A paz dos mais fracos

Conta-se que durante a transmissão televisiva de uma final de um torneio de ténis  (Borg/McEnroe), Álvaro Cunhal, que se encontrava na sede do PCP, quando perguntou qual era o mais fraco, responderam “John McEnroe“, e começou a torcer por ele. Tendo sido confrontado com o comentário de que se tratava de um norte-americano, o então Secretário-Geral do PCP terá respondido qualquer coisa como “É o mais fraco, e os comunistas estão sempre do lado dos mais fracos“.

Dito isto:

A substituição de Jerónimo de Sousa à frente do PCP pelo actual Secretário-Geral Paulo Raimundo soou, de início, a uma tentativa de  interpretar o que correra mal nas últimas eleições legislativas, abrindo um eventual novo ciclo.

Todavia, percebe-se que, afinal de contas, e por mais paradoxal que pareça, o PCP insiste e persiste na estratégia que Nixon usou na gestão das fitas de gravação no “Caso Watergate”: se um erro não resolve, tentemos outro.

Primeiro, foi a narrativa de que a invasão da Ucrânia pela Rússia foi por culpa da Ucrânia. Isto, depois da versão de que Rússia se preparava para invadir a Ucrânia, era uma fantasia criada pelos EUA.

Agora, perante o forte apoio militar do Ocidente com vista a equilibrar os pratos da balança no combate, a lógica é de que tal apoio apenas serve para alimentar a escalada do conflito. E que aquilo que se devia promover era a negociação da paz e não a alimentação da guerra.

Ora, o que fez o PCP quando invadiram as suas sedes no PREC?

Convidou os invasores para se sentarem e negociar um qualquer entendimento?

Não: defendeu, e bem, as suas sedes com tudo que podia arranjar, desde armas de fogo até fueiros, braços e punhos, e peitos dispostos a enfrentar balas, para garantir a integridade perante os invasores e incendiários. E toda a ajuda era bem-vinda.

Ora, se um país é invadido por outro, tanto mais uma super-potência, vai fazer o quê? Um convite para um chá? Ou luta pela sua integridade territorial e pela sua existência? [Read more…]

Anunciar primeiro e pensar depois

O que vale é que em Lisboa não falta onde alojar estudantes deslocados e a preços baratos.

A luta dos professores

Os professores são, provavelmente, aqueles que mais têm sido prejudicados, não só, em termos de carreira.

Outras profissões também têm sido desprezadas, sim. Mas, no caso dos professores estamos perante uma clara opção de subdesenvolvimento, de uma opção de desvalorizar o ensino, a cultura, o conhecimento, de modo a moldar um povo menos demandante, porque mais ignorante e sem matriz de exigência.

E isto, torna tudo mais grave.

Até por isso, os professores têm vindo a ser desprezados: valorizar o papel do professor na sociedade é valorizar o conhecimento e a cultura de modo a construir gerações mais esclarecidas e, assim, mais exigentes. E isto não interessa muito a quem quer manter os moldes de exercício do poder político que desde a monarquia até hoje não mudou muito em termos de mentalidade.

Exemplo disso, é o fraco investimento na ciência, nas artes e no conhecimento até pela nossa burguesia, mesmo nos píncaros das riquezas dos Descobrimentos, salvo muito raras excepções. Em razão inversa ao resto da Europa, com relevo para a Flandres, Itália, França e Espanha, por cá valiam os “investimentos” em ostentação, fossem farpelas, jóias, quintas, palácios, coches ou amantes (à hora ou por conta). [Read more…]

Bons tempos…

… aqueles em que Nossa Senhora apareceu numa azinheira. Primeiro a 3 pastorinhos e depois perante uma pequena multidão.

Houve lugar a efeitos especiais desde clarões, mar de fogo, demónios, anjo com uma espada a jorrar fogo, trovões, relâmpagos, fenómenos atmosféricos, etc.

Nesse tempo, Nossa Senhora até terá recusado curar um paralítico ou tirá-lo da pobreza. Antes terá dito para que rezasse o terço e que lhe daria meios de subsistência. Numa lógica “Não o cures. Ensina-lhe a ganhar a vida”.

