25 poemas de Abril (II)

 É a medo que escrevo. A medo penso,

A medo sofro e empreendo e calo.

A medo peso os termos quando falo.

A medo me renego, me convenço.

A medo amo. A medo me pertenço.

A medo repouso no intervalo

De outros medos. A medo é que resvalo

O corpo escrutador, inquieto, tenso.

A medo durmo. A medo acordo. A medo

Invento. A medo passo, a medo fico.

A medo meço o pobre, meço o rico.

A medo guardo confissão, segredo,

Dúvida, fé. A medo. A medo tudo.

Que já me querem cego, surdo e mudo.

José Cutileiro, «Os Medos»