Guterres é (quase) o maior

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Tem sido muito interessante ver as mais destacadas personalidades dos partidos de direita, que passaram anos a malhar no antigo primeiro-ministro, a transformar António Guterres no ultimo grande herói. Todos elogiam o homem, o político, a “picareta” da retórica. Todos exaltam as virtudes, os valores e as capacidades diplomáticas do socialista. Já ninguém fala nas contas de cabeça do PIB ou no “pântano”. Tudo é belo. Guterres é o maior e a opositora de última hora, proposta pelo partido europeu que agrega PSD e CDS-PP, não merecia o cargo. A hipocrisia, como a dívida pública, não pára de aumentar neste país.

Como português, fico muito satisfeito de ver outro português, do qual não conheço contas em nomes de amigos, malabarismos fiscais, conluios em torno de fundos europeus ou esquemas denunciados de tráfico de influências com agências de publicidade, chegar a um cargo da importância daquele que Guterres irá agora ocupar. Acho que faz bem à autoestima deste país, permanentemente triturado por corruptos e outros criminosos de colarinho branco e, sobretudo, acho que estamos perante o homem certo para lidar com a grave crise de refugiados que continua a assombrar a Europa. E mais não me estendo, fazendo minhas as palavras do Marco Faria: xeque-mate.

Claro que, assentando os pés na terra, não tenho dúvidas do papel secundário que Guterres irá ter. Por muito que a sua vitória me possa honrar, quem manda na ONU são os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança e assim continuará a ser. Guterres poderá ser o líder mais empenhado de sempre, poderá até desafiar o poder instalado, mas, no final do dia, fará, apenas e só, aquilo que o Conselho lhe permitir fazer. O que, dados os bloqueios que são conhecidos e os interesses que gravitam em torno da cúpula do poder mundial, poderá não ser grande coisa. Bem vistas as coisas, até Durão Barroso continuará a “mandar” mais do que ele.

Fotomontagem: As minhas insónias em carvão

 

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