Certo foi que o Estado português não gastou um tostão. A produção foi toda de borla!

Foi tudo feito com recurso à natureza e, claro está, a um ou outro poder divino para dar aquele sainete de coisa fenomenal para converter os mais incréus.

Hoje, gastam-se milhões só num palco, para receber o Papa e as Jornadas Mundiais da Juventude. Especulam-se preços. Descoordena-se a coordenação. E temos Carlos Moedas a clamar “Eu quero o Papa!”, quando se fala acerca de gastos financeiros.

Imaginem se era a vinda de Nossa Senhora!

Ui! Ia ser bonito…

Este materialismo selvagem de hoje, está tipo a desvirtuar completamente a cena da fé.

“Se é que Deus existe…”

Chegado a um balcão dos CTT, instalado numa casa de comércio, deparo-me com um idoso de aparência octogenária junto ao balcão, de roupas limpas mas desgastadas, magro, com ombros curvados pelo tempo, pescoço magro a destoar com a cabeça larga, apoiado numa bengala e de máscara presa abaixo do nariz.

Por entre uma respiração cansada, o idoso solicitou à funcionária que o ajudasse no pagamento da conta que constava da correspondência registada que acabava de levantar, remetida por uma entidade pública.

A funcionária, solícita, ajudou mas não foi capaz de esconder a sua indignação: a conta a pagar era de um cêntimo. A resposta do idoso, por entre a respiração cansada e forçada, que soou a uma mescla de derrota e de revolta, foi “Temos de pagar, menina. Temos de pagar”.

Paga a conta, o idoso agradeceu à funcionária o seu cuidado, desejando “Que Deus a ajude”. E após voltar-se para a porta de saída, olhou ligeiramente para trás e considerou “Se é que Deus existe…”, e apoiado na sua bengala saiu para a rua como se carregasse o mundo às costas, fustigado pelo vento e por uma chuva miudinha.

Numa breve cena, assisti a uma total desconstrução do progresso, da eficácia, da proximidade e da racionalidade, com que nos querem vender a modernidade coeva. À desconstrução de políticas, discursos, projectos, apoios, planos, bazucas, da era digital, dos “simplexes”, da inteligência artificial, dos “summits”, das redes, dos Direitos Humanos, dos discursos e das promessas. À desconstrução da fé.

Faz Marcelo Rebelo de Sousa muito bem em ir ao Catar pugnar pelos Direitos Humanos, entre um jogo de bola e umas “selfies”. Os tais direitos que, de início, eram para esquecer, mas que, afinal, já são para lembrar.

Até porque cá por casa está tudo bem. Graças a Deus. “Se é que Deus existe…”

Como aumentar ao comprimento e adequar a potência aos 50 anos

Chegar à meia-idade não é, forçosamente, sinónimo de perda de capacidades. Ou mesmo de possibilidades. Isto mesmo aprendi, recentemente: é possível aumentar ao comprimento e adequar a potência aos 50 anos.

Na verdade, há 20 anos atrás, por sugestão de familiares e amigos, resolvi obter a Carta de Marinheiro. Tendo ficado, então, habilitado a pilotar embarcação de recreio até 7 metros com potência não superior a 45kw.

Ora, a chegar aos cinquenta anos, idade documentalmente crítica que me obrigou a renovar a Carta de Condução, recordei, então, que a validade da Carta de Marinheiro, religiosamente guardada numa gaveta, fora de perigo de salpicos de água salgada ou doce, estaria à bica.

E assim era, segundo rezava no título que dava conta da validade estar para expirar.

Foi então que, após pesquisa, fiquei a saber que, por preciosa alteração legislativa, não só tinha de renovar a Carta de Marinheiro apenas aos 70 anos, como – e aqui os 50 ficaram com outro sabor -, foi-me aumentado o comprimento da embarcação de recreio, que passou para os “até 12 metros”, bem como a potência que passou a ser a “adequada à sua certificação”.

É sabido que com a idade, vem o aumento da sabedoria, do conhecimento, da experiência, a adequação do comportamento, etc.

