Como transformar…
Faltou um telefonema
Após a vitória histórica do Futebol Clube do Porto sobre a Juventus, no jogo de ontem, faltou um fiel e pontual telefonema, que acontecia sempre que o Porto ganhava um jogo nas competições europeias.
O telefonema do meu pai. Com a sua voz firme e sincera, a dizer “Parabéns!”.
Um adepto romântico e saudosista da Académica, que guardava sempre um espaço no seu coração para torcer pelo Porto, de quem exigia sempre mais e melhor.
Com a Académica, era paternalmente condescendente. Mas, com o Porto, não. Exigia a perfeição, num mesclado feito de vibração e tormento.
O Porto não podia falhar. Não podia perder. Excepto com a Académica, claro. Mas, isso eram contas de outro rosário, porque no demais o Porto não podia perder.
Sentia a vitória como se fosse também sua. E que lhe dava especial gosto quando o Porto defrontava os aclamados gigantes de Inglaterra, Itália, França ou Alemanha. E os derrubava. Numa revisitação romântica e marcadamente ideológica de David e Golias.
Há anos que esse telefonema só existe no arquivo da minha memória, algures na pasta da saudade, por entre separadores de vazio. E foi o que faltou, para a noite de ontem ter sido perfeita.
A mentira e o lapso
A propósito da nomeação de José Guerra para a Procuradoria da UE, ficamos a saber que ao indicar dados falsos, com vista a fundamentar a nomeação de João Guerra em detrimento de outros candidatos, pelos vistos o Governo não mentiu: cometeu lapsos.
Ainda assim, apesar dos dados falsos invocados, o Governo continua a entender que a escolha está bem feita.
É cada vez mais notório, na sociedade coeva, que uma mentira rotulada de lapso é mais um passo para que a sociedade assimile a falsidade como normal. Ou, pior, como verdade. Tal como a administração Trump tentou implementar a lógica da verdade alternativa, para transformar a mentira em factos.
Donde se conclui que, neste aspecto, não há diferença ideológica na transformação da mentira em lapso, verdade, facto ou qualquer outra coisa que vise normalizar a falsidade e torná-la impune.
Este sinistro caminho, só serve para aumentar a descrença na governação e nas instituições. Bem como para alimentar os ódios que servem de pasto para os oportunismos mais extremistas e boçais que começam a mostrar força. Que serão mentirosos, inventores de patranhas e mestres do engano e da ilusão. Mas, jamais teriam oportunidade para vencer por tais meios, se outros antes tivessem sido, pelo menos, um pouco mais sérios.
A propósito das Presidenciais
Breve pensamento avulso sobre a corrupção
Pensamentos lapidares de uma cultura nacional que vai custar muito mudar, para se conseguir melhores níveis de exigência e, também, de conduta:
- Rouba mas faz obra.
- São todos iguais.
- Todos querem mama.
- Se estivesses lá fazias igual.
- Se eu pudesse também comia.
- Não vai dar em nada.
E o mais lapidar de todos:
- Estou-me a cagar.
Mudar isto é o grande desafio, pois não bastam leis. É preciso gente com vontade e com poder para o fazer.
Até lá, resta o estado de alerta reactivo da sociedade civil.
O estranho caso de Ihor Homeniúk
A morte de um ser humano em Portugal sob tortura perpetrada pelo Estado português, seria, não há muito tempo, razão para um escândalo de contundente repercussão política.
Todavia, o que se assistiu foi a uma brandura de tratamento, transversal a toda a sociedade portuguesa.
Até a página da Amnistia Internacional Portugal, não deu grande relevo a semelhante crime ignóbil (o nome de Ihor Homeniúke é apenas referido num texto recente).
Isto numa sociedade como a portuguesa, marcada, fortemente, por valores humanistas que fazem de nós, enquanto povo, gente com repulsa pela violação da dignidade humana, gente solidária e predisposta a acudir.
Além da habitual “exigência” de “apuramento de responsabilidades”, pouco mais ou mesmo nada a dita sociedade civil e as organizações políticas em geral exigiram sobre algo que deveria ter causado engulho e revolta.
Quando, recentemente, as rede sociais começaram a movimentarem-se na demanda por explicações, aos poucos lá começaram a aparecer algumas reacções.
Começou-se, então, a construir na comunicação social a ideia de que o que se passou com Ihor Homeniúk é um problema de procedimentos do SEF.
Uma bela forma de transformar um homicídio numa mera relação de causa/efeito. [Read more…]
Informação versus Democracia
Não sou muito dado a teorias da conspiração, embora algumas façam pensar e outras sejam de uma criatividade digna de apreço.
Todavia, é interessante o facto da notícia da vacina da Pfizer, ter surgido logo após a confirmação de Biden como vencedor das eleições presidenciais dos EUA.
A tal vacina que Trump garantiu que iria surgir em breve, e que muita gente, na qual me incluo, gozou e zombou. E isso, não porque não se queria a vacina o quanto antes. Mas, pelo facto de que a palavra de Trump, por inegável mérito próprio, tinha o mesmo crédito do Pastorinho Pedro da fábula atribuída a Esopo.
É razoável pensar que se esta notícia tivesse surgido ainda durante a campanha eleitoral, Trump teria ganho uma credibilidade potenciadora de uma vitória, face à importância que teve na decisão dos eleitores, a gestão que a Casa Branca fez da pandemia.
