Era uma vez uma consulta que se atrasou num hospital privado

Fui hoje com o meu filho a uma consulta num hospital privado. Não interessa qual, porque o que vou agora relatar já me aconteceu no Trofa Saúde, na CUF e nos Lusíadas. Várias vezes. E só não aconteceu na Luz Saúde porque nunca lá fui.

Tínhamos a consulta marcada para 09:45h. Chegamos a tempo e horas, só para descobrir que o médico ainda não tinha chegado. Fomos recebidos às 11:30h. E, com isto, o meu filho perdeu toda a manhã de aulas, eu e a minha mulher perdemos uma manhã de trabalho.

Não me entendam mal: não descarto a possibilidade de ter acontecido algo inesperado e fora do controlo daquele médico que tenha conduzido a este desfecho. O alvo deste texto não é o médico, que foi impecável na consulta, como não é o estabelecimento privado de saúde que escolhemos para este acto médico.

O meu alvo são os oligarcas e os plutocratas que financiam a propaganda anti-SNS.

Aqueles que, por quererem colher os benefícios de uma privatização feita à medida dos seus interesses mesquinhos, apostam todas as suas fichas em descredibilizar o funcionamento e a importância nuclear que o SNS tem na vida da maioria dos portugueses, sobretudo daqueles que não podem pagar para serem atendidos no privado.

Para essas pessoas, o lucro sobrepõe-se à vida do desgraçado que não pode pagar.

O que não deixa de ser curioso, por serem, regra geral, as mesmas pessoas que financiam os movimentos “pró-vida”, eufemismo comum para o fundamentalismo ultraconservadorismo que quer impedir abortos para salvar vidas, mas que sonha com um sistema em que quem não paga pode ir morrer longe. Uma das muitas hipocrisias da extrema-direita e dos idiotas úteis que a servem ou se tentam servir dela.

Os atrasos existem no público e no privado. Mas é estranho vê-los acontecer no privado, que, alegadamente, representa a excelência da gestão eficiente. A verdade é que nem o SNS é tão mau como os avençados dos privatizadores nos vendem, nem a gestão privada é tão excelente assim.

Mas há algo que não depende da minha ou da tua opinião. É que, sem dinheiro, não há privado para ninguém. E o SNS, com ou sem atrasos, não deixa ninguém por tratar. E é por isso que o devemos defender com unhas e dentes. Sempre.

Viva o SNS!

Comments

  1. Rui Naldinho says:

    Caríssimo João

    Experiências como a tua, já este rapaz de sessenta e tais passou num hospital privado.
    Uma ecografia renal vesícal prostática. Coisa simples, mas que obriga o bicho homem a engolir uma hora antes, um litro de água, ou se quiserem, 4 copos de 250ml. Isto nos mínimos. A regra é quanto mais melhor.
    Até aí tudo bem. O problema é teres de reter na bexiga dilatada, toda a quantidade de urina produzida pelo rins, que por necessidade imperiosa do metabolismo humano vais ter de expelir.
    Um atraso de aproximadamente uma hora das consultas, fez-me entrar em desespero, para não dizer mesmo em agonia. A certa altura, quando a enfermeira se aproximou da sala de espera, para chamar um utente, que não eu, abordei a senhora, e em voz alta, para que todos ouvissem, clamei pelo meu exame, com a urgência que o mesmo exigia. Mas sem antes lhe dizer:
    “isto é privado, pagamos, e somos mais mal tratados do que no SNS”
    Como deverás imaginar, depois deste clamor desesperado, fui atendido logo de seguida. Pediram-me imensas desculpas, mas o facto é que isto se vai tornando recorrente.
    Existe um Livro de Reclamações. Mas pelo que já percebi, isso só funciona com tascas e tasquinhas. Quando mete tubarões, em especial hospitais privados, seguradoras, etc, etc, como se diz aqui no Norte:
    É pró tecto!

