Rita Ferro, Isabel do Carmo e o Grupo Espírito Santo

O que há de comum nas vidas de Rita Ferro e de Isabel do Carmo? A resposta é espontânea e sonante: nada!

A escritora, lisboeta, é filha do ensaísta António Quadros e neta de António Ferro, intelectual e doutrinário do Estado Novo, fundador do célebre Secretariado de Propaganda Nacional salazarista.

A médica, hoje doutorada e professora da Faculdade de Medicina de Lisboa, natural do Barreiro, foi militante do PC, fundadora do PRP. Esteve detida em consequência de activismo de extrema – esquerda.

Entre as duas jamais existiu efectivamente algo em comum, o que justifica a resposta pronta e negativa à pergunta formulada. Todavia, analisados comportamentos recentes de Rita Ferro e Isabel do Carmo, infere-se que, erodido o passado, ambas convergem no presente em duras críticas a esse monstro económico-financeiro chamado Grupo Espírito Santo.  

Vamos a factos. Rita Ferro, no jornal ‘Expresso’, edição de 12 de Junho, publicou o artigo “Carta aberta à família Espírito Santo”. Desanca forte e feio na família dos banqueiros. Assumindo ser “herdeira genética do salazarismo, mas penitente pelos efeitos do seu regime”, crítica com voracidade o Grupo Espírito Santo (GES), por este servir de retaguarda interesseira ao governo de Sócrates e ter a chancela nos principais consórcios financeiros devotados às grandes obras do executivo socialista – Auto-Estradas, TGV, Novo Aeroporto de Lisboa e 3.ª Travessia sobre o Tejo. Considera, pois, o GES plataforma relevante de suporte a estes investimentos em inoportunos prazos. E tece eloquente conclusão:

Ao contrário do vosso Grupo – e doutros, claro, mas com menos pergaminhos – não teremos a Suíça como abrigo quando a lâmina da bancarrota nos cortar a jugular…

Acerca da escritora, estamos falados. Deambulemos agora pelos argumentos de Isabel do Carmo, na edição de Junho de “Le Monde diplomatique”. Como médica e Directora do Serviço de Endocrinologia do Hospital de Santa Maria, Isabel do Carmo desmistifica os topetes da insolente Isabel Vaz, engenheira química, gestora da Espírito Santo Saúde SA e do Hospital da Luz. Com base em entrevista da engenheira Vaz ao jornal “i” em 16 de Março, e a propósito do “emagrecimento” do Estado, a médica demonstra a falta de seriedade e de sensibilidade social da gestora do Hospital da Luz sobre o protocolo com a ADSE, quando a citada engenheira afirma:

O facto de a ADSE não ter plafond é desde logo uma vantagem

Mas, como isto não chegasse para se entender a prevalência de objectivos de ganância lucrativa sobre os direitos constitucionais de acesso a cuidados de saúde dos cidadãos, a engenheira Vaz, escrito preto no branco por Isabel do Carmo, ainda se arroja a outras afirmações reveladoras do espírito de usura:

O plafond dos seguros é em média de 20 a 25 mil euros. Se diagnosticarmos uma doença oncológica o seguro cobre em média 50%. Então mandamos para o hospital público de referência.

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