As más pessoas e as boas obras

Um velho amigo aparentemente desaparecido, porque a morte é uma aparência desmentida pela memória, contou-me que, estando em Paris, nos anos 60, teve oportunidade de conhecer um escritor que idolatrava, tendo pedido a um amigo comum que lho apresentasse. Esse amigo não o fez, alegando que o escritor era uma pessoa extremamente desagradável, o que iria fazer com que o meu amigo, por causa da pessoa, passasse detestar o escritor.

Não há cirurgia que seccione as facetas das pessoas de modo a conseguirmos esquecer aquilo que é censurável ou condenável.

Hoje, Maradona faz 60 anos. Confesso que sempre o detestei, também por jogar pela Argentina, a selecção que derrotou a minha Holanda de 1978 e deu glória a um ditador execrável. Depois, o próprio carácter de Maradona fez o suficiente para que o detestasse, levando-me a ser adepto de qualquer clube ou selecção que fosse seu adversário. Penso, aliás, que não gostaria de ir beber um copo com Diego.

A verdade, no entanto, é que Maradona é o melhor jogador que vi nos quarenta anos que levo de espectador e apaixonado do futebol. É igualmente verdade que, desejando sempre que perdesse, fiquei muitas vezes maravilhado com as obras de arte que eram os passes, as fintas, os golos, o mero gesto de parar a bola. [Read more…]