Mandem carta

Foi enquanto lia uma compilação da correspondência entre dois autores que comecei a pensar: “Ah, bons tempos!”, o que nunca augura nada de bom, é certo. Mas reparem: a carta chegava, quase sempre a horas previsíveis, e podia ser aberta de imediato ou guardada para momento mais oportuno. Guardá-la podia ser, aliás, mais saboroso do que lê-la. Talvez a psicologia ainda não insistisse na importância de adiar a recompensa, mas isso já se praticava.

A carta até podia ser lida nada mais chegasse, mas não se lhe responderia de imediato, a não ser que se tratasse de uma urgência ou de uma fase ainda febril do enamoramento. A resposta ficaria para daí a uns dias. Até lá, ia sendo amadurecida, sopesava-se o efeito desta ou daquela frase. Quando chegava o dia da resposta, voltava a ler-se a carta. Descobria-se, talvez, que se tinha treslido alguma passagem, interpretado mal o sentido de uma frase. Escrevia-se um rascunho de resposta, ocorria-nos uma frase espirituosa, passava-se a limpo. Daí a duas semanas, chegaria a resposta. Uma zanga exigia absoluta intencionalidade de pelo menos um dos interlocutores.

Compare-se isto já não com o email, cada vez mais soterrado em spam, mas com o Whatsapp. Sem ter contribuído em nada para isso, a não ser por possuir um telefone e não viver num eremitério, damos por nós a integrar uma infinidade de grupos de contactos: os amigos de X, a turma de Pilates, os pais do 7º B, os condóminos do prédio, os comensais do jantar de aniversário de Y, aqueles que uma desconhecida Kikas reuniu para enviar felicitações de Ano Novo porque teve preguiça de enviar uma mensagem de cada vez. [Read more…]

Mais amor, por favor!

Quem não repara nas inscrições que se encontram, muitas vezes, nas paredes e portas das casas de banho públicas? Uma porcaria. Com lápis, esferográfica, marcadores e objectos cortantes há muita gente que parece ter necessidade de «desabafar» com as paredes e portas de uma casa de banho.

Hoje reparei na única inscrição que uma porta de madeira deixava exibir. A lápis, uma menina ou uma adolescente acabara de deixar a sua frase anónima, como são todas as mensagens que se registam nestes locais: MAIS AMOR, por favor! [Read more…]