  2. balio says:

    Os atrasos médicos são algo de muito antigo em Portugal e, como bem diz o post, existem na medicina privada. Não eram raros nos consultórios médicos de antigamente (no tempo em que os médicos praticavam em consultórios individuais). Não são nada de novo.
    Eu nos raros casos em que sou atendido a horas por um médico (coisa que já me aconteceu tanto no público como no privado) felicito explicitamente o médico por isso, ou seja, agradeço-lhe por me ter recebido a horas.
    Faz parte da cultura portuguesa.

  3. Abel Barreto says:

    Há dias tive consulta num hospital privado. O horário foi mais ou menos cumprido, mas o médico estava lá, e não estava. Quando entrei no consultório estava em videoconferência com alguém e durante a consulta recebeu e atendeu dois telefonemas. Que isso tenha interferido no resultado da consulta, creio que não, mas fiquei desagrado com a situação.

  4. POIS! says:

    Já li e ouvi várias narrativas sobre a maravilha que são os privados no campo da saúde.

    Os liberalescos apresentam-nos como sendo capazes de acabarem com as listas de espera, e advogam mesmo o alargamento da ADSE (cujos utentes, em muitas clínicas, também já suportam atrasos consideráveis.. com a entrada de “todos”… os atrasos do público passavam para lá diretamente).

    Os chegarrascas, peritos que são em arranjar solução às três pancadas para tudo, defendem que, após a expulsão do SNS de todos os “indesejáveis” e do prolongamento absurdo dos períodos de carência dos do contribuintes estrangeiros, cada um aceda à saúde “onde seja mais rápido, público ou privado”, não entrando em pormenores chatos sobre quem decide: os utentes? Os médicos de família? Algum gestor de doenças? Pormenores sem importância.

    O que os une: uma falácia. Os recursos humanos que têm os privados são, salvo raras exceções…os mesmíssimos do setor público! Provou-se isso amplamente na pandemia, ode os privados foram os primeiros a encerrar portas…há por aí muita acumulação feita por meios duvidosos, eu já tive experiência disso quando um médico se recusou a passar um documento relativo a uma intervenção cirúrgica que tinha feito porque tinha de mencionar ter convenção com um subsistema de saúde…e, certamente, estava em exclusividade no público,,,

  5. JgMenos says:

    Nada como um qualquer pretexto para cuspir no prato donde lhes vem o que comem: a iniciativa dos que oferecem serviços e produtos a troco de um preço a ser pago.
    Mas correm o risco de ganhar dinheiro com isso, esbafora-se a cretinagem!
    Dinheiro certo e seguro ao final do mês, é a condição virtuosa para os virtuosos do ‘sempre um dia igual aos demais’.

    • POIS! says:

      Pois cá está!

      Eis JgMenos podre de esbaforido a cuspir que se farta!

      Que comentário mais cretino!

      Traduzindo: os iniciativeiros oferecem um serviço. Oferecem, mas a gente paga. E, no fim, será de bom tom que fiquemos eternamente agradecidos pelo favor que nos fizeram.

      E, enquanto a investideiragem voa para as caraíbas com o dinheiro que lhes pagámos, a malta vai aviar os medicamentos na farmácia. Pode ser que, para a malta Menos abonada, lá esteja um bom tranquilizante que vá suprimindo a fome. É capaz de fazer jeito.

      • JgMenos says:

        Donde julgas que vem o dinheiro dos impostos que te pagam o SNS, cretino?

        Do preço que alguém, tomando a iniciativa de prestar um serviço ou vender produto, obtém de quem vê nisso um ganho.

        • Dos impostos progressivos que vossa excelência e a sua pandilha querem eliminar?

        • POIS! says:

          Pois…

          Vosselência “afinou”??? Então foi “na mouche”!

          Mas fica uma surpreendente conclusão de JgMenos: os lamentáveis impostos, afinal, servem para qualquer coisa. Até para financiar os parasitas do sistema que se designam a eles mesmos como “anti-sistema”.

          • JgMenos says:

            Muito contente ficas quando te dou um pouco de atenção!!!