Agora aumento do comprimento e adequação da potência por força de lei, é obra.

“Mete-te com os do teu tamanho!”

Na escola era recorrente ouvir-se a frase “Mete-te com os do teu tamanho!” sempre que um “valentão” era, por qualquer “razão”, violento para com quem fosse mais fraco.

Mas, diga-se, havia também quem gostasse de assistir ao espectáculo do mais forte oprimir o mais fraco.

Lembrei-me disto quando, recentemente, assisti – como todo o país – à ameaça pública de Marcelo Rebelo de Sousa (MRS) dirigida à Ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa, durante um evento oficial – inauguração dos novos Paços do Concelho da Trofa.

A estrelar em terras laranjas, e na presença de Luís Montenegro, MRS resolveu mostrar que no sangue ainda correr qualquer coisa de PSD, e resolveu brindar com aquilo que há muito a Direita reclama: dar um aperto ao Governo.

Desta vez, não fez o papel de amuado, como quando se queixou à comunicação social de que não foi atempadamente informado da composição deste Governo. Tendo mesmo de engolir João Gomes Cravinho como MNE.

MRS soube escolher o momento e a vítima. Pois em oportunidades anteriores poderia ter dado igual recado, ou melhor feito igual ameaça a António Costa ou mesmo a Mariana Vieira da Silva. Mas sabe que uma coisa é ameaçar António Costa ou uma Vieira da Silva. Ou meter-se com um Cravinho. Outra é ameaçar Ana Abrunhosa, a milhas de distância do peso genético-partidário daqueles outros.

Mais a mais, meter-se com Mariana Vieira da Silva, é meter-se com o PS. Meter-se com António Costa, é meter-se com o PS. E que sem se mete com o PS… Já se sabe. [Read more…]

Obrigado, Jô Soares

Por tudo que nos deste. Pelas cores com que pintaste sobre o cinzento do Portugal de então. Pelas gargalhadas que nos fizeste dar em dias em que tudo parecia triste e incerto.

Obrigado e até sempre.

Uma questão de patrocínio

O problema de Marcelo Rebelo de Sousa, foi não ter o amigo Ricardo Salgado para lhe proporcionar as delícias de Vera Cruz.
Assim, fomos nós a pagar umas férias transvestidas de visita oficial.

Só podia correr bem.

A TAP e a ANA estão-lhe no sangue

Pedro Nuno Santos começou a sua comunicação ao país, com cerca de 30 minutos de atraso.

Big Brother fiscal

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Perante a evidente especulação de preço sobre os combustíveis, o Governo espanhol entendeu (imagine-se!)  que o que havia a fazer era garantir uma efectiva baixa dos preços de combustíveis para desonerar os consumidores. Fossem eles, aliás, nacionais ou não.

Cá pela terrinha, António Costa sacou da cartola o Autovaucher: a pessoa inscreve-se, indica uma conta bancária, fideliza um cartão multibanco, e lá recebe um estorno mensal até ao limite de € 20,00.

Estou certo que o facto de Medina ter na mão dados acrescidos dos contribuintes fornecidos pelos próprios para poderem receber algum de volta, não passa de uma curiosa coincidência de humor negro.

Numa terra de turismo, também faz sentido que o desconto seja só para nacionais: mais chulice, menos chulice, os estranjas nem notam quando atestam os depósitos dos carros próprios ou de aluguer.

A diferença de opção entre Espanha e Portugal é evidente: por lá mantém-se o dinheiro no bolso das pessoas; por cá dá-se esmola com o dinheiro do próprio empobrecido, à custa de informações bancárias à mistura.

Este Rio não é de confiança

Então o Ventura leva um puxão de orelhas na Assembleia da República, e Rui Rio não teve o cuidado de suavizar a coisa?!

Há mais vida para além do medo # 2 – Mataram o James Bond e ninguém quis saber

(Continuando)

Recordo quando vi pela primeira vez no grande ecrã, um filme da saga 007. Foi uma experiência juvenil em forma de reposição, no extinto cinema Raione, no Porto: “007 – Octopussy”.

