A São solidária e a função diacrítica

Este recheio também é óptimo para tartes.
O Livro de Pantagruel

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Os excelentes Tradutores Contra o Acordo Ortográfico encontraram um belíssimo exemplo das consequências da base IV do Acordo Ortográfico de 1990. Ainda por cima, com potencial crase — não ocorrida e ainda bem. É a prova do crime (aliás, uma das provas do crime), ao cuidado dos incréus por conveniência.

Para quem não tiver Facebook, eis o vídeo publicado pelos Tradutores.

Muitos e bons (e.g., Castro, Duarte, Delgado Martins, Emiliano — e, deste rol, estou intencionalmente a excluir autores de ortografias autênticas, como os maravilhosos Gonçalves Vianna e Rebelo Gonçalves) indicaram a função diacrítica das letras c e p. Há uns anos, além de também me caber o papel de a indicar, dediquei algumas páginas a explicá-la, em publicação de referência, com revisão por pares (pdf). Desde então, até no Ciberdúvidas a função diacrítica (da letra c) chegou a ser mencionada. Mas sem consequências.

Fica o registo e ficam também os meus votos de uma óptima semana.

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Comments

  1. Anonimo says:

    A são, não confundir com ah, são. Mas vindo de onde veio, a pronúncia correcta seria á-som. Até isto se perde.
    Uns tiram cês dos fatos, outros metem nos contractos. O Lavoisier tinha razão. O melhor é mesmo comunicar por emojis, já faltou mais para ser o verdadeiro esperanto.

  2. Professor B says:

    Já o Camões dizia:” e não do canto, mas de ver que venho / cantar a gente surda e endurecida.”
    Eles não querem ouvir, Francisco. Há ali muita cera. É mesmo um problema ótico, a juntar à cegueira, um problema óptico.

  3. Luís Lavoura says:

    Se o Francisco Miguel Valada pronunciar muitas vezes a palavra “ração” (daquela que se dá a comer aos animais de quatro patas), verá que, mesmo somente com um ç, o primeiro a é aberto. Ou seja, não é preciso um segundo c para nada.

  4. Luís Lavoura says:

    O cç não tem função diacrítica nenhuma. O que acontece é que o étimo das palavras com cç tem em geral um som aberto antes do cç. Esse som manteve-se aberto ao longo da evolução da língua portuguesa, enquanto que o cç (que se lê cs) se transformou em ç somente. Ou seja, “ação” tem o “a” aberto porque sempre o teve, não por efeito da forma como é escrita.

    Há que compreender que uma coisa é a língua que é falada, outra é a escrita dela. Não é por “ação” se escrever “acção” que a pronúncia da palavra passa a ser diferente.

  5. Luís Lavoura says:

    O Francisco Miguel Valada considere a palavra “balio”. Como no nome da povoação, Leça do Balio. O “a” é aberto. Mas, pela escrita, a maior parte das pessoas que não conhece essa palavra lê o “a” fechado, ou seja, lê “bâlio”. É normal, porque palavras similares (por exemplo “safio”, “vazio”) têm o “a” fechado. Mas em “balio” é aberto. Logo, não é precisa função diacrítica nenhuma para abrir o “a”. O “a” pode ser fechado, como em “cação”, ou aberto, como em “ração”. Tal como há pessoas que pronunciam “tamanco” com o primeiro “a” aberto, outras pronunciam esse “a” fechado.
    É muito simples: a escrita não fixa univocamente como é que uma palavra se lê. Qualquer francês ou inglês sabe isso.

    • Anonimo says:

      Sempre ouvi “bálio”.
      Bâlio só quando se fala de ó-velhas.

  6. Luís Lavoura says:

    Sempre ouvi “bálio”.

    Atualmente sim, porque a terra é mais conhecida, talvez devido aos engarrafamentos na Via Norte que são noticiados.

    Mas há uns decénios, as pessoas viam “balio” escrito e proncunciavam “bâlio”. Ou então, ouviam “bálio” e perguntavam se tinham acento no a.

    • POIS! says:

      Pois desculpe, mas é conhecida por muito mais!

      Então e as águas termais aloiradas que por lá correm?

      Nunca ouviu falar da célebre “Água de Leça do Balio”, conhecida pelos seus efeitos medicinais?

      Olhe que muitas grandes obras da nossa cultura foram construídas graças à sua influência! E aposta que até muita criança veio ao mundo por sua influência! Pode crer!

      • POIS! says:

        É certo que a influência deste medicamento é colossal! Mas as últimas frases do último parágrafo são como segue : “E aposto que até muita criança veio ao mundo por sua ação! Pode crer!”

      • Paulo Marques says:

        É natural que não conheça, o rio Leça foi um esgoto a céu aberto durante décadas.

    • Anonimo says:

      Leça do Bá-lio sempre foi conhecida pelos engarrafamentos. De Super Bock

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