J’Accuse, agora e sempre

j'accuse

Foi a 13 de Janeiro de 1898 que Émile Zola publicou o seu “J’accuse” no jornal Parisiense Aurore. Uma carta aberta ao Presidente da República Félix Faure onde era denunciada a injustiça do julgamento e prisão de Alfred Dreyfus, oficial francês e judeu, acusado de traição (e efectivamente condenado por isso). Excepcionalmente, numa época em que o anti-semitismo estava absolutamente disseminado pelas sociedades europeias,  Zola teve a humanidade suficiente para perceber a imoralidade – e o perigo – do preconceito, denunciando o anti-semitismo do governo e dos oficiais que trataram do caso.

A seguir à publicação da carta, Zola foi condenado a pena de prisão. Fugiu para Inglaterra onde continuou a lutar por Dreyfus que tinha sido enviado para o exílio numa ilha na Guiana Francesa. Mais tarde, em 1899, Dreyfus regressou a França e ofereceram-lhe um perdão – por um crime que não tinha cometido. Em 1906, foi oficialmente exonerado tendo-lhe sido atribuído a Legião de Honra.

Zola morreu em 1908 e Dreyfus estava presente aquando a transferência das suas cinzas para o Panteão nacional.

Versão Portuguesa da carta.

 

Josefa Teixeira

«Serafim,

Eu tenho lume no olho. Tenho-te dado em muita malhoada e feito vista grossa para não dar estalada. Ora agora que andas à gandaia com as vizinhas por Penafiel, e a moura de trabalho que fique para aqui como negra ao canto da cozinha, isso é que não senhores. Vai para onde essa bigorrilha, que a seu tempo terás o pago. Eu retiro-me desta casa com o meu oiro e não te fico a dever nada. Não me procures, se não quiseres sofrer uma desfeita. Em tão bom dia que eu me vou embora! Se te esperasse em casa, punha-te essas orelhas compridas como a vista, e talvez o caso passasse a mais, e eu de todo em todo me botasse a perder contigo, que és o rebotalho dos homens!!! Por não saber ler nem escrever, pedi ao teu caixeiro António que esta por mim fizesse. Ele teve dor de mim e também me acompanhou. Adeus por secula seculorum sem fins.

Josefa Teixeira»

Ramalho Ortigão, Uma visita de Pêsames, in Histórias Cor-de-Rosa