A partir dessa experiência, criou-se um inultrapassável diferendo entre mim e o meu pai, logo que o filme acabou e nos dirigíamos para casa: eu gostava de Roger Moore, o meu pai gostava de Sean Connery. Mas, numa coisa concordávamos: George Lazenby foi um erro de casting.

Aquele fascínio de beldades e perigos, que circundavam as missões de James Bond, as engenhocas e a sua capacidade de improviso, criaram laços de aventura e fantasia que me foram acompanhando ao longo de cada estreia.

Achei que Roger Moore foi 007 até tarde demais, por muito que fosse o meu predilecto. Quem mais poderia acabar uma luta de vida ou morte não só vencedor como, também, com o cabelo impecavelmente penteado? Só mesmo Moore.

E tive pena quando Timothy Dalton, um excelente actor formado na Royal Academy of Dramatic Art, não vingou na sua versão.

Posteriormente, Pierce Brosnan encheu as medidas de todos os fãs, conseguindo uma espécie de aliança entre a dureza de Connery e a elegância de Moore.

Mas, foi com Daniel Craig que veio a grande surpresa e, também a grande mudança na saga 007.

Daniel Craig tinha tudo para se dar mal como Bond: feições agrestes, expressão afivelada, baixo e modos rudes. No entanto, construiu e revelou um 007 muito mais autêntico do que qualquer um anterior. O que terá sido, também, a grande aposta dos produtores: a credibilização de 007 para além de uma personagem de fantasia. E Daniel Craig foi perfeito.

Todavia, esta nova versão de 007 trouxe um preço: James Bond era mais humano do que nunca. Ficava com feridas no rosto, sangrava, nutria e debatia-se com sentimentos. Resolvia as situações mais com instinto, força e carácter do que com engenhocas. [Read more…]

Há mais vida para além do medo # 1 – O exemplo do Tenente Columbo

Num passado recente, disse-se que “há mais vida para além do défice”. Mais tarde, e paulatinamente, começou a desenvolver-se a ideia de que “há mais vida para além da pandemia”. Hoje, diria que “há mais vida para além da guerra”.

Curiosamente, existe um denominador comum ao défice, à pandemia e à guerra, enquanto temas fulcrais – para não dizer únicos – da actualidade, em cada um dos momentos: o medo.

Enquanto instrumento que mantém activo o nosso sistema de vigilância, o medo é essencial para que estejamos atentos ao que se passa em nosso redor e às interacções com o tempo, o espaço e os outros, que fazem parte do nosso quotidiano. É o que nos mantém em alerta quando atravessamos a rua, quando falamos com alguém, quando tomamos uma decisão.

Mas, o medo é, também, um ancestral instrumento de condicionamento comportamental quer no âmbito da educação quer no âmbito da vida em sociedade. Seja o medo do papão ou do bicho mau, para que se coma a sopa toda, seja o medo de expressar opinião ou tomar posição pública sobre certo assunto.

Ditaduras e democracias, através de métodos variáveis e com graus de severidade diversos, usam o medo como modo de modelação de comportamentos quer individuais quer colectivos. Seja propaganda, seja publicidade, a indução de comportamentos por via do medo, visando acção, omissão ou reacção, é transversal a qualquer organização social, corporativa ou religiosa.

Aqui, existe um papel fundamental por parte da comunicação social, no modo como o medo é transmitido ao indivíduo visando a sociedade. Reiterando mensagens de conteúdo pré-estabelecido, a ordem da percepção, e a percepção da ordem, constroem-se com vista ao estabelecimento de uma realidade quase sempre conducente a uma só verdade.

Sem querer recuar ao Estado Novo, em que o medo era, desde logo, um instrumento de perpetuação do poder instalado e dos respectivos interesses económicos, corporativos e económicos circundantes, bastará apreciar como, em democracia, o medo tem sido um recorrente mecanismo de condicionamento social, quer em matéria de pensamento quer em matéria de comportamento. [Read more…]

O perigoso trilho da personificação do mal

É indubitável que Vladimir Putin é um déspota, sem escrúpulos. E a questão essencial não é se há outros ou não. Até porque sabemos que há.

