Maria João Marques, juíza, procuradora e tudo

Ontem, foi um dia triste: fui bloqueado pela Maria João Marques no X.

A colunista do Público e comentadora no Malditas Segundas Feiras na SIC Notícias publicou o seguinte tweet, a propósito da libertação de Assange:

Resolvi comentar o que se segue:

Fui, finalmente, brindado com esta edificante resposta.

Os adjectivos com que a afamada colunista me brinda não são importantes, até porque há sempre forte possibilidade de que esteja a ser justa. Sou, portanto, «idiota» e «ignorante». Quando leio os dislates habitualmente escritos por Maria João Marques, o «misógino» que há em mim abre um olho e chega a bocejar, mas acaba por se virar para o outro lado e continua a dormir.

Se ninguém é bom juiz em causa própria, Maria João Marques, por outro lado, é boa juíza em qualquer causa. Assange é, segundo a douta senhora, um «muito provável abusador sexual».

Na sociedade de direito em que julgo viver, o facto de Assange não ter sido julgado nem condenado é suficiente para que seja considerado inocente.

Na sociedade de direito da meritíssima juíza Maria João Marques, o facto de a «larga maioria dos  crimes sexuais» não chegar «nem a tribunal nem a condenação» é razão suficiente para se considerar que Assange é culpado, porque houve quem o acusasse de um crime sexual. No mundo judicial de Maria João Marques, doravante, para que haja uma condenação, é suficiente que circule um rumor – a ausência de julgamento ou de condenação em tribunal passariam ser prova de que houvera crime.

É, portanto, natural, no mundo interior de Maria João Marques, que todo aquele que se atreva a lembrar a importância de algumas regras básicas do direito passe a ser, por exemplo, «apologista de violadores».

Se se vier a provar, no meu mundo, que Assange é culpado de algum crime, desejo ardentemente que seja condenado. Este meu desejo, que julgo sincero, é dificilmente compatível com a qualidade de apologista de violadores, ao contrário do que acontece na cabeça de Maria João Marques, esse planeta em que as leis e os tribunais estão dispensados pela presciência que lhe é conferida pela qualidade olímpica de comentadora e colunista.

Confesso, entretanto, que o meu maravilhamento com a leveza de Maria João Marques já vem de longe, dos tempos do Insurgente e, mais tarde, da passagem pelo Observador. O que é leve sobe mais depressa – é, portanto, natural, que Maria João Marques tenha chegado ao Público e à televisão.

Comments

  1. Estás a ilustrá-la com o imperdível Princípio de Peter. Há quem lhe chame um parágrafo assassino. Eu diria que, por mais leve que seja alguém, deve ter sempre cuidado com a frechada certeira deste senhor que meteu na ordem uma nefelibata.

  2. É para isso que foi contractada, e para isso está a fazer um bom papel. Depois daquela coisa de ontem à noite, melhor não vão ficar.

  3. Se há coisa de que muito me orgulho, porque ainda por cima era a minha rede social preferida e onde tinha, de longe, mais seguidores (se calhar até deveria escrever no currículo é!):

    “Eu saí do Twitter quando o Musk o comprou e fez daquilo o seu brinquedo”.

    E que deus tenha dó de todos aqueles que ainda por lá andam.

  4. POIS! says:

    Não sejamos injustos.

    A D. Maria Marques até está a admitir poder ser, ela própria, “uma muito provável abusadora sexual”.

    Não consta que exista nada contra ela mas, já que “é do conhecimento geral e comprovado que a larga maioria dos crimes sexuais não chegam a tribunal nem a condenação”…

  5. JoaoSemRegras says:

    Para lá da etiqueta “provável qualquer coisa” (aos “seus” aplicará a coisa do inocente até, é a questão), tão woke, e da ŕesposta a quem dela discorda (és um misógino, racista, anti semita, qq coisa), um ponto engraçado, super woke (o woke enquanto adjectivo depreciativo, que também se aplica aos Tuckers), e demonstrativo da sua, dela, curta capacidade intelectual, é a frase “a extrema esquerda celebra”. A “extrema esquerda” juntou-se toda e foi a votação quanto a celebrar ou não, houve plenário, alguém falou em nome da “comunidade”, como decorreu o processo?

    • Pareces eu a escrever. O pior é quando é código 😀
      Mas quanto à questão, quando a probabilidade provém de mentirosos compulsivos por razões geopolíticas, tendo então desaparecido, ela é nula. Por muito que se concorde que a hipotética acção é uma agressão menor que devia ser considerada um pouco mais séria.

  6. José says:

    Está muito espalhada a ideia de que quando uma mulher acusa um homem é verdade. O contrário não é verdade, senão podíamos considerar (como diz Pois!) que a tal senhora, com elevada probabilidade, já tocou nas partes de um homem sem consentimento dele. E podíamos ir buscar Freud para, em função do que ela escreve, deduzir que a dita probabilidade é elevada.

  7. Whale project says:

    O que a senhora se esqueceu de dizer e que não foi por crimes sexuais que o homem amargou 14 anos de perseguições que o transformaram num farrapo humano. Foi por desvendar os crimes de uma nação que se diz excepcional e um farol da humanidade.
    O homem ate podia ter mesmo violado as duas senhoras e ainda três vacas, quatro cabras,dois cães,dois gatos e uma galinhola do mato. Não foi por isso que passou 14 anos sob a ameaça de passar o resto dos seus dias numa cela de três por dois .
    Não foi por isso que foi finalmente libertado transformado na sombra de um homem.
    Não sei quanto a outros mas a mim a visão de um homem devastado não me deu vontade nenhuma de celebrar.
    Apenas nojo por todos quantos permitiram que tal acontecesse no que se diz ser o mundo livre.
    O homem só foi libertado porque não nos dava agora jeito mais um Gonzalo Lira.E,a maneira da Inquisição,foi obrigado a reconhecer a culpa.
    Quanto ao Lira, também foi acusado de misógino como se tal justificasse tortura ate a morte numa masmorra ucraniana.

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