A CASA DE DINAMITE: BREVE ANÁLISE DO CENÁRIO PROPOSTO

Em “Casa de Dinamite” é representada a resposta de um ataque aos EUA por um míssil disparado algures no Pacífico Norte, sem ter sido possível identificar o local, o autor do disparo ou se teria sido um mero acidente. Nos anos 60 e 70 ocorreram falsos alarmes de ataques de larga escala. Num caso a origem foi numa resposta errada de um sistema de radares ao nascer da Lua sobre a Noruega. Noutro, foi um exercício não comunicado às autoridades responsáveis pelos alertas.
Questões que merecem uma análise mais cuidada:
1- O ponto mais irrealista do filme é a pressão de decisão imediata ao ataque colocada sobre o Presidente dos EUA. Num cenário real, a resposta só deverá ocorrer quando houver clareza suficiente sobre quem ataca e por que motivo ataca. E a resposta pode ser dada muito depois de a deflagração de um ataque causado por um único míssil. O risco de erro pode ter as consequências mais graves que se possa imaginar: a destruição do mundo;
2- A comunicação entre os EUA e a Rússia é representada de uma forma pouco eficaz e confusa. Apesar das relações entre as duas potências terem esfriado muito entre Putin e Biden, a ligação direta entre os dois presidentes continua operacional e a ser testada. Entre EUA e China já existe um sistema quase ao mesmo nível. Com a Coreia do Norte não há protocolo estabelecido;

3- A taxa de sucesso dos mísseis de interceção é dada no filme na ordem dos 50%. Esta é uma perspetiva muito otimista à luz dos testes realizados até hoje. Mais realista seria uma percentagem menos de metade desse valor. Mas continuamos num caso pouco credível. Na realidade, um míssil separa-se em várias ogivas, algumas delas falsas e outras reais cargas nucleares. Este cenário nunca foi testado com o realismo mínimo. Como se pode imaginar aqui a taxa de sucesso é extremamente mais baixa. Se considerarmos um ataque de mísseis de larga escala, os 44 mísseis de interceção dos EUA terão um efeito irrelevante nos milhares de mísseis que a Rússia poderá disparar. Em breve escreverei sobre o Iron Dome (Golden Dome no dicionário de Trump);
4- O trabalho científico da equipa de Owen Toon (https://www.science.org/doi/10.1126/sciadv.aay5478) sobre os efeitos de uma guerra nuclear, continua a ser um dos trabalhos mais completos realizados até hoje. Mas, sublinhe-se, o cenário simulado foi o de uma guerra regional entre Paquistão e Índia, com potencial para criar um inverno nuclear planetário e para decrescer a temperatura do planeta entre 2 a 5°, a precipitação entre 15 e 30% e a produção agrícola de 15 a 30%.

Comments

  1. balio says:

    O Iron Dome que protege Israel mostrou claramente a sua falibilidade no recente conflito Israel-Irão. Após somente doze dias de guerra Israel já tinha sofrido danos muito apreciáveis e já tinha gastado uma parte muito substancial dos mísseis do Iron Dome.
    A falibilidade dos meios de defesa aérea está também a ser evidenciada na guerra Ucrânia-Rússia. Os russos têm mísseis de que os ucranianos são completamente incapazes de se defender.

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