A questão essencial é se só agora ele se revelou como tal.

Obviamente que não. E, no entanto, todo o chamado “Mundo Ocidental”, do qual fazemos parte, hoje chocado e revoltado com a sua ofensiva bélica sobre a Ucrânia, num conflito armado que dizima vidas inocentes, não se inibiu de fazer negócios, de engrossar fortunas, e até, ficar na sua dependência.

Já se sabia quem era Vladimir Putin quando a Europa – leia-se França e Alemanha -, aceitou ficar em grande parte dependente do gás russo. Ou quando Portugal foi à Rússia vender vistos gold. Ou quando a OTAN começou a expandir-se para o outrora Bloco de Leste, rumo à fronteira com a Rússia, em violação do compromisso por si assumido de não fazer tal.

Tudo isto foi acontecendo enquanto jornalistas, activistas e opositores a Putin, eram assassinados; enquanto os envenenamentos se tornavam uma espécie de instrumento de política internacional russa, etc.

Da mesma forma que o “Mundo Ocidental” sabe bem quem é e que é Xi Jiping e a China. E se a China resolver invadir a Ilha Formosa, ou Taiwan, ou que se lhe quiser chamar, o mesmo “Mundo Ocidental” que deslocou para a China a sua indústria, e que se tornou dependente dos seus fornecimentos de bens e capitais, vai bradar “Sacanas dos chineses! Maldito Xi Jiping!”. [Read more…]

É favor avisar o SEF…

O Governo de Portugal já anunciou que estamos disponíveis para receber ucranianos.

A chapada e a queda das máscaras

Após dias de autêntica vergonha nacional, em que o respeito pelo votos dos emigrantes andou a ser arrastado pela lama, valeu o Tribunal Constitucional ter tido a coragem de obrigar a classe política a fazer algo que deveria ser básico, mas, infelizmente, não é: cumprir a lei.

Foi uma bela e firme chapada que o Tribunal Constitucional deu, de forma a arrancar as máscaras que escondiam os rostos hipócritas dos partidos políticos que há anos andam a brincar com os votos dos emigrantes. Como se os partidos políticos tivessem qualquer tipo de legitimidade para violar a lei aplicável, só porque estão de acordo em fazê-lo.

Os mesmos partidos que durante anos não mexeram uma palha para estabelecer um regime de votação justo, ágil e consentâneo com a realidade social e tecnológica dos dias de hoje.

Mas, porquê esta desconsideração pelos emigrantes?

É que, num país que tanto tempo e dinheiro gasta a celebrar a famosa “diáspora”, a emigração é, na verdade, uma pedra no sapato dos partidos políticos. Pois é a prova cruel e peremptória da incompetência da classe política em concretizar o país justo, coeso, solidário e próspero, que a Constituição da República consagra.

Ao fim de mais de 40 anos de democracia, continua-se a emigrar para buscar fora o que aqui não há: melhores salários, melhores carreiras, respeito e estímulo à progressão e à valorização, etc. Ou seja: continua-se a emigrar para encontrar o respeito que por cá não mora. Respeito por quem investe nos estudos, na inovação, no conhecimento, no apuramento de aptidões. Respeito pelo valor do trabalho.

E esta é a melhor prova de que os partidos políticos intervenientes em todo este processo – os mesmos que não legislam quando e como devem, antes se põem de acordo em não cumprir a lei de acordo com as conveniências -, são incompetentes e hipócritas.

Acabaram-se as desculpas

Transversalmente, os partidos políticos, à semelhança da sociedade em geral, estão viciados na falsa concepção de que existe uma Justiça para ricos e outra para pobres.

Na verdade, quem é pobre ou quem é rico, tem o acesso mais facilitado à Justiça do que a classe média. Os pobres podem recorrer ao apoio judiciário, e os ricos às suas fortunas. Quem faz parte da classe média é que não pode recorrer nem a uma coisa nem a outra. Antes, enfrenta taxas absurdas.

