Mercado Porto Belo

 Ontem fui pela primeira vez ao mercado Porto Belo, no Porto. Todos os sábados à tarde faz-se este mercado a céu aberto, que reúne vinis, roupa “vintage”, antiguidades, artesanato de novos criadores, livros e revistas antigos, produtos biológicos e o que mais couber na praça Carlos Alberto. O mercado ainda é pequeno, à hora a que fui não havia muita gente, mas o ambiente era simpático. Frente ao monumento aos mortos na guerra de 14-18, tinham sido colocados uns puffs em tons de azul eléctrico, onde estive esparramada um bom bocado a ouvir a música que anima o mercado e a ver gente passar.

 

O Porto Belo, sendo pequeno, já é razoavelmente diverso. E já tem a graça de permitir a quem tiver pelo menos 30 anos um pequeno passeio por alguns objectos que não sabemos que a memória ainda guarda.

Eu descobri três, todos eles insignificâncias sem grande valor comercial, que me fascinaram: um cinzeiro em forma de pneu da Mabor, uma peça horrenda mas que ficou a fazer parte da minha memória porque existia numa casa que eu frequentei na infância e que pertencia a um velho senhor reformado da empresa; o jogo do supermercado da Majora, e quanto se poderia dizer sobre a importância da Majora nas infâncias sem PS2; e  um vinil do Jimmy Sommerville e respectivos Communards, que me fez lembrar todas as gloriosas canções pop que eu sabia de cor a partir dos 10 anos e que desprezei quando entrei numa fase mais negra, ainda que não musicalmente mais rica.

 

Não comprei nada disto mas fiquei muito tempo por ali, a aproveitar a possibilidade tão invulgar de estar deitada qual imperador de Roma no meio de uma praça que sempre me parece tão sisuda e, sobretudo, a dar-me conta do quanto me agradava o Porto que se passeava por lá. Gente nova e não tão nova, miúdos a saltar para cima dos puffs, umas excêntricas velhinhas, destas que se vestem com peças aparentemente tricotadas por elas, deliciadas com tudo o que viam, e, a dada altura, até o historiador Hélder Pacheco, o grande cronista da cidade.

 

Era quase um quadro alegórico. A luz da praça ganhou uma tonalidade levemente rosada que veio suavizar o cinzento que nos rodeava, os pombos pararam por um instante de cagar-nos em cima dos puffs,  e eu fiquei a ver o novo e o velho Porto debruçados sobre as velharias e as compotas de abóbora biológica. A luz era terna, as pessoas sorriam, havia uma amabilidade que prometia um novo mundo, uma nova forma de relacionamento entre as gentes.

 

Antes que o momento se perdesse, levantei-me e fui comer um éclair com chantilly à leitaria da Quinta do Paço. Desgraçadamente já não são o que eram.