Um templo para ateus

A Fundação Saramago inaugurou ontem. A presidenta Pilar (assim li no Público) marcou bem ou mal o dia? É que Saramago era um declarado e acérrimo ateu, mas a Fundação com o seu nome abre as portas, precisamente e logo, no Dia de Santo António! Pilar esqueceu-se deste grande pormenor. Saramago não ia gostar…Claro que a simbologia não é importante… Foi uma coincidência.  O que aconteceu foi que a Fundação abriu no dia de aniversário de Fernando Pessoa, issi sim.  Nem se notou nada que fosse dia do santo padroeiro de Lisboa, feriado municipal…

E por falar em ateus e santos…  

Está de passagem pela capital portuguesa, justamente, o filósofo suiço Alain Botton (1969), criado numa família «profundamente ateia» e autor do livro Religião para Ateus (D. Quixote).

Não é que ele anda a falar num templo para ateus?

Mas afinal… Um templo não é casa de Deus / deuses, lugar sagrado, estrutura arquitetónica destinada ao serviço religioso? Será que o ateísmo pretende comparar-se a uma religião, igualar-se a uma? Há aqui uma apropriação de termos e sentidos religiosos que não associamos, de todo, ao ateísmo. O próprio título do seu livro mistura naturezas opostas. Mas não há dúvida-. Ele conseguiu um golpe de marketing: crentes e ateus são atraídos pelo título. 

Pelo pouco que ainda sei sobre o assunto, Botton considera que o ateísmo pode aprender com a religião (“há coisas na religião que o mundo secular devia incorporar“). Talvez seja essa a justificação para a escolha daquele tema.

Talvez eu venha a espreitar o livro. Como crente.