Pedro e o lobo

O compositor russo Sergei Prokofiev, decidiu, em 1936, compor um tema musical que permitisse explicar às crianças as sonoridades dos diversos instrumentos musicais que compõem uma orquestra. Pedagogicamente, cada personagem é representado por um instrumento.

No entanto, o mesmo título tem sido usado para identificar uma das fábulas atribuídas a Esopo (autor grego do Séc. VI A.C., cuja existência vagueia entre a lenda e a realidade), – embora também surja em algumas publicações como “Pastorinho e o lobo” – cujo enredo consubstancia, como é normal nas fábulas, uma mensagem também ela pedagógica, para crianças e adultos, e que ainda hoje, usualmente, é invocada.

“Pedro e o lobo” é, pois, mais conhecido como a fábula do pequeno pastor que de tanto brincar às falsas ameaças da presença de um lobo, resulta que quando o lobo efectivamente surge, já ninguém o leva a sério e ela acaba por perder as suas ovelhas.

Todavia, ambas têm inegável mérito: a composição musical de Sergei Prokofiev visa cativar e instruir a criança pelos caminhos das sonoridades e da música; a fábula, no seu natural pendor metafórico e alegórico, ensina que não devemos enganar os outros, cuidando do crédito das nossas palavras.

Aproximar as crianças à música, guiá-las nos caminhos dos sons, faz parte integrante de um saudável processo de crescimento. Mas, também, os adultos só têm a ganhar se se propuserem a essa mesma descoberta, educando e apurando os sentidos e a percepção.

O mesmo se diga de incutir responsabilidade e cuidados nos mais novos, ensinado-os a não enganar os outros, dando-lhes referências de cuidados a ter quanto ao que valem as suas afirmações. Um sentido de responsabilidade no que se diz, no que se afirma, na interacção com os outros. O mesmo valendo – de modo ainda mais vincado, porque a maturidade por isso demanda – para os adultos: para nos levarem a sério no que dizemos, temos de o dizer com seriedade. Sob pena de, tal como o Pedro – ou o Pastorinho – de Esopo, de tanta ameaça falsa, ninguém acreditar quando ela for verdadeira.