É, pois, imperativo e urgente acabar com as taxas e os encargos proibitivos. E de uma vez por todas, à semelhança da Saúde, ser consagrado o princípio de “tendencialmente gratuita”. Pois se sem Saúde não há vida, sem Justiça não há sociedade.

Infelizmente, a Justiça tem sido assunto mais de títulos noticiosos do que de análise e ponderação. A reboque de fúrias, paixões e oportunismos, pouco se tem feito para começar, desde logo, a legislar melhor.

Do programa eleitoral do PS, existe um diversificado elenco de ambições e de medidas, mormente de modernização e de agilização, que quem as lê fica com a ideia que os socialistas têm estado na Oposição e não na governança.

Nada do que agora o PS propõe realizar, foi feito ao longo dos últimos 6 anos. Pela simples razão de que muito pouco – pois nada seria sempre impossível, por muito pouco que fosse -, foi feito em matéria de Justiça.

Efectivamente, os dois mandatos da Ministra Francisca Van Dunem, reduzem-se a 6 anos perdidos. Nada mais. E, talvez por isso, o PS nem se recorde, que esteve a governar nesses mesmos 6 anos. Prometendo, agora, tudo quanto havia prometido antes e mais um par de botas. Ainda que em matéria de taxas de justiça, apenas ambicione reduzir nos casos em que “importam valores excessivos”.

Ao fim de 6 anos, aperceberam-se que há “valores excessivos”. Lindo!

A verdade é que uma maioria absoluta, acaba com quaisquer desculpas: a Justiça só não se aproximará do povo e cumprirá a sua missão, se não houver vontade política.

Por isso, é bom que se deixem de merdas e arregacem as mangas. Se não for por convicção, ao menos que seja por vergonha. Se ainda houver, uma ou outra.

Just when I thought I was out…

Apesar da hora, parece ser certo que o PS, mais concretamente António Costa, ganhou as eleições e de modo bem mais expressivo do que os últimos tempos poderiam fazer antever.

Tanto quanto é previsível neste momento, quem votou, prefere que António Costa continue a governar, aumentando o seu apoio ao socialista ao ponto de poder atingir a maioria absoluta.

Nos últimos tempos, não faltou quem achasse que o socialista estaria com vontade de ir à sua vida e passar o testemunho a outro.

Afinal de contas o poder desgasta, os cabelos brancos surgem e envelhecem, e, convenhamos, foram tantos os tiros nos pés, que até parecia que queria perder as eleições.

Eu sou daqueles que desconfiam que António Costa estava farto e queria ir à vida dele.

Poderei estar enganado, é certo, mas desconfio, também, que a esta hora António Costa já deve ter tido um desabafo em família mais ou menos como este:

 

A prova de que Jerónimo de Sousa vale por dois

O líder comunista vai ser submetido a uma intervenção cirúrgica urgente à carótida interna esquerda. João Oliveira e João Ferreira vão substituí-lo nas ações de campanha.”

Uma questão de liberdade de escolha

É muito gira a ideia da Inciativa Liberal, de que os pais podem escolher livremente a escola e que o Estado suporte o custo.
Espero que a IL também proponha que o trabalhador escolha livremente o restaurante, ao invés de comer na cantina, e que o patrão pague a conta.

Já começou

Já era esperado e não tardou: o medo está de volta.

Vem aí a quinta vaga.

Os casos pelo Natal chegarão aos 2500 por dia e os mortos 20.

Vêm aí o terror. Preparem-se para o pior.

Comprem já tudo antes que seja tarde: bacalhau, cabrito, e papel higiénico. Pois no Natal, além de infectados e mortos, vamos ter prateleiras vazias. E, quiçá, não haverá brinquedos para as criancinhas.

O medo vai apoderando-se das mentes e, depois, dos comportamentos. E é uma arma terrivelmente eficaz para manipular massas, povos. Como, aliás, a história da humanidade, já demonstrou à saciedade.

Tenham medo. Muito medo. Pois haverá quem agradeça.

