Todos os rios foram dar ao Carmo

*Afonso Brandão

Acabei de chegar do Largo do Carmo.

Tenho 16 anos.

Esperava ter visto um largo em luta, mas vi um largo em festa, com milhares de pessoas e não consigo entender.

Do 25 de Abril – uma época que adorava ter vivido – não posso esquecer que nos trouxe várias coisas de importância extrema como o Salário Mínimo Nacional, o Serviço Nacional de Saúde, a Liberdade de Expressão, o fim da Censura, o fim da Guerra Colonial, o fim das Prisões Políticas, um Poder Local Democrático, mais Direitos das Mulheres.

E numa altura em que todas estas conquistas estão a ser “assassinadas”: com um SNS que não serve a nossa saúde, onde os nossos avós vivem com pensões de fazer corar de vergonha quem lutou para nos dar a liberdade, com um ordenado mínimo que não permite pagar uma casa e meter comida na mesa, todos os dias, pergunto-me: que razões há para fazer a festa?

Para lutar, sim, temos todas as razões. A indignação não a vi lá. E não entendi! Tal como não entendi porque estavam lá tão poucos jovens. Mas entendi e curvo-me de respeito por todos os de “idade maior” que lá vi. A luta e a indignação, espero ver amanhã quando for descer a Avenida da Liberdade!

25 DE ABRIL, SEMPRE!