiremos, repetires, repetiria, repetiriam, repetiríamos, repetirias, repetiríeis, repetirmos, repetis, repetisse, repetísseis, repetissem, repetíssemos, repetisses, repetiste, repetistes, repetiu — e quanto à justificação de -ct- nas formas com i (reflicto, reflictamos, etc.), lembremo-nos da “derivação ou afinidade evidente” e do <x>com valor [ks].

Além dessas apetecidas linhas, também queria propor formalmente uma adenda à lista de Vasco Pulido Valente. Ei-la, informal: agora facto não é igual a fato (de roupa).

Infelizmente, como o “bem-amado kaiser“, ando com pouco tempo: quer para as linhas, quer para a formalização da proposta. Fica para outra altura.

***

Quem para a extrema-direita na polícia?

Les perroquets commencèrent à crier, âcres, aigres, puis les perruches ajoutèrent leur pépiement à cette symphonie discordante. Leur charivari montait avec la lumière.
Éric-Emmanuel Schmitt, “Les Perroquets de la place d’Arezzo

***

Aliás,

Quem pára a extrema-direita na polícia?

Exactamente, apesar de ativa e de ativistas:

Como sabemos, existe uma diferença entre afirmar

Escrevo com o AO nos jornais

e escrever com o AO nos jornais.

É como a diferença entre determinar

a aplicação do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa [..], a partir de 1 de Janeiro de 2012, […] à publicação do Diário da República

e permitir que isto aconteça:

— ou até um bocadinho semelhante a, por um lado, afirmar

No Acordo é limpinho: é muito mais fácil dizer que se é contra. E também parece que algumas pessoas têm de encontrar válvulas de escape para a insatisfação em que vivem. É um pouco como chamar nomes ao árbitro. Acho que às vezes as pessoas precisam de conhecer mais mundo.

e, por outro, escrever

Agora facto é igual a fato (de roupa).

Desejo-vos um óptimo fim-de-semana.

***

A aliança ortográfica

Linguistics is the field that tries to figure out how human language works — for example: how the languages of the world differ, how they are the same, and why; how children acquire language; how languages change over time and why; how we produce and understand language in real time; and how language is processed by the brain.
David Pesetsky

***

Depois de Santana Lopes ter promovido os fatos, através do famoso “agora facto é igual a fato (de roupa)“, vem agora o Expresso (num intervalo das aulas) dar uma notícia sobre a Aliança com contatou:

Na quinta-feira, dia deste excelente artigo de Nuno Pacheco, o Diário da República trouxe-nos os habituais fatos

e andou a promover contatos [Read more…]

Rio sobre Santana:

É uma figura que todos nós acarinhamos.

Santana sobre o AO90:

Agora ‘facto’ é igual a fato (de roupa).

A União das Freguesias de Azueira e Sobral da Abelheira, em 2013, sobre atestado [pdf, p. 10]:

Exactamente:

documento público, escrito, de carácter informativo, relativo a factos, situações ou qualidades ou estados de pessoas determinadas, que são do conhecimento dos membros da Junta de Freguesia, ou que representam a sua convicção. Este documento não tem força probatória material, podendo o seu conteúdo ser contestado e contrariado.

A União das Freguesias de Massamá e Monte Abraão, em 2018 (aliás, foi mesmo ontem, no sítio do costume, obviamente), sobre atestado:

Efectivamente:

documento público, escrito, de caráter informativo, relativo a fatos, situações ou qualidades ou estados de pessoas determinadas, que são do conhecimento dos membros da Junta de Freguesia, ou que representam a sua convicção. Este documento não tem força probatória material, podendo o seu conteúdo ser contestado e contrariado.

***

O fato do senhor deputado

No JN de hoje, o deputado social-democrata (ou do PSD) Paulo Rios de Oliveira escreve sobre os CTT. Aquém do conteúdo, está a forma. Como deputado de um dos partidos que impuseram o chamado acordo ortográfico (AO90), é natural que o use.

Não sei se Paulo Rios de Oliveira terá sido apoiante de Santana Lopes nas últimas eleições internas, mas é, em termos ortográficos, um seguidor fiel do candidato derrotado por Rui Rio. Na realidade, foi Santana Lopes que declarou “Agora ‘facto’ é igual a fato (de roupa).” [Read more…]

Santana Lopes é fixe

Com Santana Lopes, há fatos e contatos.

Santana Lopes e a ortografia à deriva

Jorge Sampaio escreveu o seguinte:

Fartei-me do Santana como primeiro-ministro, estava a deixar o país à deriva — mas não foi uma decisão ad hominem.

De facto, este anúncio de Santana Lopes foi muito mau :

em relação ao acordo ortográfico […], o empenho do Presidente [do Brasil] Lula da Silva é o de que se dinamizem todos os instrumentos nesse domínio.

Contudo, isto é bem pior:

Agora facto é igual a fato (de roupa).

Efectivamente. Hoje, no sítio do costume.

Sampaio acrescenta:

De vez em quando é preciso dar voz ao povo – e percebi qual era o sentimento do povo.

Então, vamos por partes:

Já assinou a petição? Sim, esta. Óptimo.

Já assinou a Iniciativa Legislativa de Cidadãos pela revogação do AO90? Muito bem.

E a Iniciativa de Referendo? Sim? Excelente!

Os motivos dos fatos

amadeo3

Amadeo de Souza-Cardoso, Caricatura de Emmérico Nunes (1909)(http://bit.ly/1sHl6FW)

Chacun, là-haut, sait mieux que le matador ce qu’il conviendrait de faire en bas. En outre, comme chez tous les publics, la critique prouve l’intelligence et l’enthousiasme se verse au compte de la crédulité, de la naïveté, de la bêtise.

— Jean Cocteau, “La corrida du 1er mai

Lembra-me um sonho lindo, quase acabado
Lembra-me um céu aberto, outro fechado
Estala-me a veia em sangue, estrangulada
Estoira no peito um grito, à desfilada

Fausto Bordalo Dias

***

Os leitores do Aventar conhecerão certamente a seguinte afirmação de Santana Lopes:

Agora ‘facto’ é igual a fato (de roupa).

Não será, contudo, todavia ou até mesmo porventura, o caso do jornalista que entrevistou o autor desta afirmação, ainda por cima, produzida em artigo escrito para o jornal em que a entrevista foi publicada. Efectivamente, uma vez que na entrevista nenhures se vislumbra qualquer referência à afirmação de Santana Lopes, o autor terá perdido, [Read more…]

«Nunca me engano e raramente tenho dúvidas»

bola de fogo

© Rogério Pacheco (http://bit.ly/20mxHxw)

Nonetheless, it seems to me doubtful as a way to proceed in the present situation for the following reason. I said above that the essence of consciousness was subjectivity. There is a certain subjective qualitative feel to every conscious state. One aspect of this subjectivity, and it is a necessary aspect, is that conscious states always come to us in a unified form. We do not perceive just the color or the shape, or the sound, of an object, we perceive all of these at once simultaneously in a unified conscious experience. The subjectivity of consciousness implies unity. They are not two separate features, but two aspects of the same feature.
— John Searle, Philosophy In a New Century

***

Hoje, ao passar os olhos pelo sítio do costume, lembrei-me quer deste parágrafo escrito por Searle, quer daquela frase que Cavaco Silva não disse. A Câmara Municipal de Ovar, à qual dediquei meio parágrafo na quinta-feira, estará provavelmente a preparar, neste exacto momento, uma nova declaração de rectificação.

DRE 222016 ovar

Houve discernimento [Read more…]