Deve ter ido pagar as quotas para poder votar no Rangel…

Após chumbo do Orçamento, Marcelo saiu de Belém para ir… ao multibanco

Salamaleques

É interessante ver toda esta encenação de entrega do Orçamento do Estado pelo Ministro das Finanças ao Presidente da Assembleia da República. Ou melhor: a proposta de Orçamento do Estado.

Nenhuma outra “proposta”, é tratada com semelhante solenidade.

Numa república, esta solenidade não passa de uma encenação absurda. Ridícula.

Não contribui em nada para a identidade nacional, para a coesão do país, ou para a dignificação do que quer que seja.

Tanto mais que, numa governação minoritária, a aprovação do Orçamento do Estado é, cada vez mais, uma etapa de sobrevivência do Governo em exercício para mais um ano.

Uma solenidade de tiques palacianos num país em que 20% da população é pobre. Sim, temos 2 milhões de pobres em Portugal, e o número continua a aumentar. E andamos a perder tempo com mesuras teatrais e patéticas.

O Titanic afunda-se, mas a orquestra está preocupada em afinar os instrumentos para o baile que se segue.

Não é vitória. É castigo

Em 2001, Fernando Gomes perdeu a Câmara do Porto, por castigo.

Foi o preço por ter aceite trocar a cidade do Porto, pelas delícias do estatuto de Ministro-adjunto e da Administração Interna na capital do império em 1999, em pleno mandato de Presidente da Câmara do Porto.

As gentes do Porto não gostaram da troca. E, tal como a mulher abandonada que vê à porta o marido regressado da casa da amante, porque as coisas não deram certo, as gentes do Porto bateram-lhe com a porta na cara.

Rui Rio, contra os oráculos, tornou-se presidente da Câmara do Porto, porque Fernando Gomes foi castigado pela infidelidade.

Ontem, as gentes de Lisboa não deram a vitória a Carlos Moedas: castigaram Fernando Medina.

O socialista, há poucos dias, tinha sido considerado pela esmagadora maioria dos inquiridos numa sondagem, como mais arrogante do que Carlos Moedas.

Foi a permanente arrogância de Fernando Medina, a principal razão do castigo. E o caso das informações às embaixadas – e, pior, o modo como lidou com todo o processo a salvar o seu gabinete de apoio e queimar na praça pública um funcionário -, caiu mal. Muito mal.

Até porque os valores de Abril, são queridos por muita gente que não é comunista ou sequer socialista. É gente de um centro social-democrata que sem cravos ao peito, defende, também, a democracia, a liberdade, a igualdade, o direito à manifestação, à privacidade, à inviolabilidade da sua correspondência e o respeito pela dignidade da pessoa humana. E, também, não suporta bufice. [Read more…]

Os saudosistas do tempo que não viveram

Existe uma faixa etária, dos 30 aos 45 anos, que anda pujante e frenética não só nas redes sociais, como, também, nas caixas de comentários um pouco por todo o lado, a defender tempos de outrora que nunca viveram.

Partilham e invocam frases de Salazar, textos de Marcelo Caetano, enaltecem a PIDE. Defendem, acerrimamente, o bom que seria se houvesse alguém a mandar nisto e que pusesse tudo na ordem. Sendo comum manifestarem-se com ódio – que os motiva -, desde o vocabulário até às soluções que preconizam.

Acontece que o ódio tem sempre uma razão para existir. Não nasce por capricho. E é um mercado altamente lucrativo. Porque arrecada seguidores que sofrem de um dos mais graves efeitos do ódio: a cegueira. O que permite o fim que se pretende: a manipulação.

É a cegueira que leva a partilhar tudo nas redes sociais, sem qualquer filtro crítico. Porque se certa frase satisfaz o ódio, não importa se é verdadeira ou falsa. Nem sequer o que ela realmente significa e qual o perigo que representa, até para o próprio.

Donde vem isto?

Das distorções de oportunidades e de méritos na sociedade. Da cultura da cunha e do frete que vem dos tempos da Monarquia. Dos “carreirismos” partidários, das influências, e das dificuldades criadas para suscitar facilidades compradas,  e que representam muito do lodaçal em que se têm afundado as diversas instituições da República.

