Um “não assunto”, claro

Diz um g. sobre outro: “Nunca dissemos que o senhor Barroso, que ainda é meu amigo, porque tem alguns méritos na Europa, não é um gangster (…)   (nota: o problemazinho de “nunca dissemos” que “não é um gangster” não é da minha responsabilidade, mas é interessante…)

Pronuncia-se assim Juncker, o tal sob cujo olhar benevolente se assistiu ao surgimento de um oásis fiscal em pleno temperado clima do Luxemburgo que levou, segundo estimativa do Partido Verde europeu, à perda por parte dos estados da UE de, pelo menos, 300 milhões de euros.

Jyrki Katainen, vice-presidente da Comissão Europeia com quem Barroso manteve o tête-à-tête em representação da Goldman Sachs (e por isso consta da lista de encontros de lobi de Katainen) diz que “a reunião foi pedida por Durão Barroso e acrescenta que não há documentos sobre a mesma porque não tem o hábito de tomar notas.“

Era o que faltava, tomar notas! Afinal, falou-se num hotel, sem testemunhas, sobre temas totalmente irrelevantes da área do comércio e de política de defesa, e Barroso – que ao saltar de presidente da Comissão para o banco de investimento Goldman Sachs se tinha comprometido a não actuar como lobista do dito banco -, esteve a falar com Katainen apenas e só mesmo a título pessoal, privado. Ah! falaram sobre comércio e Barroso está encarregado de aconselhar o gigante americano sobre o Brexit? E depois, o que tem uma coisa a ver com a outra? Ninguém tem nada a ver e tudo isto não passa de um “não assunto”, na opinião do Sr. Juncker. Pudera.

Um belo dia mandamos-vos todos para hotéis de luxo fazerem os tête-à-tête que vos aprouver sem tomarem notas – mas não em cima das nossas cabeças nem com as mãos nos nossos bolsos. Depois, hão-de chamar-nos populistas.

P.S. Foi graças ao olhar atento do Corporate Europe Observatory que se soube de mais esta manobra de lobi. Obrigada!