          • POIS! says:

            Pois claro!

            Ainda bem que Vosselência se manifestou!

            Faço parte do painel que vai escolher o cretino do ano e Vosselência passou à condição de favorito.

            Vá lá! Continue!

    • Primeiro têm a iniciativa, e depois pensam no lucro. Um prémio nobel da paz é o mínimo.

  6. Vera Joaquim says:

    Tanto o privado como o público são geridos e compostos por pessoas. Ambos são precisos e complementares, não devíamos andar sempre a po-los um contra o outro.
    Atrasos é típico de português. Posso dizer q no privado o pediatra nunca se atrasa mais de 15 min. O otorrino também não. Já a genecologista já cheguei a esperar 2 horas! E eu espero, tranquilamente, pois percebi a ginástica q a minha médica tem de fazer todos os dias na agenda para nenhuma grávida ficar por ser vista em tempo record, sim, porque durante a gravidez nunca esperei mais de 10 min. Assim como, tenho médicos q se desdobram entre o privado e o público, a já tive casos “desculpe, vim agora das urgências”.
    Já no público, passei por vários centros de saúde. O melhor foi mesmo o de Coimbra. No Porto Ramalde tem os melhores médicos de família, já aquele q agora estou na Trofa… leva-me à loucura pela desorganização. O pior dos meus 40 anos. Chegaram a marcar consulta para as 13h, fui sem comer, a medica passado 45 mim não chamava, fui perguntar e levei com a resposta “a dra tem de almoçar”. Simplesmente desastroso.
    Já os hospitais… q dizer, as melhores urgências são as do Santo António… o melhor q já vi no SNS. Já as de Coimbra… desapontaram-me logo na triagem. Mas por outro lado tem o melhor IPO. As Maternidades do norte são das melhores referências q o nosso país tem. Mas mesmo assim não são para mim. Foram 10 anos para ter um filho… aos 40 ficamos com pouco tempo para esperar meses por novas consultas. Fui para a CUF. A melhor opção. Passados 2 anos a melhor filha. No dia do parto rebentam as águas, em 30 min o marido levou-me à CUF, liguei no caminho, cheguei tinha o quarto preparado, numa hora a bebé nasceu. Se fosse no pública nascia na ambulância na A3. Mas já o meu filho esteve internado na Neonatologia de Faro… do mais humano q vi. Foram 30 dias de luta. Infelizmente não o trouxe para casa, mas até no dia da partida no funeral me acompanharam.
    Atenção q conheço bem Algarve Coimbra e Porto, mas pouco posso falar de Lisboa.
    Tudo é gerido por pessoas. Privado, público. Há privados com bons médicos, e públicos com maus médicos e vice versa. Temos de dar valor ao q de melhor temos, e temos de ver o q falha e resolver. Mas perdemos muito tempo nos insultos como se isso resultasse em alguma coisa.
    Apresentem soluções, não críticas.

    • balio says:

      Bom comentário.
      Eu também, no mesmo hospital público (Santa Maria), frequentei recentemente diversos serviços e médicas (sem exceção, todas mulheres), e nuns (ou por umas) sou sistematicamente recebido com atraso, noutros pelo contrário a pontualidade é extrema.

    • O serviço é tão bom que até fazem as crianças nascer rapidamente! Sarcasmo à parte, os meus pêsames, ninguém merece.
      O problema é que já quase não são geridos por pessoas, nem de um lado nem de outro, são geridos pelo Excel para agradar a gentinha que só vê custos à frente, e por quão beneficia a carreira se esticarem só mais um bocadinho. Podia ser pior, a seguir quer as consultas, quer a gestão podem ser entregues a LLMs, já que a alucinação é norma.

