o morto-vivo

Enterrámo-lo há muitos anos. Despedimo-nos dele, acompanhámo-lo, evocámos as melhores histórias, silenciámos as suas faltas, fizemos o luto, recordámo-lo, a princípio muitas vezes, depois cada vez menos, o normal. E, pouco a pouco, habituamo-nos a pensar nele sempre num passado que se ia afastando. Quanto mais tempo passa sobre um morto, menos espaço há para ele no nosso presente. Ele ficou lá, nesse tempo em que éramos mais jovens, e vivíamos noutra casa, e ainda não nos tinham acontecido certas coisas. Ele nunca chegou a conhecer a nossa vida presente, já não haveria espaço para ele nela.

Por isso, quando ele voltou, não sabíamos que fazer com ele. Voltou assim, sem mais, por capricho. Que não se tinha dado bem, que isso de estar morto não era para ele, que tinha pensado melhor, que ainda queria fazer coisas. [Read more…]