Em cada adjudicação directa de escolha tribal; em cada obra faraónica rotulada de “desígnio nacional” e que endivida o país; em cada mega-processo inconsequente; em cada crime prescrito; em cada salário indigno contemporâneo com fortunas ganhas de forma ilícita e impune. Em cada qualquer uma destas traições, ou outras, está o descrédito da nossa Democracia.

A origem do ódio que leva à existência dos saudosistas do tempo que não viveram – fervorosos defensores do autoritarismo e do líder providencial -, não está nos mercadores de ódio que prometem o paraíso à custa da liberdade. Mas, sim, de quem traiu, e trai, a promessa de liberdade – económica, social, cultural, civil, etc. – em tempos de Democracia e se diz democrata.

E ainda se fala mal da Justiça

Afinal a Justiça é bem mais eficaz do que a Banca: olhem como Joe Berardo arranjou património para cumprir as suas obrigações.

Perigos de má memória

Não tardou que a morte de Otelo Saraiva de Carvalho, servisse para dar ânimo à teoria que há mais condescendência moral com os excessos da Esquerda, do que com os da Direita.

Desta feita à boleia das FP-25, e do indulto presidencial a Otelo Saraiva de Carvalho e companhia. Para chegar ao desejado destino de como a Extrema-Esquerda foi ou é mimada com condescendência jamais expectável em relação à Extrema-Direita.

Esquecem tais teóricos – ou, conforme os casos, querem fazer esquecer -, que Otelo Saraiva de Carvalho esteve 5 anos preso numa cela. Enquanto que, por exemplo, António de Spínola ou Alpoim Calvão, líder e responsável operacional, respectivamente, do MDLP, nunca responderam perante a justiça pelos actos bárbaros de assassinato e de destruição praticados por aquela organização terrorista.

Isto, para não falar no terrorismo castrador e assassino que a PIDE levou a cabo durante décadas, a bem de uma nação orgulhosamente só, e pelo qual ninguém respondeu.

Pelo contrário: houve quem fosse premiado por “serviços excepcionais e relevantes prestados ao país”.

Pode-se pensar que esta espécie de calimerismo de que há mais condescendência com os excessos da Esquerda do que com os da Direita, é apenas mais do mesmo. Mas, nos dias de hoje, não é apenas isso. E não é, pelo risco de ser parte de algo muito mais pernicioso em construção: o revisionismo que aproveita aqueles para quem a memória é inimiga.

Imagino que…

… a frase que Luís Filipe Vieira mais tem ouvido nos últimos tempos, é: “O número para o qual ligou, não tem voice mail activo“.

Bendita pandemia que dá para tudo

Esta pandemia tem servido para tudo e um par de botas. Ora para se apelar ao sacrifício ora para se justificar a inércia.

Muitos foram já os casos nos antípodas, e que foram já escalpelizados.

Para não cair na repetição dos ditos, vou directamente ao caso mais recente: porque houve a detenção de Joe Berardo, veio à baila a questão do processo de retirada, ou não, das condecorações presidenciais ao dito cujo, que foi instaurado em 2019, não ter tido qualquer desfecho.

E, como não podia deixar de ser, Marcelo Rebelo de Sousa presenteou-nos com a sua especialidade de explicar o que mais ninguém consegue: “Há um processo em curso, que a pandemia acabou por parar ou suspender ou adiar, como tanta coisa na vida. E vamos deixar essa tramitação seguir. É da competência do Conselho da Ordem e cabe-lhe a ele a última palavra“.

Pelos vistos, o processo em causa é de tal ordem complexo que, ao contrário de julgamentos judiciais, investigações criminais, comissões de inquérito, escrituras públicas, e outras coisas de lana-caprina, não foi possível realizar-se por causa da pandemia.

Ou seja, em plena pandemia foi possível diligenciar uma investigação criminal que levou à detenção de Joe Berardo. Mas, não foi possível que o dito Conselho decidisse se o sujeito fica ou não com as medalhas.

Sinceramente, Senhor Presidente da República, este tipo de explicação já começa a cansar…