O caso Polanski

roman polanski Reconhecendo que é feio atrair alguém com a cenoura de que lhe será entregue um prémio e dar-lhe para as mãos, ao invés, uma ordem de prisão com 30 anos, não consigo partilhar a indignação em torno do caso Polanski. Não sei porque motivo a Suíça, um país que se especializou na neutralidade mesmo nas circunstâncias em que a dignidade e o sentido de justiça exigiriam uma tomada de posição, decidiu executar a ordem de prisão americana, datada de 1978. Mas creio que o ponto essencial aqui é saber se o crime do qual Polanski é acusado –  sexo com uma menor (à data, ela tinha 13 anos) – deve prescrever ou não. E se entendermos que não deve prescrever, então é justo que ele seja julgado e que um juiz possa decidir se há motivos para condená-lo ou não.

Poder-se-á chegar à conclusão de que, no interesse da vítima, para quem poderá ser preferível evitar relembrar tudo o que aconteceu e ser exposta ao “circo” dos media, é melhor conceder um perdão a Polanski e arquivar o caso. Mas essa decisão deve ter como norte o interesse da vítima e não o do acusado. Polanski rejeitou a acusação de ter drogado a rapariga, mas reconheceu que tinha mantido relações sexuais consensuais com ela. A mim parece-me que o termo “consensual” aplicado a uma relação entre um homem de 45 anos (a idade de Polanski à época) e uma rapariga de 13 é falacioso, mas não vou voltar a escrever sobre esse tema. Ao longo dos últimos 30 anos, Polanski preferiu fugir à justiça a enfrentar o tribunal e limpar o seu nome. O que me parece particularmente irritante e desonesto é  que se alegue, como no texto de algumas petições que vi, que Roman Polanski é um artista de prestígio internacional e autor de obras maiores como um argumento para a sua libertação. Aleguem que a Suíça não tinha o direito de prendê-lo ou que, 30 anos passados, a antiga menina de 13 anos só quer que se esqueçam desse episódio, ou até que ela tinha 13 mas parecia 18, mas não me digam que Polanski deve ser libertado porque realizou O Pianista ou A Semente do Diabo. Um detalhe desconcertante nesta história é que parece que quem tem poder para conceder o perdão a Polanski é o governador da Califórnia (sim, esse). A sorte de um realizador de primeira está nas mãos de um actor medíocre. Bem podia ter sido escrito em Hollywood.