O Triunfo dos Idiotas

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A democracia foi uma ilusão necessária. Uma ferramenta de propaganda e expansionismo que permitiu aos EUA conquistar ideologicamente a Europa e vencer a Guerra Fria. O seu propósito era claro: consolidar a hegemonia mundial norte-americana. Se a democracia fosse uma prioridade, que na realidade nunca foi, Allende não teria morrido em La Moneda e o Irão poderia muito bem ser hoje um estado secular.

A ilusão da democracia foi, maquiavelicamente, um meio para atingir um fim. Na Europa, claro. No Vietname, Indonésia, Iraque e nos vários golpes de estado patrocinados na América Latina foi imperialismo puro e duro. E o imperialismo é inimigo da democracia.

Não será por isso descabido dizer que foi o soft power, não o poder militar, aquele que deu a vitória aos EUA na Guerra Fria. Foi ele que seduziu a Europa com o Plano Marshall, África com ajuda humanitária e a Ásia com comércio internacional. E que permitiu aos EUA passar incólumes na Sérvia, na Líbia e no Afeganistão. Entre outras exportações de democracia, com os magníficos resultados que se conhecem.

Chegados a 2025, Trump decidiu deitar décadas de soft power para o caixote do lixo da história. O encerramento abrupto da USAID foi a ilustração perfeita do suicídio diplomático. E a bizarra guerra tarifária, contendo em si outros objectivos não tão evidentes (mas bastante enriquecedores, no sentido literal da palavra), revela bem o quão anárquica é a visão trumpista das relações internacionais.

Não contente com o caos semeado, Donald Trump insiste na ingerência. Descartado que está o soft power, que tantas vantagens trouxe ao Tio Sam, a nova administração está a retirar apoio a centenas de universidades e a cancelar contratos com empresas europeias que se recusem a deixar cair políticas “inclusivas”.

Não me vou alongar sobre as virtudes e defeitos dessas políticas. Mas noto que o que Trump está a fazer, com esta chantagem, é precisamente aquilo que a extrema-direita tem acusado os restantes de fazer: doutrinação. Mas esta é imposta à força e sob ameaça de uma recessão global sem precedentes.

Importa sublinhar que não faltará quem se chegue à frente para ocupar o espaço deixado vago, com as mesmas intenções que foram outrora as dos americanos. Espero que os europeus aproveitem a oportunidade, mas temo que os chineses cheguem lá primeiro. E quem tem fome não olha ao dente do cavalo dado.

Para a China, esta é uma oportunidade única, oferecida numa bandeja. Mais do que os 700 mil milhões de dólares em obrigações do Tesouro norte-americano, Pequim tem recursos mais que suficientes para investir nas universidades, nas empresas e nas infraestruturas europeias, asiáticas, africanas e sul-americanas. Pode pagar vacinas e medicamentos aos países mais necessitados. E pode matar a fome de milhões. Como fez com milhões de chineses, graças aos frutos colhidos pela globalização que os EUA impuseram ao mundo. E que agora renegam, com uma seita que se prepara para o suicídio colectivo. Se Orwell escrevesse este capítulo da história, seria o Triunfo dos Idiotas. Os porcos são animais muito inteligentes.

Comments

  1. O soft power são mais de 800 bases militares pelo mundo fora, golpes de estado e assassinatos até serem tão obedientes como a eurolândia, sanções a quem tem ideias de não ter a propriedade privada e à venda ao capital americano como mandamento divino, ajuda que garante o imperialismo de vender matérias primas e comprar bens com alto valor acrescentado, submissão a um sistema baseado em regras à la carte, aceitação das regras de propriedade imaginária que impede concorrência e auto-suficiência, espionagem em larga escala, sanções a quem tem ideias de ter comércio com quem não controlam, e mais umas quantas bondades.
    Mas ao menos não são chinocas, que quem tanto mentiu sobre um único dia em Outubro na única colónia supremacista que é democrática com certeza não inventa iguais patranhas sobre estes e tantos outros como o Irão. Não, é gente fiável que sempre foi contra a matança dos milhões que chacinaram só este século, os arquivos é que mentem.
    E se a eurolândia inevitavelmente vai abanar a cauda, tanto melhor para os 7 mil milhões que vão passar a estar livres para escolher o seu destino que a tangerina humana acelere o que já era inevitável.

  2. JgMenos says:

    Mais uma salada de ‘achamentos’ e um único acerto: ser o regime comunista mas com modelo económico dominantemente capitalista foi uma jogada de sucesso!

    • POIS! says:

      Pois cá está!

      Mais um triunfante comentário!

      Pelo Menos, o triunfo é certo!

  3. Joana Quelhas says:

    É comovente ver a influencia de W.Engdahl e Betrand de Jouvenel nos comunas , mas só para aquilo que lhes convém. Ainda o vou ver a lêr e concordar com H.H. Hoppe, bom proveito, mais vale tarde do que nunca.