    • Asnonimo says:

      Ja tive todo o tipo de experiências no sns, mesmo que felizmente nunca fui “utilizador ” assíduo. Ja tive uma médica de família que num punhado de anos (entre as suas baixas, ausências e férias) vi 2 vezes: a primeira para me referenciar para o hospital (que não o fez, talvez porque tenha passado a consulta a planear pontes), a segunda numa consulta em que me disse que ia para o privado no mês seguinte e que me gostaria de ter como doente. No mesmo CS tive uma que muito provavelmente salvou a vida do meu filho por nascer. Como em tudo, há que ter sorte.
      Quanto à gestão do tempo, é péssima e transversal. Centros de saúde, lojas do cidadão, nada é feito a horas. Falta organização, mas também há complacência. Aquando das vacinas, as tais que funcionaram “exemplarmente”, marquei a minha para o slot 12-13 de modo a não perder horas de trabalho. Cheguei o quarto de hora antes, fila enorme. Ainda me dei ao trabalho de perguntar como era, mandaram-me para a fila. Quando cheguei à recepção deu para ver que antes de mim tinha entrado gente de slots posteriores… ou seja, todo o sistema de marcação de horas era verbo de encher. Há sítios onde não é assim… chegas 5 minutos tarde, azar, remarca; chegas 1 hora antes, é melhor que leves um sudoku.

      • balio says:

        A mim aconteceu-me o mesmo na segunda dose da vacina: marquei a hora e, quando cheguei lá a essa hora, mandaram-me para a bicha dizendo que o regime era o de “o primeiro a chegar é o primeiro a ser servido”, ou seja, que marcar ou não marcar hora era igual.
        Além de que mudaram o local da vacinação da primeira para a segunda dose: mantiveram-no no Estádio Universitário mas transferiram-no para um pavilhão a 500 metros do inicial, fazendo-me andar por ali perdido.

  7. Bukharin says:

    Lamentável como até em blogs “de esquerda” se aceita acriticamente a saúde privada. Como se numa sociedade civilizada a saúde pudesse ser um negócio.

    Como o articulista João Mendes: vai ao privado e grita vivas ao SNS! Ou como os “socialistas” que recomendam a escola pública… ao povo, porque os filhos deles andam na privada.

    Depois admiramo-nos quando estivermos na selva. Não faremos a menor ideia de como lá chegámos.

    • Anonimo says:

      Uma vez, após em 3 ou 4 idas ao CS ter saído com receita de xarope, para curar uma tosse que não passava, lá fui ao privado, onde alegremente me fizeram uma data de exames e voila, descobriram a maldita maleita. Foi nesse dia que a metamorfose para o fachismo se concretizou.

    • Eu não sei de que clube é suposto ser o blog, mas a sociedade é a que é, e não a que se gostaria. Também têm telemóveis capitalistas, os malandros.

  8. Asnonimo says:

    As primeiras experiências que tive em hospitais privados eram dignas dos filmes ou tv. Rápido, sem gente a atafulhar as salas, sem tempo de espera. As últimas nem por isso. Os hospitais são agora pior geridos? Não, o que mudou foi a quantidade de utentes/clientes/doentes que lá vão. Não há milagres.
    Desenganem-se os que pensam que uma rede privada dá resposta de excelência a uma população que lá acorre em massa.
    E o “sonho” da Saúde privada poderia funcionar nos grandes centros urbanos, em cidades pequenas jamais construíram (a nao ser que o Estado garantisse rendimento) estruturas físicas e humanas à medida.

    • O que mudou é que já entraram na fase do lucro depois da fase da venda de vir a ser tudo perfeito. A qualidade é secundária, dependendo da concorrência e de quem está no terreno.

      • Anonimo says:

        Tem razão
        O número de pessoas com seguro privado que acedem assiduamente a um hospital privado é hoje o mesmo comparado com há 25 anos atrás

  9. JgMenos says:

    Isto de a saúde não poder ser um negócio traduz-se para a cretinagem no seguinte:

    Se és médico ou enfermeiro o teu destino único é ser funcionário público.
    Se te associares com quem te financie montar um centro hospitalar ou de enfermagem, assegura-te que quem o faça não receba rendas nem juros do seu dinheiro.

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