Às mulheres do matadouro

Num trabalho muuiiito precário que tive há anos, tocou-me, certo dia, ir em serviço a um matadouro.  Por essa época, eu fazia parte de uma equipa que executava (termo apropriado) no terreno aquilo que os piores criativos publicitários de todos os tempos haviam concebido nos seus cubículos bafientos de humidade e fumo de tabaco. Eram campanhas portentosas, originalíssimas, como a que se fez para certa marca de palitos, cujo slogan era “X, o palito de design europeu”. Abstenho-me de dizer a marca porque, para meu espanto, ainda existe.

As criaturas criativas tinham varrido o Portugal esquecido, aquele ao qual jamais chegavam propostas de publicidade televisiva, e tinham arrebanhado contratos a dar com um pau. Pelas encostas da Alcongosta, no Fundão, em Castelo Branco, Vila Velha de Ródão, Vila de Rei, até nas terreolas que tanto nos custava descobrir no mapa, não faltava quem quisesse anunciar o seu negócio, levantado do chão com mãos calejadas de trabalho ou alavancado às pressas por um fundo comunitário. Vai daí, toca a contratar (é uma forma de dizer) uns quantos imberbes desempregados e a fazê-los correr as terras da Beira Baixa, munidos de esboços de guião e câmara de vídeo, muita paciência e ainda mais ingenuidade. O salário era curto, mas no fim de cada semana não me faltavam as histórias para contar aos amigos. [Read more…]