Os soberanistas

liberation_15sept2015

Leio num dicionário: ser soberano é ser independente. É não estar subordinado a outrem. É deter autoridade exclusiva e isso, esse poder, ser inalienável. No mesmo dicionário leio também que soberanista define aquele que é partidário da soberania. A palavra não está ainda repertoriada em português. Mas em francês sim: a palavra foi aceite pelos dicionaristas da língua francesa em 1974 – quando o partido soberanista do Québec conseguiu fazer do francês a língua oficial daquela província da confederação canadiana.

Considerando que o território francófono do Canadá tem particularidades culturais e económicas que justificam a sua autonomia, os soberanistas do Canadá foram capazes de mobilizar a sua sociedade para a realização de dois referendos: em 1980 e em 1995. No segundo escrutínio, 49,4% dos cidadãos do Québec (onde 60% são francófonos) votaram a favor da soberania daquela província canadiana. Um dia destes conseguem.

Há mais soberanistas no Mundo, como se sabe. Por exemplo, na Catalunha, onde a situação está por estes dias ao rubro. Ou na Escócia. E a tendência na Europa, perante um federalismo neocolonialista que tem gerado níveis de desigualdade que evocam os da decadente Belle Époque, será a de fazer germinar novos ensejos nessa matéria, designadamente os indesejáveis nacionalismos – em que não cabe a diversidade identitária e cultural existente num mesmo território e se desprezam os laços que ligam os diferentes Outros às paisagens e à memória dos lugares que habitam.

Há dias, em França, a palavra soberanista emergiu em força nos media quando o filósofo Michel Onfray, sozinho e desalinhado contra a esquerda bem-pensante (comprometida ou dorminhoca), deu uma entrevista ao jornal conservador Le Figaro que inflamou o jornal de esquerda Libération. [Read more…]