Josefa Teixeira

«Serafim,

Eu tenho lume no olho. Tenho-te dado em muita malhoada e feito vista grossa para não dar estalada. Ora agora que andas à gandaia com as vizinhas por Penafiel, e a moura de trabalho que fique para aqui como negra ao canto da cozinha, isso é que não senhores. Vai para onde essa bigorrilha, que a seu tempo terás o pago. Eu retiro-me desta casa com o meu oiro e não te fico a dever nada. Não me procures, se não quiseres sofrer uma desfeita. Em tão bom dia que eu me vou embora! Se te esperasse em casa, punha-te essas orelhas compridas como a vista, e talvez o caso passasse a mais, e eu de todo em todo me botasse a perder contigo, que és o rebotalho dos homens!!! Por não saber ler nem escrever, pedi ao teu caixeiro António que esta por mim fizesse. Ele teve dor de mim e também me acompanhou. Adeus por secula seculorum sem fins.

Josefa Teixeira»

Ramalho Ortigão, Uma visita de Pêsames, in Histórias Cor-de-Rosa