Trump iria conseguir algo inaudito: credibilidade científica.
O mesmo Trump que zombou da ciência quanto lhe apeteceu, desde as alterações climáticas até ao uso da máscara.
Não seria de espantar, que a indústria farmacêutica tivesse decidido dar uma mãozita, ao derrube de um presidente que passou grande tempo do seu mandato num exercício de escárnio e mal-dizer, em relação à ciência e à comunidade científica. Num contínuo e execrável esforço de descredibilização, como foi seu apanágio.
E dizem-se democratas
Está fácil de ver que a solução apresentada pelo Governo para “achatar a curva”, é limitar-nos a liberdade.
Isto quando a curva chegou onde chegou, e o SNS abeirou-se da ruptura, porque o Governo não fez o que lhe competia e permitiu o que não devia.
Milhões terão de ficar em casa, para que umas dezenas de milhar pudessem fazer aquilo que queriam.
Milhões terão de ficar em casa, porque a economia tinha que trabalhar, ao ponto dos hotéis poderem exibir o selo “Clean & Safe” com base em mera declaração de compromisso dos donos, e não numa efectiva avaliação técnica. E as praias tinham semáforos, mas se estivesse vermelho, podia-se ir na mesma.
Não houve uma única campanha nacional de sensibilização digna desse nome. Num país em que constantemente se juntam cantores, actores e afins, em campanhas solidárias. Algo para o que esta pandemia, pelos vistos, não teve dignidade suficiente.
Só tivemos direito às constantes conferências de imprensa a debitar números, por entre disparates que uma DGS, claramente inapta para o cargo, lá ia dizendo por entre a estatística.
Ficam na memória as máscaras que davam uma falsa sensação de segurança, e a desnecessidade de distanciamento nos aviões porque as pessoas vão a olhar para a frente.
O SNS está à beira da ruptura, porque, contrariando os apelos dos médicos que estavam no terreno, o Governo não aproveitou a Primavera e o Verão para reforçar os hospitais com recursos humanos nas valências mais sensíveis como a dos cuidados intensivos.
Descurou a segunda vaga, que há meses que a comunidade científica, nacional e internacional, avisou que ia chegar. Mas que pelo vistos o PM nunca ouviu falar, a avaliar pela entrevista que hoje deu a Miguel Sousa Tavares.
Ao contrário, foi-se pelo mais barato: mandar sms para quem tinha consultas agendadas, a desmarcar e a dizer para não ir ao hospital nem sequer telefonar. E, mais tarde umas sms a disponibilizar apoio psicológico gratuito. Enquanto consultas, rastreios, tratamentos e cirurgias eram desmarcados por todo o país.
Pior do que o cego…
Estamos, diariamente, a assistir à destruição de qualquer resquício de ética republicana que pudesse ainda existir. E, pior, as perspectivas de tal ser travado estão completamente fora de hipótese, a avaliar pela postura dos partidos com representação parlamentar que, em teoria, poderiam fazer algum tipo de diferença.
Desde logo, temos um Presidente da República (doravante PR, pois não merece mais do que uma sigla), que está transformado num autêntico porta-voz propagandista do Governo e da sua agenda. E que todos os dias nos aparece na televisão a vender a política do governo, seja de fato e gravata, seja de calção de banho.
Da mesma forma que cria, conjuntamente com o Governo, um conveniente princípio de não recondução nos cargos, com que justifica a não recondução da incómoda Procurador Geral da República, Joana Marques Vidal e, recentemente, do também incómodo Presidente do Tribunal de Contas, Vítor Caldeira.
Houvesse um mínimo de coerência, e o PR, para dar o exemplo da regra por si defendida, não se recandidatava.
Mas, há mais.
Flor de sal
“Vem para a rua
Que a vida é partilha universal
Vem para a luta
Munido de amor e flor de sal“
É o tema que se segue.
Carrossel
Fomos uma das mais de 200 candidaturas de livre submissão para o Festival da Canção 2019.
Infelizmente, o nosso tema não foi o eleito.
Paciência, para o ano há mais.
Aqui está o tema: “Carrossel”.
Eu digo sim (Tu dizes não)
Continuando a divulgação, desta vez com o tema “Eu digo sim (Tu dizes não)”.
Ei!
Mais um tema, desta vez intitulado “Ei!”.
Conta com a participação especial de um agapornis de seu nome “Piupiu”.
A vida é sempre minimal
És tu
Este é o primeiro vídeo do projecto musical que tenho em mãos.
Trata-se de uma mudança algo radical do que costuma (ou costumava) ser o âmbito das minhas publicações, mas, sinceramente, já estou cansado das agendas mediáticas e das conjunturas.
Feliz Dia da Mãe.
Sugestão
Tem sido um sucessivo fracasso aproximar os cidadãos da política e dos partidos políticos.
Por isso, aqui vai uma sugestão.
Que tal fazer o contrário e aproximar os partidos políticos da realidade do cidadão e da generalidade das empresas, e acabar com as isenções de impostos de que beneficiam e, também, pô-los a pagar taxas de justiça e custas judiciais?
Talvez, assim, sempre que viessem falar das dificuldades do povo e do custo de vida, de como a justiça é cara, e outras coisas do género, soasse um pouco melhor.
É só uma sugestão.
Entretanto: Bom Ano Novo!
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