    Joana Quelhas

    • POIS! says:

      Pois é, ó Quellllhhhhasss! Já diz o povinho, lá na minha terrinha…

      “A lêr, a lêr enche a Qwelllhasss o pacHoppe”,

      seguida de “se lêr mal, a Qwelllass fica pior do hemorroiEngdahl”,

      e “se ao lêr a prosa lhe for cruel a Qwelllhhass agarra-se ao pincel do Jouvenel”.

      Diz o povinho, influenciado pelos comunas, lá na minha terrinha!

  4. JgMenos says:

    A cambada anunciava a falência eminente dos USA: distribuíam dinheiro como quem usa excedentes nas trocas de bens e serviços, quando só distribuíam papel impresso que outros usavam entre si como se fora ouro e na compra de dívida usa.
    E anunciava-se dever acelerar-se o processo com os BRICS…
    O grunho do Trump faz como os demais quando é tempo de austeridade, com a variante de querer atenua-la deixando de distribuir papel e saqueando minerais e o mais que possa obter.
    Aos seus indígenas aperta-lhes o cinto e promete-lhes a miragem de um magnífico saque, sem excluir quaisquer meios…

    • POIS! says:

      Pois estamos muito preocupados!

      JgMenos…com uma perna à volta do pescoço? Um tomate debaixo da orelha? Uma bossa no pé…não! é uma nádega descaída! Uma mama nas costas? E… a urinar pela cova do braço?

      Bem foi vosselência avisado que o exagero no contorcionismo traria consequências! Essa coluna está um dó!

      Parece um parafuso dos aviões da Boeing! Tem tratamento? Talvez, mas oxalá não tenha de pagar tarifas de mais de cem por cento! Poderia ser fatal!

    • JgMenos says:

      …e vai daí:
      Sentem a falta dos dólares do softpower,
      Começam a ver que terão de dar de comer e tratar da saúde dos seus cidadãos,
      E, grande chatice, o dono da extinta sopa dos pobres é um grunho intratável e armado até aos dentes!

      • POIS! says:

        Pois, mas…

        Mais uma volta à coluna? Olhe lá! Depois não se queixe que não lhe tratam da saúde!

        Não sabia é que a sopa dos pobres tinha sido extinta! Mas vosselência, felizmente, tem desconto no talho porque é acompanhado pela Conferência de S. Vicente de Paulo já desde a gloriosa era salazaresca.

        Paga duas moelas e leva três. A dieta, é pena, não é muito variada. Os comentários também não.

    • Anunciava, quem? Os que suspendem o estado lá do sítio por causa do artificial tecto da dívida sempre que podem na oposição, para impor a agenda – sem grande resistência?
      Sim, faz o mesmo, tirar a quem trabalha para enriquecer os amigos, agora com mais extracção e mais assumida a “aliados” e “parceiros” que lhes reciclam os dólares que lhes mantém a qualidade de vida em troca de bytes a representar dinheiro que só podem ser usados no seu casino, a ver se sai mais uma baixa de impostos aos empreendedores que tanto trabalham a criar rendas. Vão com certeza encontrar já já a mão de obra qualificada, as cadeias logísticas, fornecedores, e capital interessado em investir para poderem voltar ao século XIX, é certinho, e em 4 anos que nem permitem construir uma fábrica. Vai ser um sucesso industrial nunca visto que vai finalmente superar o sucesso dos países que tentaram o comunismo.

  5. JgMenos says:

    Resumindo:
    – as contas incertas dos USA – que ajudava muita gente por esse mundo fora – a cambada odiava-as.
    – agora que as contas se querem certas – e até falam em recuperar algo do muito que distribuíram – a cambada odeia-as.
    Decidam-se, ou a multipolaridade não é isso mesmo: cada um na sua!

    • POIS! says:

      Ora pois! Resumindo o resumindo:

      Os USA eram uma coisa muito caridosa, tipo Madre Teresa, estilo “tomailádólar e bolinha baixeis!”.

      O Trampa é mais tipo Opus Dei, estilo “ó cristolas, dá cá o mei!”.

      Já lá diz o povinho, na minha terrinha “comeste bife multipolar, um boi ao Trampa terás de pagar!”.

      Diz o povinho. Lá na minha terrinha

    • Não eram contas incertas, nem era ajuda, era obrigação de usar o sistema de pagamentos e o petro-dólar à força da bomba e do golpe de estado, que necessitava tornar as economias exportadoras e inevitavelmente falidas, o que obrigava a empréstimos para reestruturar a economia para exportar ainda mais barato e aumentar ainda mais as dificuldades. Assim o desastre da troika em ponto grande e à escala global.
      Mesmo que não percebas, não, também não está a mudar para cada um na sua, mas para cada um investir a sua produção essencialmente no mercado de 500 milhões de pessoas que, ao mesmo tempo, querem pobres, obedientes, e com educação limitada.

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